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EDWARD NORTON LANÇA ‘BROOKLYN: SEM PAI NEM MÃE’
Por CLAUDIA SARMENTO/ ESPECIAL PARA O GLOBO | Edição do dia 03/12/2019 - Matéria atualizada em 03/12/2019 às 06h00
LONDRES - Edward Norton leu o livro “Brooklyn: sem pai nem mãe” logo depois do lançamento, em 1999. Fascinado pela história do detetive que sofre da síndrome de Tourette, procurou o autor e propôs uma adaptação para o cinema, transportando a trama para 1957. Recebeu a bênção do escritor, mas demorou duas décadas para terminar o projeto. Foi a ascensão de Donald Trump que deu ao ator a certeza de que sua obra teria um outro significado. Escrito, produzido, dirigido e estrelado por Norton, “Brooklyn” estreia na próxima quinta-feira. O thriller noir gira em torno de um megaprojeto de urbanização no Brooklyn, que levará ao despejo de milhares de famílias negras. Alec Baldwin é Moses Randolph, um político corrupto, determinado a modernizar Nova York passando por cima das populações que ele considera invisíveis. Norton vive o solitário detetive Lionel Essrog. Ele tem um distúrbio caracterizado por tiques motores e vocais. Não tem controle sobre o que fala, mas sua memória fotográfica permite que junte as peças de um quebra-cabeças que só ele enxerga. O pano de fundo é a discussão sobre poder e a expansão de uma cidade com base em brutalidade e racismo. Influenciado por clássicos como “Chinatown”, assim como pela crítica social de Spike Lee, o ator acredita que o longa hoje faz muito mais sentido do que quando Obama estava na Casa Branca. O público, avalia ele, está mais envolvido em reflexões sobre abuso de poder. “Quando terminei o roteiro, Obama estava sendo eleito para o segundo mandato. Pensei que talvez a gente tivesse superado discussões como tensões raciais, medo do autoritarismo”, conta ele. “Então veio 2016 (eleição de Trump) e tudo de mais horrível voltou, tornando meu filme relevante”, acrescenta. O diretor admite que foi desgastante assumir tantas funções na produção, mas o fato de filmar na cidade em que vive facilitou. O elenco traz ainda nomes como Willem Dafoe, Bobby Cannavale e Leslie Mann. A ideia sempre foi fazer um longa com muitas cenas externas para que o público pudesse imergir em uma metrópole em mutação. Norton destaca a fotografia de Dick Pope como a peça essencial que lhe permitiu realizar a obra com a qual sonhava. Juntos, viram imagens de época e quadros que sempre emocionaram o britânico Pope, alucinado pelo pintor Edward Hopper, como se define. “Nenhum outro artista me influenciou tanto quanto Hopper. Ele retratou um mundo de alienação, desesperança, solidão. É disso que o longa trata”.