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Caderno B

UM PEQUENO E GRANDIOSO PALCO

Teatro de Arena Sérgio Cardoso celebra 50 anos de história e é visto como templo democrático das artes em Alagoas

Por THAUANE RODRIGUES (Estagiária)* | Edição do dia 14/07/2022 - Matéria atualizada em 14/07/2022 às 14h20

Diverso, aberto e aconchegante, o Teatro de Arena Sérgio Cardoso comemora meio século de muita história para contar. Criado em 14 de julho de 1972 e idealizado pelo ator Bráulio Leite Júnior, durante seu período de direção do Teatro Deodoro, há cinquenta anos o equipamento cultural vem abraçando e marcando a cultura de Alagoas.

Com capacidade para duzentos espectadores e construído no local onde existia o antigo Bar Deodoro, o espaço surgiu na cena alagoana com o espetáculo “O homem da Flor na Boca”, de Luigi Pirandello, que tinha o elenco composto por Sérgio Cardoso, Jardel Melo e a atriz alagoana Nana Magalhães. Após um mês de inaugurado, ganha o nome de Teatro de Arena Sérgio Cardoso devido ao falecimento do ator.

Em um ambiente aconchegante, o Arena tornou-se a casa de grupos de teatro amador de Maceió, que mesmo com os obstáculos impostos pela Ditadura Militar se mantiveram atuantes, como a ATA - Associação Teatral das Alagoas, liderada por Linda Mascarenhas. Com 18 apresentações e plateia lotada, o espetáculo “Hoje é dia de Rock”, foi o primeiro grande sucesso de crítica e público, no Teatro de Arena Sérgio Cardoso.

“Eu fico muito emocionado em ver o Teatro de Arena completar 50 anos. Comecei a fazer teatro, em 1971, no Teatro Deodoro, mas logo no ano seguinte, participando da ATA, o grupo de Linda Mascarenhas, fizemos o ‘Hoje é dia de rock’ no Teatro de Arena, recém-inaugurado. Fico muito feliz que esse grandioso templo do teatro alagoano esteja sempre funcionando”, conta Ronaldo de Andrade, artista e presidente da Associação Teatral das Alagoas.

“Quem faz teatro sempre passa por momentos marcantes e, no Teatro de Arena, foi onde eu tive uma atuação que foi mágica, foi onde eu recebi meu primeiro aplauso em cena aberta, naquele momento eu iniciei minha trajetória dentro do teatro de forma mágica e vivi momentos incríveis”, relembrou ele.

Jornalista e artista alagoana, Gal Monteiro conta que o equipamento cultural foi responsável por proporcionar momentos incríveis de sua vida. ela estava na plateia quando a ATA estreou no palco do Arena.

“O Teatro de Arena Sérgio Cardoso é um ícone do teatro alagoano, um dos capítulos mais lindos de sua história que ele ajuda a contar. Eu era adolescente quando a ATA apresentou o belíssimo espetáculo ‘Hoje é dia de Rock’, fiquei absolutamente fascinada com a atuação do Zé Márcio, da Luísa Dáurea e do Jorge Barbosa, entre outros grandes atores em cena”, disse Gal.

“Assisti ao espetáculo 5 vezes, sempre dançávamos no palco, iluminados pela luz estroboscópica, ao final de cada apresentação. Eu me transportava para aquele universo mágico e, junto com uma amiga, reproduzia, em um gravador, as cenas da Linda Mascarenhas, por exemplo. Acabei namorando e me casando com o Jorge Barbosa e a culpa foi daquele momento”, completou a artista.

Com um histórico diverso e repleto de arte, a chegada do Arena revolucionou a forma de fazer teatro em Alagoas. De acordo com o veterano Ronaldo de Andrade, o Teatro de Arena abriu uma porta inovadora para o teatro local, que antes da sua chegada era um teatro submetido sempre às condições do palco italiano e custos muito altos.

“Em uma cidade que só tinha o Teatro Deodoro, o Arena trouxe a mudança da estética dos espetáculos locais e a possibilidade de mais gente fazer teatro, em um local decente, afinal, nem todos os grupos têm condições de fazer um espetáculo no Teatro Deodoro e com o Arena esse problema foi sanado. A gente vai chegando em uma idade e tudo passa a ser celebração, 50 anos é um acontecimento muito importante para um teatro, principalmente para um teatro público”, disse o presidente da ATA.

