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Caderno B

LEITORES ISOLADOS COMPRAM BOXES DE SÉRIES FAMOSAS PARA MARATONAR

Consumo de sequências é tendência durante a quarentena, tanto em livrarias como no streaming

Por MAURÍCIO MEIRELES/ FOLHAPRESS | Edição do dia 26/05/2020 - Matéria atualizada em 26/05/2020 às 06h00

De Senhor dos Anéis até Harry Potter, leitores retornam aos clássicos durante pandemia
De Senhor dos Anéis até Harry Potter, leitores retornam aos clássicos durante pandemia - Foto: Reprodução
 

O mais forte concorrente dos livros em geral é a indústria do entretenimento. Editoras disputam o escasso tempo do leitor com séries e filmes milionários, bem como com youtubers e influenciadores de toda sorte. Mas, durante a quarentena provocada pelo novo coronavírus, um fenômeno de consumo semelhante ao que acontece nas plataformas de streaming parece se reproduzir na leitura –a maratona. E não é algo necessariamente em busca de novidade. Pelo que sugerem as listas de mais vendidos, em tempos de incerteza o leitor busca o conforto do que já conhece e sabe que trará diversão garantida. Não é à toa que os boxes de livros começaram a frequentar em grande quantidade as listas. A principal caixa é a da série “Harry Potter”, de J. K. Rowling, lançada pela Rocco para celebrar os 20 anos da publicação dos livros no Brasil. Lançada no fim de abril, em edições de luxo com capas de Brian Selznick, a caixa não é barata –custa quase R$ 500, mas mesmo assim está em primeiro lugar na lista da Folha nesta semana –na semana passada, era o primeiro. “O que está funcionando agora no mercado é o ecommerce, porque é basicamente o que temos, com as três grandes lojas, Amazon, Submarino e Magazine Luíza. E box sempre foi um produto que vendeu bem na internet”, diz Bruno Zolotar, diretor comercial da editora carioca. Ele conta que, pelo retorno que a casa tem tido nas redes sociais, há pessoas comprando para maratonar a série. E a editora também tem visto um crescimento na venda da caixa de “Jogos Vorazes”, de Suzanne Collins –neste caso, são compras estimuladas pela publicação de um novo livro da saga, que acaba de sair nos Estados Unidos e ganha tradução no país mês que vem. O estudante de direito Jonathas Teles, 23, é um que resolveu maratonar a série de Rowling como escapismo. A tendência não se restringe à Rocco. Em terceiro lugar, nas lista dessa semana apareceu o box da série em quadrinhos “Bone”, de Jeff Smith, da Todavia. Na semana passada, a caixa esteve em promoção agressiva, o que ajuda a explicar a alta –mas, nesta semana, está com preço cheio. “Além de comprar todos os livros mais barato do que se fossem comprados individualmente, tem o fato de a série nunca ter sido publicada na íntegra no Brasil. Os fãs de quadrinhos falavam há muito tempo, tinha uma ansiedade”, diz André Conti, editor da casa. Já a Intrínseca aparece com na lista infantojuvenil em segundo lugar, com a caixa da série “Percy Jackson e os Olimpianos”, de Rick Riordan. “As vendas dessa série cresceram 135% nas últimas cinco semanas, na comparação com o mesmo período do ano passado. Desde o início da pandemia, a gente vê um resgate dos sucessos da editora, que são os livros do coração. Há pessoas que promovem leituras coletivas de suas obras prediletas. Um dos best-sellers da editora, a saga “Crepúsculo”, por exemplo, é alvo de uma iniciativa do tipo –tocada pela influencer literária Djennifer Dias com seus seguidores no Instagram.

Outro exemplo marcante foi o lançamento do box da série “Trono de Vidro”, pela Record, na quinta-feira, com exclusividade na Amazon –um quinto da tiragem de 5.000 exemplares, que vinha com brindes, foi vendido em seis horas, de acordo com a editora. É uma caixa de R$ 349, com oito livros –as vendas chamam ainda mais atenção considerando que é uma série que começou em 2013. “Era um box que os leitores pediam muito e a gente não tinha feito ainda. Atrasamos um pouco o lançamento por causa da pandemia”, diz Rafaella Machado, editora-executiva do grupo. “Neste país em que tanto se critica a cultura, é ela que está mantendo as pessoas sãs em casa.” A ideia original era ter feito o dobro da tiragem, mas, em meio à crise, a Record achou melhor fazer uma impressão mais conservadora. Acho que a compra por impulso não acabou, mas as pessoas estão mais conservadoras. Preferem comprar o que já conhecem”, diz Machado, acrescentando que, pelos números que tem visto, as vendas não são só de leitores antigos de tais livros, mas de pessoas que chegam a eles também pela primeira vez.

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