app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5855
Caderno B

Aos 103 anos, morre a personalização do sonho americano

Kirk Douglas viveu bem os seus “próprios anos dourados”, disse filho do astro em comunicado

Por DA EDITORIA DE CULTURA/ COM O GLOBO | Edição do dia 06/02/2020 - Matéria atualizada em 06/02/2020 às 06h00

Ator tem mais de 80 filmes no currículo e também se arriscou na direção de três longas
Ator tem mais de 80 filmes no currículo e também se arriscou na direção de três longas - Foto: Phil McCarten / REUTERS
 

Morreu na noite de ontem, 5 de fevereiro, o ator Kirk Douglas. Um dos grandes astros da chamada Era de Ouro de Hollywood, entre as décadas de 1950 e 1960. Ele estrelou filmes como “Spartacus” (1960) e “A montanha dos 7 abutres” (1951). A morte foi confirmada pelo também ator Michael Douglas, filho mais velho do astro. “É com tremenda tristeza que meus irmãos e eu anunciamos que Kirk Douglas nos deixou hoje aos 103 anos de idade”, disse Michael, em uma declaração postada numa rede social. O ator prosseguiu dizendo que “para o mundo, ele era uma lenda, uma estrela da Era de Ouro do cinema que viveu bem seus próprios anos dourados, um humanista cujo compromisso com a justiça e as causas em que acreditava definiram um padrão ao qual todos nós aspiramos”. Indicado a três Oscars de melhor ator — por “O invencível” (1949), “Assim estava escrito” (1952) e “Sede de viver” (1956) —, Kirk Douglas também se arriscou como diretor em dois filmes: “Scalawag” (1973) e “Ambição acima da lei” (1975). Com mais de 80 filmes no currículo, ele seria premiado pela Academia apenas em 1996, pelo conjunto de sua obra, e estava distante das telas desde 2004, quando atuou em “Illusion”.


ESTREIA NA BROADWAY

Batizado como Issur Danielovitch Demsky, o ator nasceu na cidade industrial de Amsterdam, no interior do estado de Nova York. Seus pais, Bryna e Herschel, imigrantes judeus vindos da Rússia, tiveram ele e mais seis meninas. Assim que foi considerado grande o suficiente, Douglas começou a trabalhar para ajudar a família. Ele pagou seus próprios estudos na St. Lawrence University trabalhando como zelador. Após receber um diploma como bacharel em artes, mudou-se para Manhattan. Lá, após ler uma cena durante um teste com o diretor do American Academy of Dramatic Arts, recebeu uma bolsa especial. Após se formar, em 1941, fez sua estreia na Broadway: era um mensageiro cantor no musical “Spring again”. Em 1942, alistou-se na Marinha, servindo durante a Segunda Guerra Mundial em uma patrulha anti-submarinos no Oceano Pacífico. Em 1944, foi dispensado com a patente de tenente. Retornou para a Broadway, onde atuou em alguns espetáculos até que sua performance em “The Wind Is Ninety” chamou atenção de Hollywood. Em 1946, por sugestão da atriz Lauren Bacall, foi até a California fazer um teste de elenco. O produtor Hal Wallis ficou tão impressionado que o escalou como par romântico de Barbara Stanwyck em “O tempo não apaga” (1946). Personificação do sonho americano Símbolo da Era de Ouro de Hollywood, célebre por personagens como o gladiador Spartacus, ele personificou o sonho americano que os EUA gostam de levar à tela: filho de imigrantes judeus russos e pobres, que atravessaram o oceano em busca de uma vida melhor, consagrou-se como ator, tornou-se produtor, fez fama e fortuna. “Spartacus” se tornou célebre por sua qualidade — concorreu a quatro Oscars — mas também repercutiu muito por ter desafiado a censura durante o declínio do macarthismo — como ficou conhecida a política de perseguição de supostos comunistas, impulsionada pelo então senador Joseph McCarthy, nos anos 1950. Douglas contratou o roteirista Dalton Trumbo, um das mais famosas vítimas da “lista negra” de Hollywood, e este assinaria com um pseudônimo. O ator e produtor acabou colocando o nome verdadeiro do autor nos créditos. “Ele não apenas contratou Trumbo para escrever o épico ‘Spartacus’, como insistiu que Trumbo recebesse crédito por seu trabalho”, lembrou a atriz Catherine Zeta-Jones, sua nora, quando acompanhou Kirk na entrega do Globo de Ouro de melhor roteiro em 2018. Douglas tinha uma maneira muito particular de escolher seus papéis. “Se eu gosto de um filme, eu faço. Eu não paro para imaginar se vai ser bem sucedido ou não”, disse ele em 1982, numa entrevista à revista “Variety”. Em entrevista ao jornal O Globo, em novembro de 2016, um mês antes de completar 100 anos, Kirk foi perguntado sobre qual América quis representar em sua carreira, e revelou seu trabalho preferido: — A morte do cowboy individualista, com uma urbanização de seu mundo, como em “Sua última façanha”. É o meu filme favorito e gostaria de ser lembrado por ele. Em 1991, sofreu um acidente de helicóptero que deixou grande parte de seu corpo queimada e quase lhe tirou a vida. Há mais de 20 anos, ele teve um AVC que prejudicou sua fala. Na mesma entrevista, Kirk Douglas também revelou o que mudaria se pudesse voltar no tempo: — Não teria feito minhas cenas de machão sem dublê. Por causa disso, tenho um problema grave na coluna e meus joelhos são próteses. Além de Michael, Kirk deixa a mulher, Anne Buydens, com quem era casado desde 1954, e os filhos Joel e Peter, também produtores. Seu caçula, o comediante Eric, morreu em 2004, aos 46 anos, vítima de uma overdose acidental.

Mais matérias
desta edição