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DIRETOR DE ESPETÁCULO QUE INSPIROU ‘JUDY’ ODIOU O FILME
Por BRUNO CAVALCANTI/ FOLHAPRESS | Edição do dia 04/02/2020 - Matéria atualizada em 04/02/2020 às 06h00
Em 2001, estreou em Londres “A Última Canção do Rouxinol”, peça sobre uma cantora que se afunda no álcool e nas drogas enquanto tenta se manter de pé numa série de shows. A obra do britânico Peter Quilter chamou a atenção do público, que na hora associou a personagem a Judy Garland. “O espírito e as sombras da Judy estavam ali. Nunca pensei que o público ansiava tanto por uma peça sobre a Judy Garland”, lembra o autor. Quatro anos depois, estreava “O Fim do Arco-Íris”, retrato das últimas semanas de vida da atriz que, com problemas financeiros, aceitou realizar uma temporada na casa de shows Talk of the Town, em Londres. É esse espetáculo o ponto de partida do filme “Judy: Muito Além do Arco-Íris”. O principal nome associado à dependência de remédios que a artista desenvolveu foi o de Louis B. Mayer, uma das grandes figuras da indústria do cinema, que obrigava a atriz a tomar anfetaminas e barbitúricos para aguentar as intermináveis e violentas horas de gravação do clássico “O Mágico de Oz”, de Victor Fleming. Abrangendo esse período, além dos cinco casamentos problemáticos e da relação difícil com a filha Liza Minelli, o filme não é fiel à obra de Quilter. “Para ser bem honesto, fiquei bastante frustrado, mas na hora em que você dá sua obra para um roteirista adaptar, ela deixa de ser sua. É preciso ter essa consciência”, diz. O filme, contudo, trouxe uma grata surpresa para o dramaturgo - o desempenho de Renée Zellweger como Judy Garland. “Ela sumiu! O que você vê é a Judy. Se ela não ganhar o Oscar, vou ficar muito surpreso, é a melhor performance do ano”, diz Quilter. Cláudio Botelho, que montou o espetáculo no Brasil em 2011, acredita que a vitória da atriz poderá tirar o marasmo da cerimônia. “Tenho achado o Oscar muito chato, mas desta vez estou torcendo como se fosse Flamengo e Vasco com direito a pipoca e bandeirinha”, diz o diretor, que pretende remontar a peça neste ano. Interpretando Judy Garland, Claudia Netto voltará ao papel que lhe rendeu uma indicação ao prêmio Shell em 2011. “Foi o mergulho no inferno de uma pessoa. No dia em que passei o primeiro ato, caí no chão achando que não conseguiria fazer”, lembra a atriz. “Estamos falando da decadência de uma grande estrela numa máquina que é Hollywood. As pessoas não sabem a dor de uma pessoa que vive para o showbiz e depois é esquecida. Peter Quilter, que levou essa dor ao teatro, agora está encantado com Renée Zellweger e diz querer voltar a trabalhar com a atriz. “Ela é uma pessoa adorável, mas não se sente confortável no palco, então se formos trabalhar juntos de novo, precisará ser num filme”, diz o diretor britânico. “Eu adoraria escrever um novo papel para ela. Na verdade, conto com isso.”