BIENAL ILUSTRADA
Além do novo formato, evento tem espaço inédito para ilustradores de Alagoas; um deles faz ilustrações para quadrinhos da Marvel
Por Victor Lima | Edição do dia 06/11/2019 - Matéria atualizada em 06/11/2019 às 14h57
As cerca de 40 mil pessoas que passaram pela Bienal até essa terça (5) perceberam que a nova distribuição dos eventos não é a única novidade. Os artistas locais também ganharam um espaço só deles para exibir seus trabalhos, como é o caso dos ilustradores alagoanos que foram selecionados para o Pina Ilustra, projeto de incentivo à produção alagoana de ilustração e história em quadrinhos.
A seleção dos artistas ficou por conta do Studio Pau Brasil, das amigas Mariana Petrovana e Janaina Araújo. “A gente procurou artistas que já tinham material gráfico pronto, e o critério foi a proximidade do traço em relação a escola estilística. O traço do quadrinho e da ilustração brasileira é muito miscigenado, muito misturado com diversas influências. A gente procurou a familiaridade da pessoa com o traço mais próximo. Por exemplo, se o traço é muito próximo do mangá, a gente caracterizou como mangá. Os familiarizados com Barbera, caracterizamos como cartoon, pelas formas geográficas. E o pessoal que desenha muito ‘comics’, em relação ao estilo norte-americano. Categorizando foi mais fácil. Como a gente já tinha organizado alguns eventos, estávamos familiarizados com o trabalho dos 38 artistas que entraram”, conta a bióloga e designer Janaina Araújo.
Para utilizar o espaço de dez lugares que estão disponíveis, a solução foi revezar os artistas. “A gente só tinha dez lugares e não queríamos abrir mão de ninguém. Fizemos uma escala, até pra não ficar pesado, de 10h da manhã às 22h da noite. O pessoal vai alternando, de acordo com o horário que for mais conveniente pra eles”, explica Janaina.
Mariana e Janaina são premiadas pelos trabalhos em mangás. A segunda também é uma das expositoras da Pina Ilustra.
“Começou como um hobby, organizando eventos em Maceió, e a gente ficava pintando num papel de quarenta quilos. Então, boa parte dos eventos em cartaz eram tradicionais. A gente fazia as pinturas e usava para divulgação do evento. A minha característica narrativa é ter a influência regional. Eu fiz um mangá sobre a Iemanjá na época colonial e a história que eu estou preparando para o ano que vem para levar para o festival internacional de quadrinhos se passa na Ufal, com dois universitários. Foi uma coisa que eu aprendi com o professor: sempre tratar aquilo que está ao teu redor, levar como característica para a vida. Mostrar que, de onde você veio, também tem vida.”
O estudante de design Pedro Oliveira está participando de uma exposição pela primeira vez. Em seus mangás, que têm traços inspirados por animações de sucesso, o jovem de 20 anos procura trazer o cotidiano colegial ou relatar universos que o inspiram. “Os meus mangás são bem livres, não têm um tema específico. Eu geralmente me inspiro em artistas que eu acompanho muito e tento trazer o traço deles para o meu trabalho. O traço evoluiu muito e eu acabei me distanciando até do que eles fazem, criei algo meu mesmo. Animes como Yu-Gi-Oh!, Naruto, Pokemón me inspiraram bastante também. Eu entro muito na área de moda, que é o que eu quero fazer como designer, e meu traço está evoluindo muito para essa área do audiovisual. Eu vou tentar trazer o meu trabalho para o cinema, como animação, e eu busco trazer essa linguagem de HQ para agregar ao meu trabalho. Trago muito o cotidiano colegial, garotas fortes, algo de moda ou a coisa mais fantasiosa e a cultura japonesa”, expõe.
ALAGOANO “DAS GALÁXIAS”
Entre os artistas da exposição, também está Rodrigo Catraca. O alagoano de 33 anos é formado em engenharia mecânica, mas largou a carreira em 2013 para se dedicar apenas à arte.
“Desenhar sempre foi uma segunda profissão. Trabalhei durante muito tempo em outra área, fiquei dez anos na Petrobras, na engenharia mecânica, e aí, eu sempre trabalhei com ilustração paralelo. Quando cansei, resolvi ‘resetar’ minha vida, saí de tudo, e voltei aos desenhos”, conta.
Rodrigo não é estreante num evento dessa magnitude, porém, destaca o fato novo. “Não é a primeira Bienal que eu faço, mas, é a primeira vez que a Bienal de Alagoas dá um espaço específico para o artista. Então, é sensacional a gente poder mostrar que tem gente no Estado que trabalha com isso, que vive disso. Eu lancei uma revista em quadrinho na Bienal de 2017, mas foi com um estande. Não tinha um local específico para o artista. Já fiz Bienal daqui, de Recife”, relata.
A descoberta de seu trabalho por uma das gigantes do entretenimento aconteceu de forma mais casual do que se pode imaginar.
“Atualmente, eu estou fazendo ilustrações para o Guardiões da Galáxia, da Marvel. O contato com eles foi bem rápido, porque, rede social, um dia alguém chega no seu Instagram, no Facebook, oferecendo uma oportunidade, falando ‘pô, gostei do seu trabalho. Você aceita fazer isso, fazer aquilo?’. Acaba criando uma cartela de clientes, vamos dizer assim, dessa forma, eles me descobriram”, finalizou o alagoano.