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Academia Alagoana de Letras comemora 100 anos
Jubileu de jequitibá é comemorado com olhos para o futuro, afirmam imortais


Sob a guarda de Jorge de Lima, a Academia Alagoana de Letras comemorou jubileu de jequitibá no dia 1 de novembro. Os cem anos da instituição, a segunda mais antiga de Alagoas, é, de acordo com o presidente Alberto Rostand Lanverly, uma oportunidade para refletir os avanços dentro da própria Academia e na sociedade. É, ainda, momento de reiterar a relevância da instituição, que assumiu há um século a missão de salvaguardar o conhecimento que faz do povo alagoano o que ele é.
A AAL foi fundada em 1919 e possui 40 cadeiras, consequentemente, 40 patronos. Nomes importantes da história alagoana e que viveram num período anterior ao da fundação da instituição literária. Atualmente, 38 cadeiras estão ocupadas por imortais. Tal qual a Academia Brasileira de Letras (ABL), a alagoana tem como lema os dizeres “Ad immortalitatem”, que significa “Rumo à imortalidade”. A Academia foi fundada às 13 horas, no Teatro Deodoro, tendo como fundador o senhor Amphilóphio de Oliveira Mello, que usava o pseudônimo Jayme de Altavila.
Sendo a entidade literária máxima do estado, que trabalha o desenvolvimento e a valorização da literatura alagoana e brasileira, foi fundada por uma cúpula de intelectuais e foi presidida pelo médico Moreira e Silva. Na ocasião, Arthur Accioly, usando a palavra, indicou Moreira para presidir a reunião que foi convocada para a criação de um centro de letras, declarando que, fazendo a aludida indicação, não queria homenagear o secretário de Estado, ali representante de Fernandes Lima, que na época era governador.
“Afirmou que, lembrando o Dr. Moreira e Silva para presidente da sessão que ia realizar-se, prestava uma homenagem ao ilustre cultor [cultivador] das letras, já conhecido fora dos nossos limites. Aceita unanimemente a indicação, assumiu a presidência o Dr. Moreira e Silva, o qual, depois de agradecer a distinção que lhe fora conferida, convidou para secretários os senhores Lima Junior e Jayme d’Altavila, dando a palavra ao Sr. Guedes de Miranda para expor os fins da reunião”, consta na ata de fundação, que continua.
Os registros revelam ainda que Guedes de Miranda afirmou que a força de uma nação reside “mais no fulgor das suas letras” que “na possança [potência] dos seus exércitos”, ilustrando a grandeza do movimento intelectual de Alagoas.
“Lamentando que, entre nós, ainda não houvesse um centro literário, nos moldes dos que existem em quase todas as circunscrições da República. Terminou dizendo que essa falta ia ser reparada na reunião que ali efetuara e na qual tratar-se-ia da fundação de uma associação de letras, prestigiada pelo elemento oficial, excelentemente representado na ocasião”.
A narrativa da ata da primeira reunião revela os nomes dos intelectuais presentes à época: “Moreira e Silva, por si e representando o Dr. Fernandes Lima ; Arthur Accioly, Jayme d’Altavila, por si e como representante dos senhores Moreno Brandão, Demócrito Gracindo e Auryno Maciel; Lima Junior, por si e pelo padre Julio de Albuquerque e Drs. Leonino Corrêa, Joaquim Diégues e Diégues Júnior; Guedes de Miranda, por si e representando o Cônego Machado de Mello e Dr. Orlando Araujo; Virgílio Guedes, Agripino Ether por si e como representante do Dr. L.J. da Costa Leite, e do Dr. Gilberto Andrade; Cipriano Jucá, Rodrigues de Mello, Barreto Cardoso; Jorge de Lima, Povina Cavalcante, Theótimo Ribeiro, Mário Wanderley, Tito de Barros, Theodoro Palmeira, Luiz Accioly, Ranulpho Goulart, Fernando de Mendonça, H. B. de Araújo Soares e Carlos Garrido, este por si e como representante de José Avelino”.
Ao fim da leitura do expediente, o presidente pôs em discussão o nome a ser dado ao centro de que se tratava, bem como a organização a ser dada ao mesmo. Pedindo a palavra, Jayme de Altavila bateu-se pela fundação de uma Academia de Letras, sem intuitos de imortalidade, mas com semelhança das existentes em quase todos os estados do Brasil.
“Secundaram os mesmos argumentos os doutores Guedes de Miranda e Tito Barros; e ninguém mais se pronunciando sobre o ponto em discussão esta foi encerrada. Procedendo à votação, foi verificado que teve aprovação unânime a criação de uma Academia Alagoana de letras, que o Sr. Presidente declarou inaugurada, sendo considerados seus sócios fundadores os presentes à reunião e os que nela se fizeram representar”, conta o relato da reunião.
Também entrou em discussão o número de cadeiras da Academia, falaram a respeito os senhores Mário Wanderley, Povina Cavalcante e Tito de Barros. “Submetido a votação foi constatado que, por unanimidade de votos, o número de quarenta foi o fixado para as cadeiras, tendo cada uma por patrono um alagoano ilustre, já falecido. Em seguida foi pelo senhor presidente nomeada uma comissão composta dos senhores Povina Cavalcanti, Guedes de Miranda e Theotimo Ribeiro para elaborar o projeto de estatutos, a ser discutido na próxima sessão, marcada para às 19 horas do dia 8 do corrente mês, no mesmo local”, diz.
Ao longo da história, a Academia teve 18 presidentes, sendo alguns deles os ilustres Moreira e Silva (1919-1920); Demócrito Gracindo (1920-1927); Guedes de Miranda (1927-1931); Barreto Cardoso (1931-1936); Jayme de Altavila (1936-1937); Augusto Galvão (1937-1946); Orlando Araújo (1946-1953); Augusto Galvão (1953-1958); A. S. de Mendonça Júnior (1958-1961); Jayme de Altavila (1961-1964); José Maria de Melo (1964-1983); Carlos Moliterno (1983-1998); Ib Gatto Falcão (1998-2000 e 2000-2002); Milton Hênio de Gouveia e Dom Fernando Fernando Iório Rodrigues. Atualmente, a Academia é presidida pelo engenheiro Alberto Rostand Lanverly.
AO FUTURO
O tempo, por si só, é um elemento desafiador na manutenção da relevância de uma organização como a Academia de Letras. A AAL chega ao Jubileu de Jequitibá refletindo sua época, inclusive, com mais mulheres ocupando as cadeiras e com maior proximidade com a sociedade.
Dos 161 imortais que passaram pela Academia ao longo desses cem anos de existência, somente 19 são mulheres. No começo deste ano, no dia 13 de março, quando foram abertas as comemorações do centenário, a Academia fez o regsitro da quarta fotografia oficial de membros. O momento, histórico por natureza, contou com mais um marco progressista. Pela primeira vez, uma fotografia oficial da AAL traz mulheres como membros. A fotografia também foi feita por uma mulher, a fotógrafa Millena Lima, que capturou o momento que ficará na história da entidade. As outras três imagens oficiais datam de 1919, 1929 e 1969. O último registro foi feito meio século atrás