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Caderno B

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DO CINEMA (13/02/2020)

O PREÇO DA VERDADE’ É REFÉM DE UM ROTEIRO MORNO

Por CÁSSIO STARLING CARLOS/ FOLHAPRESS | Edição do dia 13/02/2020 - Matéria atualizada em 13/02/2020 às 04h00

Filme se sustenta nas atuações de Mark Ruffalo e Anne Hathaway
Filme se sustenta nas atuações de Mark Ruffalo e Anne Hathaway - Foto: Mary Cybulski/Focus Features
 

“Já vi esse filme.” A frase nos persegue do início ao fim de “O Preço da Verdade” não só devido ao enredo, que opõe uma grande empresa às vítimas de seus métodos inescrupulosos. A direção sem fôlego de Todd Haynes reproduz a fórmula do filme-denúncia, uma tendência do cinema engajado dos anos 1970, época em que veio à tona o caso que o longa desvenda. Naquele momento em que se esboçava a preocupação ambiental, pouca gente se preocupava com o potencial risco de materiais como o antiaderente Teflon e outros venenos que ingerimos em massa.

O formato opõe, de um lado, a DuPont, poderosa empresa química que encarna o capitalismo selvagem, e, de outro, um fazendeiro do interior da Virgínia Ocidental, que tem seu rebanho dizimado após beber água de um riacho. Tal qual um detetive, o advogado Rob Bilott (Mark Ruffalo) desvenda a rede de poderes, temores, ameaças e manipulações armada pela DuPont. Embora não traga surpresas na forma da exposição e reproduza o molde maniqueísta, “O Preço da Verdade” não é um “thriller” descartável.

A crítica aos efeitos colaterais do conforto e à mania do consumo irresponsável garante sua pertinência e atualidade. Esta faceta, no entanto, não tem a força alegórica de “Mal do Século” (1995), notável trabalho de Haynes sobre uma madame forçada a viver à margem da civilização por causa de uma alergia a tudo. A ironia, que ali convertia o conforto em desconforto, desaparece em prol da demonstração e do respeito à dimensão factual inerente ao roteiro baseado num trabalho investigativo do jornalista Nathaniel Rich. Amputado de sua habilidade para a fábula moral, Haynes adota uma direção discreta, uma autoria apagada. A evocação climática do passado, uma das marcas de seu estilo, dilui-se aqui na réplica da imagem soturna dos anos 1970, mas sem o componente paranoico dos grandes filmes americanos da época. Refém do tema e do protagonismo morno de Mark Ruffalo, também produtor, “O Preço da Verdade” não se eleva acima do chão do cinema de mensagem. E de Todd Haynes sempre esperamos muito mais.


O Preço da Verdade

Avaliação: regular Estados Unidos, 2019.

Direção: Todd Haynes.

Elenco: Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins. 12 anos. Estreia nesta quinta (13).

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