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Caderno B

DALVA, UMA ESTRELA

Artistas alagoanos lamentam a partida precoce da professora Dalva de Castro e relembram legado em defesa da cultura popular e do meio ambiente

Por DA EDITORIA DE CULTURA | Edição do dia 13/10/2020 - Matéria atualizada em 13/10/2020 às 05h00

Foto: Reprodução
 

Conhecida por sua facilidade em transformar vidas por meio da arte e pelos ensinamentos da cultura popular, a professora Vicentina Dalva Lira de Castro, conhecida carinhosamente como professora Dalvinha, faleceu na madrugada da última quinta-feira (8). Ela lutava contra um câncer. A comunidade artística de Alagoas, que em tempos sombrios tinham, em pessoas como a Dalvinha, um exemplo, lamentou de maneira profunda a partida precoce e relembra a trajetória da mulher que fez da sua vida uma obra de arte e que vivia notoriamente por essa dedicação à cultura e à família. Dalva deixa um importante legado. Trilhou um caminho produtivo enquanto professora da rede de ensino municipal de Piaçabuçu, cidade localizada no Baixo São Francisco, e também foi fundadora de umas das ONGs de maior importância do município e que já funciona há mais de vinte anos, atuando com projetos culturais e ambientais. A “Olha o Chico” e o grupo Caçuá realizaram, com a ajuda de Dalvinha, várias apresentações em todo o Nordeste e impulsionaram diversos artistas que ganharam o mundo através das ações da professora. Considerada um ícone da cidade Piaçabuçu, deixa um numeroso elenco de projetos que beneficiaram a cidade ribeirinha e enriqueceram a cultura da cidade, além de incentivarem os jovens piaçabuçuenses a desenvolverem seus talentos. Dessa forma, Dalvinha marcou a vida de muitos que tiveram o privilégio de conviver com ela. Em sua despedida, muitos artistas alagoanos desejaram uma boa passagem para a professora que agora descansa em paz. A atriz Ivana Iza disse que desde o nome, de estrela, a Dalva já era radiosa. “Foi uma mulher importantíssima para o povo de Piaçabuçu, por toda a preocupação e por toda a vontade de não deixar nunca morrer a cultura popular daquele lugar. A presença dela tão forte junto às crianças era uma coisa emocionante de se ver. O desejo de sempre levar cultura, espetáculos, oficinas, abrindo espaços para os artistas estarem em Piaçabuçu. Ela tem uma importância imensa no legado estrutural daquele lugar. Era uma mulher extremamente humana, preocupada muito com o outro”, disse. Artista de Piaçabuçu, Túlio Gonçalves diz que a professora Dalvinha sempre lutou pela transformação das pessoas através do conhecimento e da cultura popular, por entender que essa ferramenta é muito poderosa.

“Os trabalhos dela atingiam pessoas de todas as idades, desde as crianças, com o grupo Caçuazinho, até os idosos, com as ações da Sabedoria Griô, por exemplo. Ela transformava, através dessas ações, pessoas comuns em artistas e assim, em humanos melhores.”

Túlio afirma que não consegue listar todos os conhecimentos que Dalvinha lhe passou, mas o mais importante deles é que aprendeu a ser uma pessoa melhor. “Sempre vi nela um exemplo de liderança que eu almejava ser. Uma pessoa que tinha grandes ideias e que não tinha medo da opinião dos outros, isso não impedia ela de produzir ou de jogar as ideias no mundo. Ela não tinha medo de julgamentos”, completa. Todos os seus trabalhos estão em vídeos no YouTube e em entrevistas que ela deu ao longo dos anos. O marido da professora organiza um acervo pessoal com dados sobre a carreira da esposa. Mas para Ivana Iza, a memória de Dalvinha está dentro do olho das pessoas que moram em Piaçabuçu.

“Quem mora na cidade e viveu um momento com a Dalva, com certeza tem dentro da retina um registro forte dela. Ela chega e marca. Era assim que eu olhava para a Dalva. Ela tinha uma tranquilidade e uma força da natureza dentro dela que eram nítidos. Dalva era uma estrela brilhante naquele lugar”, completa. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou em seus canais oficiais uma nota de pesar para Dalvinha, que foi uma grande parceira da causa. Participou ativamente das Feiras da Reforma Agrária, sempre com o Grupo Caçuá.

“Uma referência para a arte e cultura alagoana, Dalva dedicou a vida para defender e cantar o Rio São Francisco. Deixamos aqui nosso abraço solidário e fraterno a toda sua família, aos companheiros do Grupo Caçuá e do Olha o Chico. Não nos esqueceremos do espírito inquieto de Dalvinha ao nos provocar para que esta parceria consolidada com o MST, através das Feiras da Reforma Agrária, se transformasse em ação cotidiana unindo as comunidades Sem Terra e ribeirinha ao longo do território do Velho Chico. Nos comprometemos a seguir seu caminho e trazer para nossa Terra e nossa água a materialidade deste sonho.”

O poeta Audálio Honorato postou em suas redes sociais um poema homenageando a conterrânea, que tanto fez pela cultura da cidade. Ele diz que nada será igual depois da partida de Dalvinha.

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