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Nº 5856
Caderno B

MILEY CYRUS MIRA ROCK OITENTISTA EM ÁLBUM DESPIDO DE SUA OUSADIA

Álbum tenta dar tratamento pop ao ritmo, mas o caminho só é novo na carreira da cantora

Por LUCAS BRÊDA/ FOLHAPRESS | Edição do dia 01/12/2020 - Matéria atualizada em 01/12/2020 às 04h00

Ecos e auto-tune fazem com que cantora soe nem um pouco selvagem no disco
Ecos e auto-tune fazem com que cantora soe nem um pouco selvagem no disco - Foto: : Divulgação
 

“Plastic Hearts”, novo disco de Miley Cyrus, chega agora aos serviços de streaming, mas começou a ganhar forma há algum tempo. Nos últimos anos, em ocasiões diferentes, a artista apareceu cantando versões de músicas de The Smiths, Blondie, Led Zeppelin, The Cure e The Cranberries, entre outros. O som dessas bandas é a base de “Plastic Hearts”, sétimo álbum de Cyrus, que tenta dar tratamento pop e moderno aos sintetizadores e batidas com eco do rock dos anos 1980 e do new wave. Mesmo que um tanto óbvio, esse é um caminho novo na carreira da cantora, que deixou de ser a estrela adolescente da Disney atuando como a personagem Hannah Montana, no começo da última década. Desde então, Cyrus fez sua carreira flutuando entre estilos musicais. Seu apogeu no mundo pop foi em 2013, época em que ela rebolou na frente de Robin Thicke no VMA de 2013, causando um alvoroço. A cena icônica, junto ao disco “Bangerz” e o single e clipe “Wrecking Ball” era o recado que ela precisava passar antes de deixar a persona infantilizada para trás. Aos 28, Cyrus já gravou um disco experimental com a banda de rock psicodélico Flaming Lips, “Her Dead Petz”, de 2015, e seu último álbum, “Younger Now”, de 2017, é uma incursão segura e mais comportada pelo country. A cantora é filha de Billy Ray Cyrus, famoso artista do gênero nos Estados Unidos. Agora, já na faixa-título, a segunda do disco, Cyrus solta a voz numa mistura pop de solos de guitarra e bongôs. “Angels Like You” parece uma balada pop rock que poderia tocar nas rádios nos anos 1980 ou na década seguinte. O single “Prisoner”, parceria esperta com Dua Lipa – uma das artistas do momento –, é uma das empreitadas mais bem sucedidas do disco. Elas cantam que estão numa espécie de prisão mental e que não conseguem se livrar de uma paixão, no que parece um meio do caminho entre o rock-retrô de Cyrus e o disco-retrô de Lipa, guiado pelo baixo suingado. Billy Idol, clara referência na atual fase da cantora, empresta seus graves profundos a “Night Crawling”, uma música que já nasce datada. Joan Jett, ícone do Blackhearts, aparece em “Bad Karma”, um rock mais básico, em que as duas cantam que não se apaixonam, não se importam e, por isso, fazem o que querem. A maior força em “Plastic Hearts” é a voz de Cyrus, uma das cantoras tecnicamente mais competentes do pop atual. Seus gritos e vocais rasgados encontram um caminho aberto para se destacar, ainda que soem menos poderosos com o tratamento limpo demais. Ao mesmo tempo que é uma prática quase indispensável no pop pós-anos 2000, os ecos e o Auto-Tune impedem que Cyrus soe de fato selvagem -o que deixaria o disco um tanto mais ousado e a aproximaria de sua persona pública errática e geralmente mais interessante que a própria produção fonográfica da cantora. Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, ainda colabora com Cyrus em “Edge of Midnight”, que é um remix do single “Midnight Sky”, lançado antes do disco. Dançante, é uma das faixas mais instigantes do álbum, com um refrão explosivo, encorpada pela energia de Nicks. Em “Plastic Hearts”, Cyrus parece ainda mais confortável que em “Younger Now”, já que contempla melhor sua faceta contestadora mas com uma estética menos amalucada que a de “Her Dead Petz”. Ainda assim, como na maiorias das letras, o disco soa familiar de uma maneira ingênua, óbvia como a capa rosa choque, com a cantora de luvas pretas, correntes no pescoço e mullets. É como se Cyrus estivesse tentando fazer com o rock oitentista de sintetizadores o que Dua Lipa fez com a música disco em seu “Future Nostalgia”. No entanto, enquanto Lipa incorpora suas referências ao despir e transformar o estilo, Cyrus parece só reforçar as próprias, o que dá ao disco uma sensação nostálgica diferente. Em vez de trazer o rock que fez sua cabeça para o presente, é Cyrus quem parece voltar ao passado, emprestando os teclados de Billy Idol ou o discurso de Joan Jett, mas não a energia roqueira dos ídolos. Estranhamente, em seus dois últimos álbuns, Cyrus soa mais como uma ex-cantora da Disney -a mesma que regravou a clássica “Girls Just Wanna Have Fun”, de Cyndi Lauper, em 2008, no disco “Breakout”- do que com a artista inquieta de cinco ou sete anos atrás.

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