app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 0
Caderno B

TEM JAZZ NA CALÇADA

Fundador do Rex Bar relembra ‘Praça do Rex’ e comemora volta de projeto musical como “aliado do bairro histórico”; nesta quarta (28), show no Jaraguá será com Ricardo Lopes

Por DIMITRIA PIMENTEL* MAYLSON HONORATO* | Edição do dia 28/10/2020 - Matéria atualizada em 28/10/2020 às 04h00

Foto: Divulgação
 

Dos tempos da pracinha na Pajuçara até a calçada do Rex Bar no Jaraguá, muita coisa mudou. Além da recepção dos públicos mais novos e do entrosamento da velha guarda com o novo galpão, o projeto tem uma causa muito maior, a revitalização do Jaraguá como polo importante na vida noturna maceioense. O projeto “Quartas de Jazz” está acontecendo do lado de fora do Rex Jazz Bar, como medida de prevenção à Covid-19, e mesmo com todas as mudanças impostas, a primeira edição foi um sucesso, segundo o produtor e artista Filipe Mariz. Nesta quarta-feira (28), ocorre a segunda edição do projeto. “Sucesso absoluto, tivemos todas as mesas ocupadas. Teve até gente que precisou ir embora por não ter mais mesas disponíveis, já que estamos trabalhando com a capacidade limitada. Sentimos também que houve um clima de saudosismo muito grande, alegria e um fervor. A interação foi bacana, tanto da banda quanto do público presente, foi de fato um momento de encontro”, diz. A volta do projeto teve a banda The High Club como protagonista e deixou o público entre a nostalgia e a expectativa para as próximas edições. De acordo com Júnior Braga, músico do grupo de jazz, o retorno do projeto ao Jaraguá possui um significado especial, ainda mais por ser em um momento de retomada após o longo período de distanciamento. “As quartas no Rex são clássicas. Sem palavras. São muitas coisas acontecendo simultaneamente, voltar significou muito. Foi no Rex que a The High começou a fazer o som que faz hoje e a volta acontece no momento em que estamos preparando novos lançamentos”, adianta o artista. “A The High Club já está com um CD pronto. Em breve vamos divulgar as datas. Se chama ‘A Era de Ouro do Apocalipse’ e está entre a nostalgia e o afrofuturismo”, revela Braga. Para quem quiser acompanhar a banda, a The High Club possui um álbum (Dualidade), um EP (Going to China) e o single Tropical Vibes disponíveis nas plataformas de streaming.


HOJE TEM JAZZ

Agora, para a segunda edição, o artista da vez é Ricardo Lopes, um dos pioneiros do estado no gênero. Ele se apresenta com Van Silva, no baixo, e Jarlandson Araújo, na bateria. Essa será a primeira vez deles no formato, longe dos espectadores e com distanciamento social. Apesar disso, a expectativa é grande. Mariz reforça que para a edição de hoje (28), os cuidados permanecem e só será permitido ficar sentado e de máscara, podendo retirar a máscara somente para comer ou beber. Ele também adianta o que vem a seguir. “Estamos pensando em coisas boas de se apreciar, música boa, movimentações culturais bacanas, onde você não necessariamente precise dançar para se divertir. A gente tá tomando muitos cuidados com as medidas de segurança e o distanciamento, estamos cumprindo tudo. A ideia é que as pessoas curtam a noite com segurança”, completa. Para as semanas vindouras, o planejamento é explorar também outros ritmos. Já na próxima quinta-feira (29) será a vez do samba - e feito por mulheres. “Trazer o jazz para um público relativamente novo está sendo uma tarefa difícil, mas muito gostosa. Eu gosto de jazz, é uma alegria muito grande voltar com o movimento. É muito bom ver que a turma jovem tá abraçando e trazendo sempre novidades, coisas mais modernas juntos com o jazz. Ele foi o start, mas na quinta teremos samba e para inaugurar estaremos com o ‘Tamboricas’, um grupo feminino. Acredito que as pessoas saem de casa não apenas para ouvir música e sim, para terem uma experiência, e vamos proporcionar isso”, completa Filipe Mariz. Além das noites de jazz, o Rex Bar terá outros atrativos, terá karaokê em algumas quintas e às sextas e sábados serão dedicados à música pop e ao rock. No próximo mês, a ideia é voltar a realizar shows especiais e festas. O produtor também explica que nas noites de karaokê, as espumas dos microfones serão individualizadas, uma outra medida para dar mais segurança ao público. Além do Rex, casas de shows e boates do Jaraguá também voltaram a funcionar essa semana. Uma das boates está divulgando um calendário de festas nas redes sociais, inclusive festas de halloween e até feijoadas.


