Era um fim de tarde de um domingo modorrento, que se presta para um bom livro e todo ócio possível e necessário, antes do recomeço de um moto-contínuo. Contrariando todas as possibilidades domingueiras, abrindo mão da minha rede-imã, fui ao Teatro de Arena assistir ao espetáculo/show/performance “Tubo de Ensaio”, um voo solo protagonizado por uma artista completa, plena e absolutamente verdadeira em cena, a admirável Ana Galganni.

Fui e não me arrependi! Fui, e, entre tantas preciosidades encontradas, percebi que um modorrento domingo também pode se transformar em uma noite especial e inesquecível. Para tanto, é preciso ter um Tubo de Ensaio acontecendo em minha tomada de decisão; é preciso ter uma Ana Galganni atuando, com absoluta desenvoltura, em gêneros que se amalgamam entre si, em números que privilegiam música, teatro e circo. Cenas que provocam suspense e leveza, alegria e melancolia, emoção e pragmatismo, tudo sob a luz de uma veracidade cênica absoluta e transparente, pela entrega de uma artista que se doa por inteiro e, participativamente, tem o público como cúmplice do inusitado que ela propõe o tempo todo.

Voltei para minha rede com a alma plenamente nutrida de arte, no seu mais nobre significado! Feliz com o que me foi ofertado, mas lamentando a quase certeza de que Tubo de Ensaio não cabe no nosso pequenino aquário, onde peixinhos e, sobretudo peixões perfumados, não têm paladar para o que é realmente bom, pois mal sabem que não passam de tubos de passagem. Vislumbro Ana Galganni e o seu singular Tubo de Ensaio em outras latitudes, onde o público saberá reconhecer e aplaudir a real dimensão de um grande espetáculo! O show tem concepção e roteiro da própria Ana Galganni, direção e figurino de Julieta Zarza, iluminação de Arthur Martins, sonorização de Alessandro Tenório e produção da Divina Home.

* É músico e jornalista.