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ACABOU CHORARE

O ETERNO NOVO BAIANO

Morte de Moraes Moreira deixa cultura de luto e alagoano Djavan fala da amizade com o baiano, lamenta a perda e relembra passagem histórica dos dois por Alagoas

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Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 28/02/2018; Retrado do cantor Moraes Moreira.   ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 28/02/2018; Retrado do cantor Moraes Moreira. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress) | Foto: Ricardo Borges

Moraes Moreira, fundador e figura emblemática dos Novos Baianos, morreu às 6h da manhã dessa lúgubre segunda-feira (13), no Rio de Janeiro, aos 72 anos. A morte foi confirmada pelo cantor e compositor Paulinho Boca de Cantor, que ficou encarregado de informar a perda aos antigos companheiros de Moraes, como Pepeu Gomes e Baby do Brasil. De acordo com a família, a causa da morte foi um infarto do miocárdio.

Devido à pandemia do novo coronavírus, que ocasionou medidas de distanciamento social em diversas cidades e estados brasileiros, o local e o horário do enterro não serão divulgados. Assim, os parentes pedem que quem quiser homenagear Moraes Moreira separe um momento para ouvir sua obra.

O cantor, compositor e violonista iniciou a carreira ainda na adolescência, tocando sanfona em festas de São João em Ituaçu (BA), sua cidade natal. Em 1969, ele, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, companheiros de pensão em Salvador, e de Baby Consuelo e Pepeu Gomes, estrearam os Novos Baianos no 5º Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record.

O primeiro disco do grupo, “Ferro na Boneca”, saiu em 1970. É em 1972, no entanto, que o grupo estourou, com “Acabou Chorare”. O álbum, que abriga no repertório a música de mesmo nome e faixas marcantes como “Brasil Pandeiro”, “Preta Pretinha” e “A Menina Dança”. O disco vendeu mais de 100 mil cópias e se tornou um clássico no cancioneiro brasileiro.

Na época de “Acabou Chorare”, os Novos Baianos foram morar juntos num sítio em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. A casa era uma espécie de comunidade hippie, com muito futebol, samba, choro e rock and roll.

“As pessoas me perguntam: ‘Que horas vocês ensaiavam?’. A vida era um ensaio”, disse Moraes, em entrevista à Folha de S.Paulo em 2016, comentando que havia ouvido uma adolescente dizer que o sonho dela era ter vivido no sítio com eles. “Falei: ‘Tome juízo, menina. Você não sabe o que acontecia lá’.”

Os Novos Baianos foram uma das bandas mais influentes no começo dos anos 1970, considerada a era de ouro da música pop brasileira. O sucesso da mistura de samba com psicodelia, choro e baião com guitarras de rock e a influência da tropicália abriu espaço para diversos artistas com abordagem menos ortodoxas ao redor do país. “Acabou Chorare” encabeça a lista de 500 maiores discos da música brasileira, publicada em 2007 pela revista Rolling Stone.

Moraes Moreira ficou nos Novos Baianos até 1975, quando anunciou sua carreira solo. Depois, se reuniu com o grupo para shows comemorativos na turnê “Infinito Circular”, de 1995, que rendeu um disco ao vivo homônimo dois anos depois. Mais recentemente, todos os integrantes estiveram presente na turnê “Acabou Chorare e os Novos Baianos se Encontram”, de 2016. Moraes Moreira é o primeiro integrante do grupo a morrer.

Ao longo da última década, Moraes Moreira vinha fazendo shows com o filho, Davi. Nas apresentações, eles tocavam a íntegra de “Acabou Chorare”, faziam homenagens e, no fim, tocavam faixas da fase carnavalesca de Moraes.

“LÁ EM MACEIÓ VOCÊ DE MIM NÃO TEVE DÓ”

Primeira cidade cantada por Moraes em “Pelas Capitais”, Maceió iria receber mais uma vez o artista, que se apresentaria no Teatro Deodoro no dia 4 de abril. O show havia sido adiado devido às restrições decorrentes da pandemia. A produção, LS Entretenimento, fez um post emocionado no Instagram.

“Essa lacuna não será preenchida nunca novamente. [...] O músico, com mais de 50 anos de carreira, embalou carnavais, namoros e festas com suas canções. Despedir-se não é fácil”, diz trecho da postagem.

MORAES E DJAVAN

Djavan, Terezinha de Jesus e Moraes Moreis, em 1979, no palco do Teatro Deodoro
Djavan, Terezinha de Jesus e Moraes Moreis, em 1979, no palco do Teatro Deodoro | Foto: Reprodução

Apesar de fazer alguns anos desde que Moraes Moreira se apresentou em Alagoas pela última vez, o cantor mantém um público fiel na capital alagoana. Entre suas passagens históricas por Maceió está a caravana do Projeto Pixinguinha de 1979, quando ele dividiu o palco com Djavan. Com ingressos esgotados, eles ficaram em cartaz por uma semana no Teatro Deodoro.

Um espetáculo que “promete quebrar todos os recordes de bilheteria do Teatro Deodoro”, anunciava a Gazeta de Alagoas, na edição de 19 de junho de 1979. No palco estavam Djavan, Moraes Moreira e a cantora potiguar Terezinha de Jesus. Cantando juntos, fizeram releituras das próprias canções.

A matéria orgulhosa da Gazeta de Alagoas foi justificada, pois Djavan voltava ao estado após um longo período de ausência e retornava consagrado. Pelo WhatsApp, Djavan relatou que preserva as boas lembranças com o amigo e enalteceu a obra de Moraes Moreira.

“Cara, eu tô muito triste. Moraes era uma pessoa incrível, um grande amigo, uma pessoa íntegra, além do músico, cantor e compositor que ele sempre foi. Nos deixa um legado magnífico”, diz o alagoano.

Djavan diz que conheceu Moraes na década de 1970, pouco tempo depois de chegar ao Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira. Chegavam ao Rio: Djavan, Moraes Moreira, Geraldo Azevedo e Alceu Valença.

“...quatro nordestinos. Chegamos praticamente na mesma época. Quando cheguei eles já estavam, mas fazia pouco tempo que tinham chegado aqui. Nos conhecemos e nos tornamos amigos”, continua Djavan.

“Moraes era uma pessoa divertida, positivíssima, eu nunca soube de nada que o desabonasse. Era um amigo e um grande compositor. Eu espero que sua família, os amigos mais próximos, estejam conscientes de que a perda é grande, mas que a gente tem que louvar tudo que ele fez aqui na terra”, conclui o alagoano.

Então, acabou chorare.

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