Caderno B
IVANA IZA
ENTREVISTA: Ao completar 25 anos de carreira, atriz reflete sobre a trajetória e sobre as mudanças na cena teatral de Alagoas


Ivana não queria ser artista. Ainda nos tempos de escola, a atriz mais prestigiada do teatro alagoano pensava mesmo era em fazer medicina. De certa forma, ela realizou o sonho de curar, mas cura com sua arte, a cada sessão de espetáculo. Ivana Iza completou 25 anos de carreira, no dia 25 de novembro, e celebrou com uma live nas redes sociais, quando convidou amigos e seguidores para uma conversa surpresa sobre vida, alegria e gratidão. A atriz acumula marcas expressivas: são dezenas de prêmios nacionais, regionais e locais; uma filmografia que a orgulha, com filmes como Deus é brasileiro (2003) e O Que Lembro, Tenho (2012); além de um público cativo. Há uma década, Ivana levou mais de 50 mil alagoanos aos teatros para assistir “Devassas – O que as mulheres gostariam que fizessem com elas na cama”. Nos últimos anos, além de repetir o sucesso de Devassas com o espetáculo “A Velha”, em que atuou como atriz, roteirista e produtora, a artista luta para abrir definitivamente as portas do Theatro Homerinho, empreendimento dela e do marido, o escritor Tainan Costa Canário, no Jaraguá. Aos 42 anos e mãe da menina Cora, a atriz está cheia de planos para o próximo ano e segue afiada nas ideias e nas palavras. Ela concedeu uma entrevista ao Caderno B e refletiu sobre as próprias realizações, as parcerias, política, analisou as lições do período de isolamento social e falou muito, claro, da sua maior paixão: o teatro. Se antes ela queria ser médica, hoje não há quem lhe convença a fazer outra coisa. Ivana Iza se identifica como uma operária da arte.
Gazeta de Alagoas - Como começou a sua relação com o teatro?
IVANA IZA - Começou na escola, no Ensino Médio. Eu não tinha pretensão alguma de ser atriz, queria ser médica. Na época, 1995, o professor Mário Lima, professor de literatura, montou um grupo na escola e uma amiga minha teve um problema, o pai a proibiu de fazer o espetáculo. E como eu participava de muitas atividades culturais na escola, o professor perguntou se eu poderia substituí-la. Eu não cheguei a encenar porque ela voltou para o espetáculo. Eu lembro que eu fiquei muito chateada, porque eu ensaiei mais de um mês, mas ela acabou voltando. Depois eu compreendi que o papel era dela mesmo. Nesse meio tempo, eu comecei a ensaiar com a Dona Maria Leônia, que era uma mulher maravilhosa, uma mulher preta, incrível, uma das mulheres mais incríveis que eu conheci nessa vida. Aí eu atribuo muito do que eu sou à Dona Maria Leônia, que me viu, olhou pra mim, e me chamou de Ivana Iza. Eu disse “desculpa, mas eu não gosto de ser chamada pelos dois nomes”. Ela olhou pra mim e disse “ah, minha filha, você ainda vai amar tanto ser chamada pelos dois nomes. Ainda vai amar tanto ser chamada de Ivana Iza”. E eu comecei a amar o meu nome completo, os meus dois nomes.
E tinha a efervescência dos festivais estudantis, muita gente importante de hoje saiu desses festivais, Flávio Rabelo, René Guerra, Waneska Pimentel, Denilson Leite, Aline Martins. E nesse festival eu ganhei o prêmio de Melhor Atriz. Então tudo começou.
Muitas coisas mudaram de lá pra cá…
Sim, muita coisa mudou na minha carreira, com certeza. Ela foi para lugares mais amplos, muito mais potentes. Eu comecei, lá atrás, trabalhando com vários grupos e diretores. Depois, fiquei 13 anos com a Associação Cultural Joana Gajuru, onde produzimos muito, viajamos muito, fomos muito premiados nacionalmente, participamos de muitas caravanas, Funarte, BNB, enfim, foram anos de muito sucesso fora daqui. Eu queria que fosse sucesso aqui - e que bom que fui - em momentos muito importantes, consegui fazer o público se inteirar mais sobre o que é o teatro e o que é uma atriz alagoana. É muito lindo ser reconhecida pelas pessoas daqui.
Mas acho que uma das mudanças pessoais mais importantes é o fato de você ter se tornado mãe. Como isso impactou a sua visão de mundo?
Com o nascimento da Cora, mudou tudo. Mudou minha percepção de mundo, mudou a questão de eu estar conduzindo uma pessoa a se tornar um adulto, ajudando no que posso nessa compreensão de universo, que é o papel do adulto. Porque a criança não nasce preconceituosa, não nasce cheia das quizilas que a gente costuma carregar na vida. Ter a Cora abriu um espaço de impacto muito grande. A Velha, meu mais recente espetáculo, é um reflexo muito grande da minha maturidade como mulher e como mãe. Ela me trouxe um equilíbrio, uma tranquilidade, diminuiu a minha ansiedade, me colocou num lugar de contemplação muito poderoso. E eu passei a produzir muito mais depois da Cora. Eu escrevi A Velha, escrevi outros dois espetáculos que ainda vão estrear, escrevi um livro infantil, escrevi um roteiro pra cinema, estou escrevendo um segundo roteiro. Então, a Cora só abriu a minha cabeça, porque olhar para ela é olhar para o mundo, é olhar para a esperança, é olhar pra uma mulher com força, com palavra, uma mulher dona da sua existência nessa terra. É isso que me faz olhar para a Cora sempre com muita certeza de que é muito lindo ver pessoas nascendo. Ela é uma criança poderosíssima, é fantástico, é lindo ver e pensar - nossa saiu de mim! Como o espiritual é generoso, como Deus foi lindo me dando essa criança.
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