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Nº 5759
Caderno B

DE VOLTA À ANTROPOFAGIA

Movimento musical ‘Antropofágico Miscigenado’ terá primeira edição de 2020, no dia 6 de março, no Restaurante e Bar Zeppelin, Centro da Capital

Por LUAN OLIVEIRA*/ ESTAGIÁRIO | Edição do dia 29/02/2020 - Matéria atualizada em 29/02/2020 às 06h00

Foto: Divulgação
 

Cantar e ser cantado para inspirar e ser inspirado, divulgar e ser divulgado também. Essa é a premissa do Antropofágico Miscigenado, projeto cultural do músico Sebage. Os artistas convidados cantam as músicas uns dos outros, cada um atraindo seu público e apresentando o colega para o do outro. A próxima edição será no dia 6 de março, no Restaurante e Bar Zeppelin. A ideia de antropofagia, ressignificada por Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropofágico como o ato de consumir o estranho e incorporá-lo em si, criando algo novo, orna bem no título de um projeto que tem justamente isso como ideia central. “Esse é o nosso quarto ano de resistência, mostrando nossas canções para um público, o alagoano, que geralmente ignora os artistas locais”, conta Sebage. “Ideia-movimento artístico-musical” é como Edi Ribeiro, parceiro de longa data de Sebage e que o ajudou na construção do projeto, descreve o Antropofágico Miscigenado. “[A ideia] surgiu de uma conversa descontraída no Bar e Restaurante Zeppelin, no finalzinho de 2016”, conta. “Participei ativamente junto com Sebage da primeira temporada, todas às terças no saguão do emblemático Teatro Deodoro convidando vários artistas da nossa cidade a participarem da ideia”. A frequência do evento diminuiu com o passar dos tempos, mas não a sua essência. “Há muito que as políticas públicas sempre deixaram a desejar, não temos um calendário anual forte que promova a circulação dos artistas nos vários polos da nossa cidade, principalmente nas periferias”, diz Edi. Suprir esse vácuo sempre foi um dos motores que mantinham a equipe engajada.


REALPOLITIK

A política corre, desde o começo, na veia do movimento Antropofágico Miscigenado. Desde os seus dias de estudante, Sebage mantinha uma militância ativa na sua atividade cultural. Ex-estudante do então Teatro Universitário de Alagoas (hoje Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas) no alvorecer da ditadura civil-militar brasileira, o artista participava de reuniões clandestinas do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). “Comecei a fazer músicas, festivais universitários, movimento estudantil…”, conta Sebage. No DNA do rock nacional, os festivais universitários eram extremamente populares no período da ditadura, e traziam ritmos de resistência para os corredores da academia. Saiu da política institucional depois de uma desilusão de juventude. “Queriam que eu vendesse o jornal A Classe Operária [periódico oficial do PCdoB] na Praça Deodoro, e eu querendo fazer teatro”, conta entre risos. “Vieram falar de ‘a cultura em segundo plano’”. E é fazendo política através de cultura que Sebage busca provar seu ponto até hoje, em sua “ideia-movimento artístico-cultural”.


FOMENTO AO LOCAL

Sebage avalia que Maceió tem muitos talentos, mas que falta criatividade. Eventos de música geralmente reúnem muitos jovens para cantar e tocar, mas raramente se apresenta algum tipo de material autoral, essência do projeto-movimento. “Mas há um grupo de músicos em torno do coletivo Identidade Alagoana que são bacanas, tem um pessoal jovem em Arapiraca, (...) o pessoal do selo Crooked Tree Record”, ressalta. A cena musical da capital também já foi mais forte, em sua opinião. “Nos anos 1980 (a cena) era muito ativa, não existia isso de banda cover e o público ia ver os nossos shows”, conta. Pessoalmente, Sebage também não se dedicou tanto à música quanto gostaria. “Sempre trabalhei em redação de jornal e isso me tomava quase todo o tempo, nunca pude me dedicar inteiramente à música, o que estou fazendo agora, trabalhando com a poesia e a música mais intensamente”, explica. Nesta primeira edição do ano, o evento contará com Sebage, Edi Ribeiro e o cantor, compositor e guitarrista Rodrigo San, convidado especial da edição. Os três farão apresentações de quarenta minutos cada para o público, um interpretando as canções do outro, em um ritual de antropofagia. O projeto acontecerá no Bar e Restaurante Zeppelin, na Rua Desembargador Artur Jucá, no Centro de Maceió. Contará com a participação especial de Zecabêga, que acompanhará Sebage ao violão. O couvert artístico sairá por apenas R$ 10 reais, com o cardápio diversificado da casa disponível. “Esperamos que os artistas se engajem, que entendam essa provocação, que entendam esse chamamento”, conclui Edi Ribeiro, que junto aos seus amigos sonha com a volta dos anos de ouro da música local.

Leia mais na página B2

* Sob supervisão da editoria de Cultura

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