Entre milhares de histórias contadas, o Teatro de Arena Sérgio Cardoso marcou a vida de diversos artistas alagoanos nesses 50 anos de existência, sendo, para muitos, um narrador da história do teatro alagoano.

Para a atriz Ivana Iza, celebrar os 50 anos do equipamento é comemorar também a esperança de um futuro potente em relação à cadeia produtiva cultural.

“Manter um teatro em atividade, vivendo, promovendo ação, espetáculos, shows e com formação de plateia é uma alegria, uma esperança, é olhar para o presente e entender que o futuro é lindo. É um teatro que resiste, que tem plateia aplaudindo, em atividade, alimentando a cultura local, a cultura popular com espetáculos com os mestres alagoanos, cantigas ancestrais, valorizando os antigos, são 50 anos de um teatro aberto. É um teatro pequeno, mas que nos acolhe, nos abraça e nos deixa confortável demais”, disse a atriz.

Alexandre Holanda, gerente artístico-cultural da Diteal, afirma que é um desafio manter o equipamento cultural vivo e vê-lo completar meio século de existência é um marco na história da cultura de Alagoas.

“Celebrar os 50 anos de fundação do nosso célebre Teatro de Arena Sérgio Cardoso é um momento de grande emoção, é celebrar a importante atuação desse nobre palco alagoano, que se mantém ativo e com uma grade de ocupação rica, recebendo grandes talentos artísticos, local e nacional”, disse ele.

“É impossível não criarmos uma relação visceral com o Teatro de Arena Sérgio Cardoso, existe afetividade e compromisso, você cria uma extrema necessidade de realmente mantê-lo vivo, atuante, vibrante, cumprindo sua missão junto à comunidade, com o palco ocupado por atores, músicos, dançarinos, enfim, e uma plateia cativa, posso dizer com propriedade, eu amo o Teatro de Arena Sérgio Cardoso”, completou.

“TEM UM PEDAÇO DE MIM ALI DENTRO”

Proporcionando pautas acessíveis e sempre de portas abertas para novos e experientes artistas, de forma democrática e diversa, durante 50 anos o Teatro de Arena vem proporcionando às gerações que vivenciam o local momentos de pura cultura e arte, se mostrando primordial para a manutenção da produção da arte alagoana.

Segundo Gal Monteiro, o Teatro de Arena Sérgio Cardoso é um espaço que serviu e serve de força para o ator iniciante, que necessita do aconchego e da proximidade física com o público.

“O Arena tem realizado um trabalho grandioso na promoção, valorização e difusão da arte/cultura, trazendo ao palco um caldeirão de expressões do talento local, nacional e internacional. Vejo esses equipamentos como imprescindíveis, essenciais à afirmação e reafirmação do fazer cultural. Particularmente, em relação à cena alagoana, o Arena celebra a arte e a cultura como identidade, com a feição que devem ter essas expressões: diversas, plurais, vivas e essenciais”, disse ela.

Com mais de 26 anos de carreira e diversos momentos vividos no Teatro de Arena, para Ivana Iza, o equipamento é de suma importância para Alagoas, pois promove a diversidade e pluralidade do artista.

“É fundamental a presença do Arena no estado para a cadeia produtiva cultural, porque ele dá a oportunidade de você realizar seus trabalhos, seus projetos, mesmo sendo um teatro de pequeno porte. Ele representa minha trajetória, eu fiz dezenas de espetáculos dentro do Teatro de Arena Sérgio Cardoso, muitas apresentações infantis, adultas, fiz performances, participei de debates importantes para a cultura local dentro daquela casa. Tem um pedaço de mim ali dentro”, afirma.

“Um equipamento cultural por si só já é muito importante, ainda mais quando ele resiste por 50 anos. O Arena é para todos, independente de quem seja, é feito para artistas em toda sua diversidade e ele promove a importância do artista. Ele vem para fortalecer a cadeia produtiva cultural, porque ele acolhe as pessoas de forma diferenciada, ele constrói um movimento cultural muito amplo, repleto de vertentes, com polarização das diferenças. Mil vivas aos 50 anos do Teatro de Arena, que possamos levar outras gerações a compartilhar desse pequeno palco tão grandioso”, finalizou ela.

*Sob supervisão da editoria de Cultura

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