app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5882
Caderno B

HOJE NÃO TEM ESPETÁCULO

Sem público e sem apoio, artistas circenses vivem impasse: não podem se apresentar nem mudar de cidade

Por Maria Clara Araújo e Maylson Honorato | Edição do dia 31/03/2020 - Matéria atualizada em 31/03/2020 às 17h16

Foto: FREEPIK
 

“A gente depende da bilheteria, a gente depende do circo. Parou, acabou”, diz Sandra, do Circo Real Bandeirantes, instalado na cidade Marechal Deodoro. “A gente tá sem alimento, tá com o bujão seco”, completa a artista circense, em um vídeo que circula nas redes sociais. O vídeo, publicado na página oficial do vídeo, um grupo de artistas, quase todos da mesma família, faz um apelo por ajuda dos governos e da população à comunidade circense, que, com as ruas vazias e as plateias também, amargam um momento que nunca imaginaram passar. “A gente precisa. A gente é da cultura e a cultura tá parada nesse momento, por causa do… do vírus, sei lá como é o nome”.


Apesar de atingir diversos setores, a crise ocasionada pela proliferação do novo coronavírus, atinge em cheio a classe artística de todo o Brasil. O cinema brasileiro, por exemplo, registrou o primeiro final de semana com público zero pela primeira vez na história, de acordo com a ComScore, empresa de análise de mídia. O drama que afeta as grandes indústrias, é ainda maior para pequenos empresários do setor cultural e para artistas independentes, que vivem unicamente da arte.


Elaine Lima, é atriz e palhaça no grupo Clowns de Quinta, que há 7 anos atua em Maceió, com espetáculos, oficinas e produção de festivais. Ela conta que o coletivo tinha alguns eventos marcados, mas que foram todos cancelados. “Eu já trabalhava bastante em casa. Na comunicação do grupo e na gestão. Agora estou incluindo treinos físicos para não ficar parada durante essa quarentena. Esse momento em casa também tem me feito pensar em novos projetos e em como podemos trabalhar melhor nossas redes sociais. O que foi sempre um desejo do grupo. E agora temos esse desafio nas mãos.”, diz a artista.


Henrique, formado em artes cênicas pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), trabalha com artes circenses desde 2015. Seu trabalho vai desde apresentações de números de palhaçaria, malabares, e acrobacias, até a recepção de eventos com perna de pau, pirofagia entre outros. A rua, para ele, é uma escolha, mas também é onde consegue alguma grana.


“Minha preferência é pela rua, sempre. Por ser o mais democrático dos espaços, pelo diálogo entre artista e espectador. E por acreditar que na rua posso levar arte para muitas pessoas que passam na porta dos edifícios teatrais e não se acham dignas de entrar ali. Faço malabares no sinal também como uma forma de treino, em que se tira alguma remuneração. Monto minha rotina com truques que já domino e sempre algum que estou aperfeiçoando. Acho um bom lugar para experimentar coisas novas”, explica.


Henrique integra outro coletivo circense, o Bora Circar, e conta que estava fechando alguns trabalhos, quando o isolamento social foi recomendado. Os encontros semanais para treino, confraternização e articulação de ideias - que acontecem na pra Praça da Faculdade - foram interrompidos, assim como suas aulas de circo para crianças. O coletivo lançou uma tímida campanha para cada componente treinar em casa e postar os vídeos no instagram (@boracircar). As apresentações nas ruas também se tornaram inviáveis. “Há o risco de contrair o vírus pelo contato, principalmente na passada de chapéu, como ao tocar em dinheiro. Também é um fator de responsabilidade não ir, não só pelo cuidado com os grupos de riscos, mas um artista na rua estimula a aglomeração. Seria um desserviço para este momento.” conclui o artista.


SEM MARMELADA

Para os itinerantes, que viajam com os circos pelo país, a situação é dramática, de acordo com Sandra, conhecida como Mulher Goiaba. Ela, assim como toda a família, é circense do Circo Real Bandeirantes, com 30 anos de tradição. O picadeiro está instalado no bairro Taperaguá, em Marechal Deodoro. Vazio. No vídeo, que circula nas redes sociais, a família de Sandra e demais artistas do Circo Real Bandeirantes, narram o drama de ficar sem público e pedem ajuda aos moradores da cidade, localizada na Região Metropolitana de Maceió.

“Estamos impossibilitados de funcionar e de se mudar. Por isso, vimos até você pedir 1kg de alimento não perecível para que possamos atravessar essa crise do coronavírus. Esperamos que essa crise passe logo, para que possamos trazer alegria e diversão para você e sua família”, diz Josivaldo Chagas, da direção do circo.

“...Estamos de braços abertos, aceitando o que vocês puderem ajudar. Até um abraço tá sendo importante numa hora dessas”, completa Sandra.

Mais matérias
desta edição