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Nº 5693
Caderno B

OS FILHINHOS DA MAMÃE VÊM AÍ

Comendadora do Filhinhos da Mamãe comemora homenagem a Alex Teixeira Barbosa e relembra a história do tradicional bloco carnavalesco de Maceió

Por MAYLSON HONORATO/ ESTAGIÁRIO | Edição do dia 18/01/2020 - Matéria atualizada em 18/01/2020 às 06h00

Foto: Reprodução
 

Foto: Felipe Camelo/Arguivo GA
 

Maceió, 15 de janeiro de 2020  
Comendadora do bloco Filhinhos da Mamãe, Maria Beatriz Brandão de Sá (Tizinha). Alagoas - Brasil.
Foto: ©Ailton Cruz
Maceió, 15 de janeiro de 2020 Comendadora do bloco Filhinhos da Mamãe, Maria Beatriz Brandão de Sá (Tizinha). Alagoas - Brasil. Foto: ©Ailton Cruz - Foto: © Ailton Cruz
 

Se aquelas ruas do centro da cidade falassem, certamente cantariam marchinhas de carnaval. Na verdade, para Maria Beatriz Brandão Sá (Tizinha), os que têm um ouvido apurado e sensível escutam o hino do bloco Filhinhos da Mamãe. Ela é uma das compositoras da canção e uma das fundadoras do tradicional bloco maceioense, que este ano ganhará as ruas com uma programação recheada, que começa em 24 de janeiro e vai até o dia 14 de fevereiro. Tizinha, como é conhecida no meio artístico, conta empolgada que o homenageado do 37º ano do “bloco oficial dos artistas de Alagoas” é o arquiteto, paisagista e artista plástico Alex Teixeira Barbosa. A homenagem foi oficializada no último dia 15 de janeiro, quando parte da diretiva da agremiação foi até a casa da família de Alex Barbosa. “Eu sou amiga do Alex desde os cinco anos de idade e ele era um amante do Carnaval. Nesses trinta e tantos anos de Filhinhos da Mamãe, o Alex foi uma das pessoas que nunca faltou e que sempre ajudou o bloco, inclusive financeiramente. Mais do que isso, se tem uma coisa que o Alex amava era o Carnaval. Era um apaixonado. Às vezes ele falava que estava sem ideia para a fantasia e, na última hora, colocava uma toalha, uma peruca loiríssima e dizia ‘eu sou uma pessoa que acabou de sair do banho’.... e caía na folia. E o Carnaval é essa brincadeira mesmo, de reinventar as narrativas, as coisas simples do dia a dia. E o Filhinhos da Mamãe também, é brincadeira, é ludicidade, é deboche”, lembra Maria Beatriz, que recebeu o título de comendadora carnavalesca “confete de cetim” do Filhinhos da Mamãe. Alex Barbosa faleceu em agosto passado. Ele foi arquiteto, paisagista, artista plástico e um entusiasta das artes em Alagoas. Como bem explicou Tizinha, era um amante do Carnaval. Até o ano passado, todos os anos era presença garantida nos blocos Filhinhos da Mamãe, em Maceió, e no Afoxé Filhos de Gandhy, em Salvador (BA). Ele foi responsável por projetos como o Memorial à República, localizado na Avenida da Paz, no bairro histórico do Jaraguá, e o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga. “Alex não era da direção, nem da comissão, nem da organização. Era um folião. Era O folião. Era um filhinho de primeira barrigada, como a gente chama aqueles que acompanham o bloco desde os primórdios. É muito forte a ligação que ele tem com o Filhinhos da Mamãe. Ele também era de uma cordialidade incrível, que vai além da educação doméstica. Era de um grande coração, que frequentava as produções artísticas dos demais artistas de Alagoas, que lançava artistas, que descobria. A importância desta homenagem é, também, a de mostrar que a facilidade que temos para esquecer não pode acontecer no Filhinhos da Mamãe. O Bloco Filhinhos da Mamãe é cultura e memória de Alagoas”, diz.


PARA NÃO ESQUECER

Era a década de 1970, e a juventude da época já se angustiava por não haver Carnaval em Maceió. Os jovens artistas da Cia. Teatral Comédia Alagoense – grupo dissidente da Associação Teatral de Alagoas, fundado por Linda Mascarenhas – pegavam seus figurinos e fantasias e partiam para Salvador, no auge do movimento hippie, apoteose da liberdade, para brincar a festa de momo. O exaustivo ritual repetiu--se por anos, até que, em 1982, calhou do grupo teatral estrear a peça Estrela Radiosa, escrita por Ronaldo de Andrade e dirigida por Homero Cavalcante. Há muito já se “buchichava” a necessidade de transformar a festa que se fazia lá em uma festa aqui, em nossa capital. No espetáculo, havia um momento em que uma grande boneca era festejada com deboche por bobos da corte, seguindo o tom satírico e irônico da peça. Aquela farra no palco estava prestes a tomar as ruas, faltava apenas um empurrãozinho, ou melhor, uma marchinha.

“Aquela bonecona do espetáculo nos inspirou naquele momento: jovens, com pouca grana para ir brincar o carnaval em Salvador ou Olinda, decidimos – Everaldo Moreira, Graça Cabral, Isaac Bezerra, Thalmann Bernardes e eu – sair pelas ruas da cidade, fazendo o nosso próprio carnaval. Naquela mesma noite em que tivemos a ideia de fazer a nossa brincadeira, Moreira e eu criamos a debochada letra do Hino – Yes, Mamãe. No dia seguinte, levamos para o diretor da peça, Homero Cavalcante, a ideia do bloco e a letra da música. De pronto, ele aceitou, e com Eduardo Xavier, a quatro mãos no piano, produziram a melodia dessa marchinha, alegre e descontraída”, conta Beatriz Brandão.

À Rua da Praia, no centro de Maceió, era o dia 4 de fevereiro de 1983 e já passava da meia-noite. Ali, brincavam pela primeira vez os “Filhinhos da Mamãe”. Vestidos de bebês, com calçolas e babadores, os filhos de Alagoas colocaram o bloco na rua, levando ousadia, exaltando a liberdade, interpretando as mais diversas personas. Um imenso teatro vivo, que mudaria para sempre a história dos carnavais de rua em Maceió. Para se ter uma ideia, já naquela época não havia carnaval em Maceió. A diferença é que também não havia prévias, como conta Ronaldo de Andrade, um dos fundadores do bloco e que tomou para si a missão de cuidar e organizar da agremiação. “Além de mãe de seus foliões, o bloco acabou por ser mãe de um movimento de renovação do carnaval de Maceió. Nossa concentração inspirou gerações de foliões. Não que sejamos melhores que os outros, apenas fomos os pioneiros. Foi desse movimento que nasceu, por exemplo, o próprio Jaraguá Folia”, conta.

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