"Yes, Mamãe! Mamãe, Yes!"
Filhinhos da Mamãe celebra 40 anos de folia com baile e exposição foto
Baile das Esmeraldas será no dia 10 de fevereiro, às 20h, no Museu Théo Brandão

Maylson Honorato | 30/01/2023 às 16h33

Uma folia para os artistas, para a boemia e para todos os que quiserem, mesmo que seja por uma noite, incorporar esses personagens — afinal, é carnaval. E a festa de Momo, para os foliões do bloco Filhinhos da Mamãe, um dos mais tradicionais de Alagoas, é momento de saudar a mamãe e a vida, celebrar a arte e a alegria de simplesmente ser. Este ano, o bloco não ganhará as ruas, justamente quando comemora 40 anos, mas promoverá seu Baile das Esmeraldas, que ocorrerá no dia 10 de fevereiro, às 20h, no Museu Théo Brandão, no Centro de Maceió.
O anúncio do baile empolgou os amantes do bloco, saudosos dos festejos carnavalescos, após dois anos de distanciamento em decorrência da pandemia de Covid-19. No perfil no Instagram do Museu Théo Brandão, que encabeça a retomada do bloco tradicional, não faltaram comentários saudosos de pessoas ávidas para entoar o debochado hino da agremiação: “Yes, Mamãe! Mamãe, yes!”.
“Meu Deus! 40 anos… minha gente, eu sou da primeira barrigada de Mamãe!!”, comentou a arquiteta e produtora cultural Mirna Porto Maia. “Ai que saudade que eu tava!”, completou outra seguidora da página.
EXPOSIÇÃO
Os quarenta anos de folia do bloco Filhinhos da Mamãe também ganharam uma exposição especial, chamada “40 anos de Mamãe na folia”, com fotografias que rememoram essas quatro décadas de festejos. A mostra será aberta no dia 1º de fevereiro, no Maceió Shopping, em frente ao cinema do centro de compras. A visitação ficará aberta até o dia 26/02.
Com curadoria da museóloga e diretora do Museu Théo Brandão, Hildênia Oliveira, a mostra também contará com a boneca Mamãe, o boi de carnaval e estandartes que contam a história do Filhinhos da Mamãe.
De acordo com Carmen Lúcia Dantas, museóloga e uma das fundadoras do bloco, a exposição une o passado glorioso com a contemporaneidade. “Pensar os quarenta anos do bloco Filhinhos da Mamãe é refletir sobre o modo como a tradição carnavalesca em Alagoas é revisitada e renovada. É também abrir-se para o novo não apenas na folia em si, mas nos sentidos que se formam a partir desse encontro da atualidade com a memória do carnaval”, afirma.
LÁ VEM HISTÓRIA
Era a década de 1970, e a juventude da época já se angustiava por não haver carnaval em Maceió. Os jovens artistas da Cia. Teatral Comédia Alagoense – grupo dissidente da Associação Teatral de Alagoas, fundado por Linda Mascarenhas – pegavam seus figurinos e fantasias e partiam para Salvador — no auge do movimento hippie, apoteose da liberdade — para brincar a festa de momo. O exaustivo ritual repetiu-se por anos, até que, em 1982, calhou do grupo teatral estrear a peça Estrela Radiosa, escrita por Ronaldo de Andrade e dirigida por Homero Cavalcante. Há muito já se “buchichava” a necessidade de transformar a festa que se fazia lá em uma festa aqui, em nossa capital. No espetáculo, havia um momento em que uma grande boneca era festejada com deboche por bobos da corte, seguindo o tom satírico e irônico da peça. Aquela farra no palco estava prestes a tomar as ruas, faltava apenas um empurrãozinho, ou melhor, uma marchinha.
“Aquela bonecona do espetáculo nos inspirou naquele momento: jovens, com pouca grana para ir brincar o carnaval em Salvador ou Olinda, decidimos – Everaldo Moreira, Graça Cabral, Isaac Bezerra, Thalmann Bernardes e eu – sair pelas ruas da cidade, fazendo o nosso próprio carnaval. Naquela mesma noite em que tivemos a ideia de fazer a nossa brincadeira, Moreira e eu criamos a debochada letra do Hino – Yes, Mamãe! No dia seguinte, levamos para o diretor da peça, Homero Cavalcante, a ideia do bloco e a letra da música. De pronto, ele aceitou, e com Eduardo Xavier, a quatro mãos, no piano, produziram a melodia dessa marchinha, alegre e descontraída”, conta Beatriz Brandão.
À Rua da Praia, no centro de Maceió, era o dia 4 de fevereiro de 1983 e já passava da meia-noite. Ali, brincavam pela primeira vez os “Filhinhos da Mamãe”. Vestidos de bebês, com calçolas e babadores, os filhos de Alagoas colocaram o bloco na rua, levando ousadia, exaltando a liberdade, interpretando as mais diversas personas. Um imenso teatro vivo, que mudaria para sempre a história dos carnavais de rua em Maceió. Ronaldo de Andrade, um dos fundadores do bloco, conta que o bloco impuslionou a renovação do caranval na capital. “Além de mãe de seus foliões, nossa concentração inspirou gerações. Não que sejamos melhores que os outros, apenas fomos os pioneiros. Foi desse movimento que nasceu, por exemplo, o Jaraguá Folia”.