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Nº 5852
Caderno B Folguedos alagoanos foram homenageados durante XVII Congressso Brasileiro de Folclore

Asfopal lança Comenda Ranilson França e abre celebrações aos 35 anos da associação

Caderno B conversou com representantes do folguedo alagoano e da Asfopal sobre comemorações

Por Victor Lima | Edição do dia 16/10/2019 - Matéria atualizada em 17/10/2019 às 14h38

/Folguedos alagoanos foram homenageados durante XVII Congressso Brasileiro de Folclore
/Folguedos alagoanos foram homenageados durante XVII Congressso Brasileiro de Folclore | Foto: Leonardo André
/Asfopal
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/Palhaço é um dos personagens do Guerreiro | Foto: Leonardo André
/Mestra Marlene - Guerreiro São Pedro Alagoano | Foto: Acervo Pessoal
/Guerreiro São Pedro Alagoano

Espelhos, fitas, contas de aljôfar, enfeites de árvore de natal, diademas, coroas, guarda-peitos, chapéus - esses, possivelmente, são os maiores representantes do nosso folclore - em formato de igrejas, palácios e catedrais. São muitas as referências visuais que representam os folguedos de Alagoas e um sentimento leva o movimento à resistência do tempo: o amor pela cultura popular.

“Quando eu comecei a brincar guerreiro, eu era muito jovem, nova, com 9 anos. Até os meus 14 anos eu brinquei, aprendi bastante coisa de guerreiro. Eu fiquei um tempo sem brincar, mas, depois de um tempo, lá pelos meus 40 anos, eu comecei a brincar nesse guerreiro do Seu Juvenal, domingo, que ele era o dono e o mestre do guerreiro São Pedro Alagoano. Aí ele adoeceu, por sinal, ele está acamado, e ele me deu esse guerreiro de presente e eu estou mantendo ele como posso. Tirando do meu bolso, do bolso do meu esposo, do nosso dinheirinho que a gente tem pra manter. Gosto da brincadeira, é uma brincadeira saudável, boa, bonita”, conta a Mestra Maria Helena da Silva, conhecida como Mestra Marlene, que recebeu o prêmio de patrimônio imaterial em nome de todos os grupos de Guerreiro alagoanos no XVII Congresso Brasileiro de Folclore, realizado no fim de setembro.

A mestra fala com orgulho de seu grupo e das apresentações que fazem. “Eu tenho o meu grupo completo. Tenho duas rainhas, dois embaixadores, o rei, a estrela de ouro, a minha equipe com palhaça, tenho tudo. Então, eu sempre me apresento pela Ponta Verde, Jaraguá, por aí, mas eu tiro tudo do meu bolso pra manter o Guerreiro São Pedro Alagoano”, destaca.

Guerreiro São Pedro Alagoano
Guerreiro São Pedro Alagoano - Foto: Acervo pessoal
 

O Congresso no qual os guerreiros foram agraciados, com participação de pesquisadores e estudiosos culturais de todo o Brasil, foi realizado pela primeira vez em Alagoas. Com o tema “Folguedos Populares: Tradicionalidade e Dinamicidade”, o evento teve conferências, palestras, debates e agraciou a todos os presentes com apresentações culturais carregadas do que os mestres chamam de ‘alagoanidade’.

“A minha experiência pessoal no Congresso é muito peculiar, principalmente em relação a Alagoas, porque foi a primeira vez que o nosso estado sediou esse evento criado em 1951. Alagoas durante todos esses anos nunca teve a oportunidade de ser o Estado que sediaria esse evento e estiveram presentes 22 estados da federação. Foi uma das melhores experiências da minha vida, principalmente no tocante à valorização do reconhecimento da importância que Alagoas tem para o Brasil no folclore, na cultura popular. Tenho certeza que outros eventos virão, mas com a relevância que esse teve, dificilmente, porque foi um marco. Alagoas viverá agora um novo momento da cultura folclórica local”, afirma Olegário Venceslau, presidente da Comissão Alagoana de Folclore (CAF).

Ele ainda destacou a renovação social que tem acontecido no movimento. “Eu percebo que essa renovação é de novas pessoas surgirem com interesse na causa é algo latente, notório. Agora, sobre a dinâmica, mudança no perfil da estrutura folclórica, nós prezamos pelo tradicionalismo. As novas pessoas vêm para agregar, somar esforços, para que as nossas tradições se perpetuem por mais algumas gerações”, explica.

Olegário conclui fazendo um apelo. “A mensagem que eu gostaria de deixar é que o meio circense, os alunos das nossas escolas, tenham mais sensibilidade com a causa da cultura popular. Os alunos de hoje é que amanhã serão os pesquisadores, amanhã serão os circenses do nosso Estado. Cabe a eles, a essa geração de adolescentes e jovens, se interessar pela nossa cultura. Alagoas tem o privilégio de ter entre os seus filhos ilustres grandes pesquisadores da cultura popular brasileira, como o Théo Brandão, o próprio Ranilson França, meu conterrâneo da Chã Preta Pedro Teixeira de Vasconcelos, o professor José Maria Tenório Rocha. Eles são espelho para que hoje os estudantes e, principalmente, a classe circense do nosso Estado possam se espelhar para que esses estudantes de hoje se tornem também grandes pesquisadores alagoanos”.

Comenda Ranilson França de Cultura Popular

Asfopal
Asfopal - Foto: Leonardo André
 

Com o intuito de enaltecer os grandes mestres da cultura popular, a Associação dos Folguedos Populares de Alagoas (Asfopal), que já foi presidida e criada por Ranilson França, concederá essa homenagem a ele e a tantos nomes importantes da cena local, que nem sempre recebem as devidas honrarias. É o que explica o assessor de comunicação da Asfopal, João Lemos, ao falar sobre a criação da Comenda Ranilson França de Cultura Popular.

“A Comenda foi idealizada para ser a maior premiação dos folguedos do Estado. Nós temos outras premiações, mas elas não são específicas. Então, a gente quer homenagear esses homens e mulheres que, apesar das dificuldades, da rusticidade, são os mestres da cultura popular, da autenticidade, e transferem isso para as brincadeiras, contando, por meio delas, suas glórias, tristezas e alegrias, eternizando isso na essência da nossa cultura”.

A lista dos que serão premiados na noite do dia 5 de novembro, no anexo do Teatro Deodoro, ainda será definida, mas a Comenda pretende destacar 25 personalidades, sendo 10 mestres e outros 15 divididos em três categorias: comunicação social, pesquisadores e artistas contemporâneos.

“Um detalhe interessante é que até as medalhas da nossa premiação são pensadas com o enfoque em enaltecer o popular. Elas serão confeccionadas pela Mestra Ana Alves Ferreira e serão feitas de barro”, revela o representante da Asfopal, que conclui: “É muito bonito quando a gente vê alguém reconhecendo o Guerreiro ou participando e se sentindo pertencente. É essa essência das nossas manifestações populares que a gente quer enaltecer e preservar, relembrando sempre nomes como o de Ranilson e Josefina Novaes, pessoas que foram fundamentais para que a Asfopal chegasse onde chegou e no fomento também à nossa cultura”.

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