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Nº 5694
Caderno B

CAVALO REPRESENTA NOVO MOMENTO PARA AUDIOVISUAL ALAGOANO

Longa é o primeiro alagoano fomentado por edital público e estreia na Mostra Tiradentes, em Minas

Por MAYLSON HONORATO/ COM ASSESSORIA | Edição do dia 15/01/2020 - Matéria atualizada em 15/01/2020 às 06h00

Filme de Rafhael Barbosa e Werner Salles fará pré-estreia na tradicional mostra mineira
Filme de Rafhael Barbosa e Werner Salles fará pré-estreia na tradicional mostra mineira - Foto: Vanessa Mota
 

2020 promete ser o ano da colheita para o sacrificado audiovisual alagoano, que de tempos em tempos precisa provar o seu valor. Cavalo, longa-metragem de Rafhael Barbosa e Werner Salles, é o primeiro longa-metragem fomentado por um edital público em Alagoas e terá sua pré-estreia na Mostra de Cinema de Tiradentes, uma das mais importantes do país, que ocorre na cidade histórica mineira entre 24 de janeiro e 01 de fevereiro. Cavalo foi selecionado entre 178 longas inscritos, e vai compor a Mostra Temática, que propõe um diálogo das produções com o tema central da edição, que é “A imaginação como potência”. A exibição acontecerá no dia 01 de fevereiro.

O projeto foi contemplado no Prêmio Guilherme Rogato, da prefeitura de Maceió, e contou com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual – FSA para sua realização. Cavalo representa um marco para a política cultural do estado. Com direção de Rafhael Barbosa (O que Lembro,Tenho) e Werner Salles Bagetti (Exu – Além do Bem e do Mal) o filme utiliza uma linguagem híbrida, entre a ficção, o documentário e a experimentação, para falar sobre a memória da ancestralidade no corpo. “Desde ‘Exu’ (2012) temos desenvolvido um projeto artístico que se relaciona com os arquétipos dos orixás e das entidades. Uma pesquisa de oito anos que influenciou na concepção do nosso primeiro longa. Também estávamos estudando a história do Quilombo dos Palmares, uma das maiores narrativas de resistência do mundo, quando entendemos que seria instigante investigar os ecos desse passado no contemporâneo. A ancestralidade foi o caminho encontrado para expressar essa busca”, explica Rafhael Barbosa, responsável pelo roteiro e direção do filme, ao lado de Werner Salles. “Escolhemos o corpo como signo mais proeminente do filme. Nossas personagens são sete jovens artistas, rappers, Bboys e Bgirls, dançarinos e dançarinos de diferentes gêneros. E alguns deles são cavalos (como são chamados os médiuns na Umbanda e o Candomblé), condição que potencializa a capacidade de expressão corporal” completa Werner. “O contato com as histórias das personagens transformou o roteiro do filme. Nas audições fomos confrontados com relatos muito ricos, histórias poderosas. Enxergamos nessas sete trajetórias elementos que se complementam para criar uma só narrativa”, diz Rafhael Barbosa. Compõem o elenco de protagonistas Alexandrea Constantino, Evez Roc, Joelma Ferreira, Leide Serafim Olodum, Leonardo Doullennerr, Roberto Maxwell e Sara de Oliveira. O grupo foi selecionado após um teste de elenco, e passou a conviver num intenso processo de preparação. Uma imersão artística que é mostrada no filme como um de seus eixos narrativos. Num processo de criação em coautoria, as personagens foram provocadas a construir performances inspiradas pelo arquétipo do cavalo e suas muitas simbologias.

Para Werner Salles, o filme também é um mergulho nas possibilidades do inconsciente. “Cavalo também é um arquétipo do inconsciente, uma metáfora do corpo, da força, da psique. E o filme dialoga diretamente com essas questões. A intuição foi o guia, não só nas performances das personagens, mas desde a concepção até a montagem final. Somos todos cavalos nesse processo.”, explica. Segundo os diretores, apesar da linguagem provocadora, Cavalo tem a intenção de alcançar uma trajetória popular.

“O filme não tem uma narrativa clássica. Seguimos o caminho do cinema de poesia, mas sempre com uma vontade de se conectar com o público por meio da sensibilidade. Num momento em que a intolerância religiosa e os diversos preconceitos avançam de maneira preocupante no país, Cavalo é um grito poético que deve reverberar”, diz Rafhael.


COLHENDO FRUTOS

Além de Cavalo, outros três filmes (curtas) alagoanos foram selecionados para a Mostra Tiradentes, ratificando a boa fase do cinema em Alagoas. Foram selecionados Paulo Silver, com Trincheira; Nilton Resende, com o filme A Barca; e Ulisses Arthur, com Ilhas de Calor.

Para a antropóloga e realizadora audiovisual Beatriz Vilela, é só o começo.

“O ano passado começou com a viabilização de um edital de 6 milhões, que abriu a possibilidade de investimento em curtas, longas, cineclubes, projetos de capacitação, festivais de cinema. Todos esses projetos aprovados começarão a ser executados a partir de 2020, porque grande parte já recebeu o valor do edital. Tudo isso é fruto do trabalho de Vinícius Palmeira e Felipe Guimarães”, pontua. “Outro importante edital foi publicado pela prefeitura de Arapiraca, que viabiliza produções audiovisuais no interior. Juntos, esses dois editais resultam em um investimento de cerca de 7 milhões, o que vai mobilizar toda uma cadeia de trabalhadores da cultura e vai injetar dinheiro na economia”, diz.

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