RAÍZES DO JAZZ

Em Maceió, bem antes de Hélvio Gama instalar o jazz na praça da rua Dr. Antônio Pedro de Mendonça e fundar o Rex Bar, um grupo já levava a música instrumental para o bairro de Garça Torta, em frente ao mar. Hélvio conta, sempre bem-humorado, que quando precisaram encerrar as atividades foi que veio a ideia de fazer algo para manter a tradição. “A história da praça, as pessoas dizem muito que foi uma sacada incrível, mas na verdade não foi bem assim. Eu estava procurando um lugar para fazer uma pastelaria, vender pastel de vento, e pensei num ponto de ônibus que teria muito movimento. Quando surgiu a pracinha pra mim, eu vi que não dava para pastelaria e sim pra boteco. A ideia do nome foi um resgate que eu fiz do antigo cinema de bairro que tinha na cidade.”

Ele ainda completa que, apesar do sucesso, nada foi planejado para ser daquele jeito. Tudo foi acaso e muita sorte. “A princípio, a intenção não era fazer música ao vivo, a intenção era manter só oito mesas com jazz mecânico tocando. Quando Derico, amigo meu, veio para Maceió e pediu para dar uma canja no bar foi a primeira apresentação ao vivo que tivemos. E esse ‘showzinho’ teve participação do trio composto por Carlos Bala, Ricardo Lopes e o Van Silva. Ainda tinha um saxofonista americano que morava aqui. Foi incrível”, completa. Hélvio foi o fundador do Rex, mas, na época, nem imaginava o que poderia acontecer com o bar e com a cultura do jazz em Maceió. Ele conta que tem muitas histórias com o estabelecimento e uma memória afetiva muito forte, mas que, apesar disso, não pode se prender ao passado e agora prestigia o caminhar que seu negócio faz. “O bucolismo da pracinha e os velhos hábitos, como o de antigamente, de namorar na praça, trouxe a população de volta pra praça do Rex. Eles ficavam ali e a maioria assistia de graça porque 80% das pessoas ficavam em pé, nos bancos, às vezes levavam cadeira de praia, era fantástico. Foi quando desagradou alguns dois ou três vizinhos com o som e a prefeitura nos pediu para sair. Eu sinto uma saudade amena, não tem mais volta, não posso prender a minha vida a isso. Mas tenho uma forte memória afetiva, já fui até convidado para casamento de duas pessoas que se conheceram na praça, foi uma honra.” Ele confessa que a nova administração está fazendo um bom trabalho com o galpão, principalmente agora, com as campanhas de combate à pandemia e atuando como aliados do bairro histórico. “Essa nova geração teve a ideia hiper bacana, hiper original com o Quartas de Jazz porque a ideia de ser às quartas foi minha e o jazz também, agora, na calçada, foi uma sacada muito boa e mérito deles. Primeiro pela questão da pandemia e segundo que vem também a tona essa questão de reviver o jaraguá, que eu acho que seria salutar para a cidade, para o turismo cultural a ideia de voltar com o jaraguá revitalizado nesse sentido. Achei fantástico, estão de parabéns o Marquinhos [Marcos Bruno] e o Filipe [Mariz] que estão tocando o Rex nesses meses. Na quarta-feira estarei lá prestigiando”, finaliza.

* Sob supervisão da editoria de Cultura.

Mais matérias
desta edição