Em uma era na qual estúdios de cinema e artistas fazem questão de reverenciar comunidades de fãs, o cineasta Todd Phillips (“Se Beber, Não Case!”) toma outro caminho ao explicar a razão de ter escolhido dirigir “Coringa”, a reimaginação perturbadora da origem do vilão do Batman.
“Filmes de heróis estão tomando conta da indústria e eu estava procurando uma maneira de fazer um longa que não desaparecesse em pleno ar”, revela Philips. “Para ser sincero, não gosto de filmes de HQs. Estaria mentindo se falasse que não foi para chamar a atenção das pessoas.”
O diretor conseguiu seu objetivo. O filme foi um dos mais esperados do ano. Não apenas por ter vencido o Leão de Ouro no prestigiado Festival de Veneza, mas por ser um drama pesado com classificação indicativa para maiores de 16 anos, algo incomum para produções baseadas em gibis.
Na nova origem, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é um aspirante a comediante que sobrevive fazendo bicos como palhaço numa Gotham City decadente no fim dos anos 1970.
O roteiro de Phillips e Scott Silver (“O Vencedor”) mostra um personagem com distúrbios mentais que comete uma série de assassinatos após várias tragédias geradas por crises econômicas, abusos e incapacidade de se relacionar.
“Não queria mostrar Arthur caindo em um tonel de ácido e aparecendo com a pele branca. O objetivo é entender o porquê daquele sujeito se maquiar como um palhaço no fim”, explica o diretor.
A trama foi recebida com reações extremas. Alguns críticos americanos acusaram “Coringa” de ser uma apologia ao movimento “incel”, termo oriundo dos “celibatários involuntários”, homens que não conseguem se relacionar e culpam a sociedade e, principalmente, as mulheres por suas inadequações.
“Coringa quer ser um filme sobre o vazio da nossa cultura. Em vez disso, é um exemplo primário e perigoso dela”, destacou a revista Time. A Vanity Fair disse que o longa pode ser “um panfleto irresponsável”.
“Espero que o filme seja um exame”, confirma Todd Phillips. “Conversamos frequentemente sobre a ponta do iceberg, mas nunca falamos sobre as coisas que nos levam para a ponta do iceberg, como o sistema em que o personagem é jogado no filme...”.
“Aqueles que não sabem distinguir o certo do errado fazem isso com qualquer coisa, letras de música ou trechos de livros. Não acho que seja responsabilidade de um cineasta ensinar moralidade ou a diferença entre o certo e o errado. Acho que isso é óbvio”, completou Phoenix.
VIOLÊNCIA
“A violência no meu filme é mais visceral, porque queria ter um impacto, já que não são tantas cenas. Outros filmes matam 40 mil pessoas e ninguém nem se importa, porque está anestesiado. A violência que acontece em ‘Coringa’ é para o espectador sentir”, finalizou o prestigiado diretor.