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Caderno B

DO AVESSO AO VERSO

Alagoano João Vitor Ferreira estreia na literatura com livro autobiográfico sobre a luta contra a depressão

Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 06/01/2021 - Matéria atualizada em 06/01/2021 às 04h00

“[...] Um passeio pela cidade noturna da minha alma”. É assim que o poeta alagoano João Vitor Ferreira descreve o livro “Do Avesso ao Verso”, lançado em dezembro de 2020 e disponível em versão digital na Amazon. O e-book, que é o livro de estreia do escritor de 22 anos, é um compêndio corajoso da vivência de João Vitor com a depressão e da sua trajetória de luta contra a doença.

Nos 50 poemas autobiográficos, o artista expõe questões existenciais comuns ao universo literário, como o desamor e o amor, mas sob a ótica de quem está vivendo uma batalha interior. Essa luta contra a depressão, doença que é considerada uma epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não é romantizada pelo jovem estudante de jornalismo. Pelo contrário. De acordo com João, a literatura sempre lhe serviu como uma forma de desabafar sem fugir dos sentimentos. Solidão, tristeza e angústia são abordados em sua escrita, a exemplo dos poemas “Barco sem rumo”, “Ilusão”, “O retorno de Saturno” e “Autorretrato”.

“Eu costumo dizer que o Do Avesso ao Verso é um passeio pela cidade noturna da minha alma. Cidade essa, onde eu fiquei acordado várias madrugadas, sendo devorado por um turbilhão de pensamentos e sentimentos malignos. A depressão realmente é uma doença que, em um estágio avançado, te impede de levantar da cama, comer, sair com os amigos, ter relações afetivas e até mesmo tomar um banho. É uma luta contínua que venho enfrentando há anos, e agora decidi compartilhar com o público, porque falar sobre saúde mental é extremamente importante”, revela o poeta.

O autor reuniu poemas de 2017 a 2020, que estavam guardados em cadernos e blocos de notas. A ideia principal é compartilhar suas experiências enquanto pessoa depressiva, mas também fazer um apelo para que quem passa por qualquer transtorno mental busque ajuda.

“Durante muito tempo eu não enxerguei a luz no fim do túnel, mas sempre escrevia para não ser devorado com as palavras presas na garganta. Escrever me ajuda muito nos momentos de crise, no entanto, a ajuda de um profissional foi fundamental para que eu conseguisse entender meus problemas emocionais e aprendesse a lidar melhor com eles. Se você passa por algo parecido ou tem algum outro transtorno, não sofra em silêncio, procure a ajuda de um amigo, de um especialista, e lembre-se que você não está só.”


Foto: Vivi Leão/TV Gazeta
 

À MODA ANTIGA

Em uma recente entrevista à jornalista Vivi Leão, do G1 Alagoas, João Vitor Ferreira revelou que teve uma infância solitária, preenchida pela intensidade de “Carlos Drummond de Andrade, a melancolia de Álvares de Azevedo e a sensibilidade de Cecília Meireles”. Não demorou para que o jovem extraísse daqueles poemas o substrato para sua própria criação. O inusitado, é que ele escolheu uma máquina de escrever e folhas em branco como companheiras de viagem.

“A cada texto que escrevia após uma frustração, uma decepção, eu percebia que eu ficava mais leve. E os autores, bem, eu fiquei impressionado como alguém conseguia escrever e expressar tudo o que estava guardado no peito. Hoje gosto muito dos autores da geração beat. Charles Bukowski, por exemplo, falava muito das suas dores e, assim como ele, eu não tenho medo de expor as minhas camadas mais profundas”, afirmou.


A ARTE COMO TERAPIA

O escritor aproveita a divulgação do novo livro para falar sobre o enfrentamento da doença de maneira objetiva, mas também para promover a arte enquanto ferramenta terapêutica. 

“Sempre fui ligado à arte. Quando era criança tinha um ateliê onde eu pintava, costurava, fazia objetos de decoração. Nise da Silveira, uma importante psiquiatra, foi uma das que introduziram a arte como forma de terapia para pessoas com transtornos mentais. Eu acredito que a arte é um catalisador da alma humana. Quando a gente escreve, pinta, a gente não pensa em decepção, nos boletos atrasados, nas dores”, disse o artista ao G1.

Do Avesso ao Verso é dividido em quatro capítulos: Brejo das almas, Corvos sobre a plantação de trigo, Sinfonia da desilusão e Tulipas.


Foto: Vivi Leão/TV Gazeta
 

“É a minha trajetória na luta pela sobrevivência. No capítulo quatro, eu termino com o poema chamado Aprendiz. Nele, digo que a minha rima continua viva e que sigo buscando forças para sair do naufrágio. A mensagem é clara: o amanhã pode ser sempre mais colorido e cheio de possibilidades”.

Publicado na Kindle Direct Publishing (KDP), uma unidade de livros eletrônicos da Amazon, o e-book custa R$ 9,90. Para comprá-lo, basta acessar o site e fazer o download do arquivo, que pode ser lido em smartphones, tablets e computadores.

O autor, que prepara outros trabalhos para lançar ainda em 2021, pode ser encontrado na internet, em duas páginas no Instagram: @vicktorjoao_ e @poetasemanimo.

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