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Caderno B

Por trás dos palcos vazios

Pandemia ameaça setor cultural alagoano e produtores pedem compreensão do público e apoio dos governos para lidar com prejuízos

Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 21/03/2020 - Matéria atualizada em 24/03/2020 às 01h17

/Diretor de programação teme que prolongamento da quarentena feche permanentemente o Centro Cultural Arte Pajuçara
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/Produtor alagoano, Lucas Neves diz que artistas contam com a compreensão  do público
/Com shows adiados e imprevisibibilidade, setor criativo enfrenta seu maior desafio

Com shows adiados e imprevisibibilidade, setor criativo enfrenta seu maior desafio
Com shows adiados e imprevisibibilidade, setor criativo enfrenta seu maior desafio - Foto: Divulgação
 

“A cultura não é apenas um luxo que se entrega durante os bons tempos.” - A declaração da ministra da Cultura alemã, Monika Grütters, foi dada quando o governo alemão anunciou medidas para atenuar o impacto da pandemia no setor cultural, que vive das aglomerações e amarga prejuízos com a atual quarentena. Com o aumento dos casos confirmados da Covid-19, teatros, cinemas e galerias tiveram que fechar a portas, e os shows, festas e peças foram cancelados ou adiados.

A dura realidade que atinge a Alemanha e diversos países do mundo, chega ao Brasil como um drama maior e em Alagoas como uma segunda tragédia. O que amplia o impacto é a sensação de diálogo interrompido entre os artistas e o governo federal, além das limitações legais do município atuar para minorar os danos. Para Maria [nome fictício] a crise chegou com o sumiço dos convites para trabalhar como camareira de artistas. Acostumada a ter cinco ou seis eventos por semana, ela viu os convites desaparecerem por completo. Agora, ela e o marido, que também trabalha no setor, contam com bicos e com a solidariedade dos produtores.

“Nenhum. Semana passada ainda trabalhei em dois, mas essa semana não teve nada e não tem nada marcado para a outra”, diz Maria. “Fica difícil, porque eu trabalho com isso, meu marido também. Minhas filhas estão me ajudando, mas elas também estão com dificuldades. Estamos pedindo ajuda para não piorar”, conta.

O drama evidencia que a crise atinge todo o setor cultural, de Djavan - que adiou toda a parte internacional da turnê Vesúvio - até as camareiras, carregadores, roadies, maquiadores, montadores e motoristas. A diferença, no entanto, é que alguns operários da arte sofrerão mais do que outros.

Em Alagoas, o primeiro adiamento de evento foi o do Festival Carambola, que estava previsto para ocorrer no próximo dia 28 de março e ainda não tem nova data prevista. Depois, vieram as restrições relacionadas à aglomeração de pessoas em locais abertos e fechados, o que resultou na paralisação das atividades das casas de shows, de espetáculos e dos cinemas. Para a LS Entretenimento, uma das mais atuantes produtoras de espetáculos do estado, o impacto ainda não pode ser dimensionado, mas será grande.

“Já alteramos pelo menos umas 10 datas e as programações estão suspensas temporariamente. Tem muita gente sofrendo, claro, em todos os setores, mas falo pelo nosso, que já não tem subsídios, apoio, nada”, lamenta Lucas Neves, proprietário da LS Entretenimento.

Produtor alagoano, Lucas Neves diz que artistas contam com a compreensão  do público "para continuar respirando"
Produtor alagoano, Lucas Neves diz que artistas contam com a compreensão do público "para continuar respirando" - Foto: Divulgação
 


“Tem camareira de teatro oferecendo serviços na casa de produtores para poder não ficar sem a diária. Isso está me doendo”, diz o produtor, que narrou outras situações delicadas.

“Técnicos diaristas de fornecedores de som e luz estão trabalhando entregando Uber Eats, afinal, serão pelo menos 45 dias com toda a atividade cultural parada.”

Lucas Neves diz que os produtores e artistas estão contando, ainda, com a compreensão e cooperação do público para minimizar o impacto desses adiamentos. De acordo com ele, as pessoas reagem bem ao pedido de adiar em vez de cancelar e de não solicitar devolução de dinheiro de ingressos, que servirão para as novas datas. “Até agora, foram poucos os pedidos de devolução.”

“O que pedimos do público é empatia e compreensão com a situação. O adiamento de agenda é péssimo e só com a colaboração do público, não pedindo reembolso e comparecendo nas novas datas, poderemos continuar respirando. Tem bilheteiros, promotores, camareiros, produtores, roadies, músicos, artistas, técnicos, um extenso número de pessoas que fazem a arte girar e acontecer. Pensem neles. Cada reembolso é um desfalque, infelizmente”, diz Lucas Neves.

“Então, acho que hoje nosso maior pedido é: compareçam na próxima data, dêem um jeitinho, não desistam de ir às apresentações na volta de tudo isso. Vamos cantar, chorar e rir juntos muito em breve. Espero ver nosso povo reagindo e obedecendo o que temos visto no mundo todo: quarentena, cuidados e contato mínimo. Só assim a gente vai preservar a vida. Esperamos que, em três, quatro semanas, no máximo, já possamos voltar a falar de música, de shows, teatro, cultura para o povo alagoano”, conclui o jovem produtor.

ARTE PAJUÇARA EM PERIGO

Diretor de programação teme que prolongamento da quarentena feche permanentemente o Centro Cultural Arte Pajuçara
Diretor de programação teme que prolongamento da quarentena feche permanentemente o Centro Cultural Arte Pajuçara - Foto: Divulgação
 


Antes mesmo do anúncio das medidas de segurança, o Centro Cultural Arte Pajuçara informou que alteraria o funcionamento do único cinema de arte de Alagoas. O Arte Pajuçara passou a funcionar, então, com metade da lotação, facilitando o distanciamento das pessoas durante as sessões e com álcool em gel de uso obrigatório na entrada e na saída. Com a portaria do Ministério Público de Alagoas (MP/AL), divulgada na última terça-feira (17) e que recomendou o fechamento de cinemas e teatros por 30 dias, o empreendimento ficou em situação delicada.

“Um período de suspensão como este [30 dias] vai inviabilizar, caso não tenhamos uma fonte de recursos que cubra nossas despesas, o empreendimento. Vai fechar. É um prejuízo incalculável, afirmou Marcos Sampaio, diretor de programação do local.

“Ninguém quer colocar em risco a vida de ninguém e prezamos pela vida, sempre. A saúde está em primeiro lugar. Caso exista um agravamento, seremos os primeiros a adotar as medidas cabíveis. Mas, nós ainda dependemos muito do que arrecadamos, das vendas de ingressos, locação do espaço, temos despesas diárias para cobrir. É um período longo, então vamos apelar ao MP no sentido do diálogo", disse Sampaio na ocasião da publicação da portaria.

Nessa quarta-feira (18), o cinema chegou a anunciar nova programação para a semana e ainda mais medidas de segurança. No final do dia, no entanto, foi anunciado o fechamento por 15 dias.

“Por 15 dias estaremos colaborando com o combate ao Coronavírus. O Centro Cultural Arte Pajuçara não funcionará de 19/03 a 02/04. Estamos juntos na prevenção. Até lá e se cuidem. Fica cancelada a programação anteriormente divulgada”, informava a nota.

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