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Nº 5693
Caderno B

‘TENET’ É ESPETACULAR, MAS NÃO TEM GENIALIDADE DE NOLAN

Para muitos, filme mais aguardado do ano pode ser uma decepção, diz crítica

Por CÁSSIO STARLING CARLOS/ FOLHAPRESS | Edição do dia 28/10/2020 - Matéria atualizada em 28/10/2020 às 04h00

Apesar de algumas salas fechadas, Tenet estreou nos cinemas nos EUA e China
Apesar de algumas salas fechadas, Tenet estreou nos cinemas nos EUA e China - Foto: Divulgação
 

“Christopher Nolan, um dos maiores nomes do cinemão.” “’Tenet’, o filme que vai salvar a lavoura de 2020 do cinema (indústria e exibidores).” Ambas as afirmações são válidas, o que não impede o mais aguardado filme do ano de ser uma decepção. “Tenet” oferece tudo o que se espera do cinema-espetáculo -grandes momentos de ação, um vilão complexo, cenas em locações deslumbrantes, uma personagem feminina vítima da masculinidade tóxica e, mais importante, uma trama engenhosa. O universo de ficção especulativa dá o motivo –o tempo e seus paradoxos– que atrai Nolan desde seus primeiros trabalhos. Aqui, não é só a ordem cronológica das sequências que o diretor altera. O nó da trama é um algoritmo que inverte os movimentos no tempo. Em vez das convencionais viagens rumo ao passado ou ao futuro mil vezes contada na ficção científica, o palíndromo “Tenet” anuncia uma tecnologia de vaivém, uma reversão temporal que possibilita a ação do futuro sobre o presente, assim como a sobreposição de temporalidades em camadas. A ideia corresponde à explorada por Nolan em “A Origem”, no qual se suspendia a distinção entre a dimensão real e a sonhada. Esses temas estão por aí desde o início da história do cinema, mas Nolan os soube reativar combinando teoria e entretenimento, criando filmes imersivos que fazem pensar, inoculando subtextos em gêneros ultracodificados e, assim, provocando milhares de “interpretações” nas redes sociais. O que falta a “Tenet” é esse “toque Nolan”, a ambição e a desmesura que alçaram o diretor britânico ao posto de prestígio que ele ocupa na indústria e junto ao público. A ambição se revelou na inversão da cronologia em “Amnésia”, de 2000. A desmesura ganhou força em meio à trilogia de Batman, com “A Origem”, de 2010, e, sobretudo, “Interestelar”, de 2014, filmes em que Nolan alcançou o complexo equilíbrio entre experimentação narrativa e especulações metafísicas sem precisar trair as qualidades comerciais. “Dunkirk”, de 2017, seu penúltimo longa, anunciava uma expansão do viés conceitual ao explorar a dimensão sensorial da sala de cinema e, assim, demarcar a diferença de intensidades entre as múltiplas formas de exibição hoje disponíveis.

Segundo essa lógica, “Tenet” parece um recuo. É como um 007 assinado por um diretor de primeira linha. Entretém, mas não gera especulações. É espetacular, mas pouco imersivo. É tenso, mas não tanto quanto o medo que sentimos quando alguém espirra, tosse ou pigarreia dentro do cinema.

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