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Nº 5691
Caderno B

“A GENTE FOI FELIZ AQUI”

Projeto faz intervenções artísticas nos imóveis do Pinheiro e estampa imagens em tamanho real com lembranças de famílias e dos antigos habitantes do bairro

Por LUAN OLIVEIRA*/ ESTAGIÁRIO | Edição do dia 16/10/2020 - Matéria atualizada em 16/10/2020 às 04h00

Foto: Reprodução
 

Os tradicionais retratos de família foram transformados em lembretes da partida dos moradores do Pinheiro, um dos bairros afetados pelos afundamentos de minas de sal-gema na capital alagoana. O projeto do artista visual Paulo Accioly, ‘A Gente Foi Feliz Aqui’, faz intervenções artísticas nos imóveis da região com imagens em tamanho real das famílias e lembranças dos antigos habitantes. Um casal dançando em uma sala em ruínas, uma família abraçada, um antigo retrato de um ancestral. O que liga os retratos feitos por Accioly, um ex-morador do Pinheiro ele próprio, é a ideia de dias que não mais virão. “Eu morei lá por alguns anos, mas conheço gente que morou 60. A ideia é dar o mínimo de visibilidade para essas pessoas que moraram ali”, conta. Uma das histórias contadas é a de Juliana Aragão, que morou na casa dos pais por cerca de 10 anos no bairro antes do início das rachaduras. “Ficava aquela expectativa: ‘essa situação vai passar? Vai voltar tudo ao normal?’”, conta Juliana, que agora está ao lado de seus familiares no interior de sua antiga residência, em tamanho real - mas sem as cores de antes. O tempo se esgotou e não dava mais para perguntar, os vizinhos se foram, e a família de Juliana teve de partir também. “Ficou muito esquisito, não dava mais”, conta. No muro da residência, uma foto de seus familiares segurando a placa que adquiriram quando compraram a casa resume as expectativas de quando se mudaram: ‘nosso pedacinho do céu’. Accioly espera que o projeto seja concluído em meados do ano que vem. “É um projeto de pequena escala, os materiais são caros e sai tudo do nosso bolso”, diz. Os moradores são contatados, chamados para tirar uma foto, que é impressa em tamanho real e afixada na residência. A equipe faz os trabalhos sempre acompanhada das famílias, que contam suas histórias. “Ouvi muita história, irmãs que moravam lado a lado desde que nasceram e hoje uma está no Canaã e outra em Atalaia [no Agreste do Estado]. Essa ideia de comunidade que existia no Pinheiro, não existe mais, cada um foi para um local diferente, outro bairro, outra cidade, outro país”, conta o artista. Para o futuro, a ideia é organizar um mapa interativo. Um mostraria o êxodo, para onde as pessoas foram e como a comunidade que antes era coesa se dissolveu. O segundo, afetivo, pretende mostrar a história dos moradores e o que os fizeram felizes no Pinheiro. Por enquanto, é possível conferir alguns relatos e retratos no Instagram do projeto. “Temos pouco tempo, o local está se deteriorando rapidamente e as propriedades estão deixando de ser dos moradores e passando a ser da Braskem. Depois que essa troca de posse é feita, não podemos intervir no imóvel”, explica Accioly. Uma exposição também está nos planos futuros da equipe, que por enquanto está focada em documentar a história das famílias. “O que aconteceu ali foi grande, mas não recebeu a visibilidade que merecia. Há muita história de luto, mas eu queria registrar a felicidade, o porquê as pessoas foram felizes ali”, conta o artista visual.

*Sob supervisão da editoria de Cultura

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