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Nº 5856
Caderno B

Confira a programação do cinema (28/12/2019)

NELSON RODRIGUES VAI PARA HOLLYWOOD

Por RODRIGO SALEM/ FOLHAPRESS | Edição do dia 28/12/2019 - Matéria atualizada em 28/12/2019 às 06h00

Neto do dramaturgo articula exportação de obra do avô
Neto do dramaturgo articula exportação de obra do avô - Foto: Divulgação
 

Maurício Mota se mudou de Vitória da Conquista, na Bahia, para o Rio de Janeiro em 1989, aos dez anos. Acompanhado da mãe, a professora e autora Sonia Rodrigues, e do pai, o geofísico Ubirajara Mota, ele sabia que o pai de sua mãe era alguém que escrevia, mas não fazia ideia da importância do parente morto em 1980. “Foi quando descobri que meu avô materno era Nelson Rodrigues”, diz. Além do orgulho, Mota teve uma sensação esquisita. “Como Nelson Rodrigues havia feito tudo e precisou ralar tanto? Por que minha mãe precisa jogar nas 11 posições e não consegue pagar as contas com a escrita?”, questionou. “Isso definiu minha carreira.” Depois de ter dissecado os processos da indústria cultural, ele está cada vez mais perto de conseguir dar vazão à obsessão da infância. Desde que se mudou para Los Angeles, há sete anos, passou a visitar e estudar o espólios de escritores como Agatha Christie, J. R. R. Tolkien e John Le Carré para pavimentar o potencial da marca Nelson Rodrigues na principal indústria de entretenimento. “É um processo demorado. Não adianta querer ser arrogante e achar que todo mundo conhece”, afirma Mota, que diz ser só “um produtor normal” ao adaptar as obras do espólio, presidido por sua mãe. “O objetivo é proteger a obra e manter a relevância. Será uma vitória deixá-lo ainda mais importante daqui a 40 anos. Só descobriremos novos Nelson Rodrigues se as pessoas lerem Nelson Rodrigues.” Maurício Mota lembra o chamado universo cinematográfico da Marvel como grande inspiração. “O processo de construção é o mesmo da visão da Marvel. Desenhamos e estudamos tudo”, conta ele. A ideia é adaptar várias obras do “Rodriguesverso” ao longo dos anos. O pontapé inicial dessa invasão será a adaptação de “O Beijo no Asfalto”, peça escrita por Rodrigues em 1960. A atriz Viola Davis será coprodutora do projeto após uma negociação que durou um ano e meio. “Ela não conhecia o texto, mas foi incrível ver sua reação à medida que lia o roteiro. Temos uma atriz que só pode ser comparada, hoje, à Meryl Streep”, afirma ele. O projeto inclui uma peça para ser encenada em 2020, possivelmente no Mark Taper Forum, em Los Angeles, e uma transposição para filme ou minissérie. “Não é à toa que ‘O Beijo no Asfalto’ foi escolhido. É atual, fala sobre fake news e homofobia”, diz. Mas o percurso até chegar a Viola Davis não foi curto.

Mota se formou em publicidade no Rio, há 20 anos, e com a mãe, criou o “Autoria”, jogo que estimula a escrita criativa baseado em RPG. Começou vendendo o produto em escolas. Virou um fenômeno. A iniciativa de usar RPGs como instrumento educacional rendeu um convite participar de uma conferência em Nova York, aos 21 anos. “Voltei para o Brasil para me dedicar ao futuro da narrativa”, diz ele, que logo criou uma série interativa online para acompanhar o programa “Os Maias”, da Globo. O trabalho pioneiro em transmídia –que se espraia por várias plataformas– chamou a atenção do Massachusetts Institute of Technology, que chamou Mota para um evento de duas semanas em Boston, em 2007, chamado Futuros do Entretenimento. “Fiquei num laboratório de mídia conversando e estudando ‘Harry Potter’, ‘Star Wars’ e a cultura dos fãs. Os americanos não têm um décimo da nossa imaginação, mas compensam com método e processo. Por isso que dominam a cultura pop”, diz.

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