O Theatro Municipal de São Paulo está aberto. Cortinas escancaradas, a parede nua ao fundo, coxias expostas. É neste cenário que o Balé da Cidade volta a se apresentar depois de um ano fora dos palcos. Com duas estreias, a companhia de dança municipal retorna à casa para sua temporada de 2021.Os espetáculos começam agora e vão até o fim desta semana.
“A Casa” é nome e tema da coreografia de Marisa Bucoff, bailarina que está há 21 anos na companhia. Sua obra abre o programa e fala do presente. “A volta ao teatro que é nossa casa, as experiências do confinamento e seus efeitos no corpo, também nossa casa, a primeira”, resume a coreógrafa.
Depois vem o “Transe”, de Clébio Oliveira, uma rave do fim do mundo que condensa passado e futuro. Desde 2006, Oliveira sonhava em coreografar um ritual futurista para o Balé da Cidade. Só em novembro do ano passado foi convidado a trabalhar para a companhia.
Ele acredita em coincidências -sua ideia inicial de coreografar um êxtase coletivo é, também, a realidade por ele imaginada para os corpos do futuro pós-pandêmico.
Coincidência ou não, são duas obras complementares. O clima intimista de “A Casa” extravasa para a libertação de “Transe”, ambos contornados por limitações e inquietações atuais.
O elenco inteiro do Balé da Cidade estará em cena. São 17 bailarinos em cada uma das duas obras do programa. Seguindo os protocolos sanitários, eles devem usar máscaras ou manter entre eles a distância de cerca de três metros, salvo os profissionais que já convivem na esfera privada. É o que acontece quando dois bailarinos casados na vida real transformam em coreografia uma DR em torno da mesa de jantar, em “A Casa”.
Outros pas-de-deux acontecem, respeitando a proibição de contato físico. Para isso, Bucoff, a coreógrafa, usa biombos com telas acrílicas, como aquelas adotadas em alguns bares e estabelecimentos comerciais. Corpos colados mas separados pela barreira transparente dançam assim as carícias, os beijos e os abraços possíveis.
Mesa, cadeiras, sofá, poltronas, biombos e uma escada com rodinhas que desliza sobre o palco e faz as vezes de morada de bailarinos solitários são os únicos elementos cênicos da coreografia.
A ausência de cenário, parte dos protocolos determinados para a criação do espetáculo, além de evitar diversas mãos tocando a mesma superfície, facilita a transição de cena. Não há intervalo entre as duas coreografias.
Com as cortinas abertas, em cinco minutos os funcionários do teatro limpam o palco às vistas da plateia, que permanece em suas cadeiras -não é dessa vez que o público -limitado a 35% da capacidade total do teatro- vai matar as saudades das filas intermináveis para os banheiros do Municipal.
O programa também será transmitido ao vivo no YouTube, em duas partes. No sábado, dia 27, transmitem “A Casa” e, no domingo, dia 28, “Transe”.
Mudam a cena e o clima. No palco escuro, surge o primeiro ser da rave concebida por Clébio Oliveira, coreógrafo brasileiro radicado em Berlim. O bailarino solitário em busca do lugar da festa é uma espécie de inseto de ficção científica, com duas lanternas como olhos iluminando uma terra devastada.
Serviço:
TRANSMISSÃO AO VIVO DE ‘A CASA’
Quando: Sábado (27), às 20h
Onde: YouTube do Theatro Municipal de SP
Quanto: Grátis
Link: https://www.youtube.com/user/theatromunicipalsp
TRANSMISSÃO AO VIVO DE ‘TRANSE’
Quando: Domingo (28), às 17h
Onde: YouTube do Theatro Municipal de SP
Quanto: Grátis
Link: https://www.youtube.com/user/theatromunicipalsp