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Nº 5692
Caderno B

UM GUERREIRO DAS ALAGOAS

Cultura dá adeus ao Mestre Juvenal Domingos e celebra o seu legado de perseverança e dedicação às tradições populares

Por Editoria de Cultura | Edição do dia 27/03/2020 - Matéria atualizada em 27/03/2020 às 00h44

Foto: Ailton Cruz
 


A dança folclórica Guerreiro é composta por dançadores e cantadores semelhantes ao reisado, mas com um número maior de figurantes e episódios, com trajes e músicas mais caprichadas. Nessa dança rica em cores e enredos, entre os vários personagens está o responsável por todos o grupo: o mestre. Ele é o que tem o dom do canto, do tropel e da grosa, quem coordena e ensina, passa o saber. É nesse universo de trajes multicoloridos, personagens de reis e rainhas e de folclore, que o querido Mestre Juvenal Domingos das Alagoas, que faleceu na última terça-feira (24), aos 84 anos, será lembrado. Com sua alegria e história de vida humilde.


Juvenal Domingos nasceu no dia 25 de novembro de 1936, no município de São Luiz do Quitunde. Perdeu a mãe muito cedo e foi criado pelo pai até os 7 anos, quando foi morar com o tio na Usina Utinga Leão. Por sua vez, o tio abandonou o garoto e o largou sozinho na usina. Juvenal acabou sendo criado por um dos trabalhadores. Ainda menino, espreitava as apresentações de mestres como Sebastião Batista e João José. Aos 10 anos, começou a chamar atenção dos mais velhos ao cantarolar peças do Guerreiro alagoano.


Vinte anos depois, Juvenal Domingos, com sua pisada forte e determinada, que somava com o alto tom da sua voz, criou, aos 30 anos, junto da esposa, o seu primeiro grupo, o Guerreiro São Pedro Alagoano, em Murici. Sua dança o levou de volta à Utinga, passou por Rio Largo e fixou residência no bairro Chã da Jaqueira, em Maceió. Atualmente, o São Pedro Alagoano tem sua sede no Conjunto Luiz Pedro 1 e a liderança foi passada para a Mestra Marlene, atual responsável pelo grupo. “Ele me entregou esse guerreiro e me pediu para eu não deixar o Guerreiro cair, porque Guerreiro é cultura. Estou tocando do jeito que posso. Juvenal foi embora e deixou muita saudade para mim. Ele era um mestre muito especial”, afirma a Mestra Marlene, sucessora do Mestre Juvenal Domingos.


Devoto de Padre Cícero, o mestre guarda em sua história várias conquistas e uma grande relevância para a cultura do nosso Estado. Em 2006, o Mestre participou, em Brasília, do Plano Nacional de Cultura Popular. No ano seguinte, foi contemplado com o Prêmio de Culturas Populares Mestre Duda. Em 2008, participou do Congresso Nacional de Folclore no Piauí e, em 2010, aos 73 anos, foi declarado Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas, conforme a Lei 7.172 de 30 de junho de 2010. Juvenal Domingos sofria de diversas complicações cardiovasculares e estava, há dois anos, debilitado e de cama após dois derrames. Ele faleceu na terça-feira (24), aos 84 anos de idade. Por conta do risco de contágio do novo coronavírus, só foram permitidas no velório 20 pessoas da família. O sepultamento ocorreu na tarde de quarta-feira (25), em Rio Largo.


O Mestre Juvenal veio de uma linhagem de mestres da vanguarda, que, aos poucos, formaram o que o Guerreiro é hoje. Por isso, a perda traz um grande pesar na cultura alagoana. Com sua humildade e determinação, o Mestre parte deixando saudades e um legado de perseverança e dedicação. “O que o Mestre Juvenal me deixou de aprendizado, no tempo que convivi e conheci, foi justamente a perseverança. Perseverar em um Guerreiro é pra poucos. Como jornalista e amigo, o legado que ele me deixa é a perseverança e nunca desistir da cultura popular” diz o jornalista e amigo, João Lemos. Com o falecimento do Mestre Juvenal Domingos das Alagoas, uma das cadeira do Registro de Patrimônio Vivo ficará disponível para um novo mestre ocupar.

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