A sorte de fazer comédia
Comediantes de AL falam sobre os desafios da arte de fazer rir
No Dia do Comediante, artistas revelam desafios e contam como se apaixonaram pela comédia

Entre piadas e boas gargalhadas, contando histórias de forma leve e em tom de brincadeira, comediantes fazem da vida seu palco. Neste domingo (26), é comemorado o dia desses profissionais que possibilitam ao público pequenas pílulas de felicidade durante cada apresentação.
Seja nos palcos dos teatros, nas ruas das cidades, nos vídeos que circulam nas redes sociais, ou nos picadeiros dos circos, a rotina de fazer o outro sorrir custa muito esforço e amor pela profissão. Entender a dinâmica da sociedade, criar roteiros, saber o tempo de cada fala e o momento certo para cada piada, vai muito além do que se pode ver nos shows.
Com leveza e de forma singular, os comediantes levam para o público os mais diversos cenários existentes, comentando temas tabus, rindo das histórias alheias e até mesmo das próprias. Para o comediante Marcos de Jesus, discutir, de forma tranquila, assuntos considerados pesados é um dos maiores marcos da comédia.

“O teatro, de uma forma geral, tem luz, traz luz para a humanidade e discute assuntos que às vezes parecem ser muito difíceis, mas que fazem parte do nosso dia a dia. Já a comédia consegue trazer de uma forma ainda mais leve que o teatro dramático, a gente vai rindo e se convencendo de certas reflexões”, disse ele.
Apaixonado pelo que faz, o profissional se divide entre os palcos e as telas dos smartphones para levar conteúdo e muitas risadas para seu público. De acordo com ele, sempre com muita cautela e afeto.
“O comediante tem que ter mil cuidados com as pessoas, saber o que dói, o que não dói, para que a gente não queira fazer graça com qualquer coisa. É necessário que a gente traga essa leveza para todos os assuntos. Mas ser comediante é muito bom! Eu tenho a sorte de fazer comédia, ela é o auge da dramaturgia, é uma luz, não só para quem assiste, mas para o artista também”, afirmou Marcos.
Acreditando na piada como uma forma de relaxamento, o comediante Naéliton Santos afirma que, mesmo sendo a profissão que faz o público rir, fazer rir é coisa séria e um privilégio dos seres humanos.

“O riso é tão sério, assim como o alimento é para o organismo. Precisamos nos alimentar dos nossos ridículos, das nossas fragilidades e das nossas incertezas. Pois assim como bem definiu Millôr Fernandes, a principal função do riso é nos colocar diante da nossa mais pura essência: somos animais. Nem deuses nem semideuses, meras bestas tontas que comem, bebem, amam e lutam desesperadamente para sobreviver. A consciência disso é que nos faz únicos, humanos”, destacou ele.
O comediante ainda ressalta a importância de se fazer comédia em Alagoas, pois, de acordo com ele, o público ainda é muito carente de atividades artísticas. Pensando nisso, Naéliton Santos está preparando um novo trabalho que irá percorrer o centro de Maceió e bairros periféricos, levando reflexões sobre o cotidiano.
COMÉDIA NA RUA

Para além dos palcos, o comediante David Oliveira, tem o teatro de rua, principalmente a comédia, como grande xodó. Trabalhando profissionalmente desde 2010, quando entrou na Universidade Federal de Alagoas, o artista afirma que “até para contar uma piada, você tem que ter um jeito” e desde a infância esse “jeito” do artista era perceptível.
David conta que depois de ir muito ao circo do Palhaço Pirulito e assistir alguns DVDs do Zé Lezin e do Palhaço Cheirozinho, passou a reproduzir piadas e os malabarismos em casa e na escola. Desde então, David nunca mais saiu do mundo da comédia. Hoje em dia, o comediante segue fazendo arte pelas ruas de Maceió, lidando com os desafios trazidos pela profissão.
“Ainda tem uma geração que não entende que fazer piada é um trabalho como qualquer outro, não é só chegar e falar qualquer texto em cima do palco, não é só colocar maquiagem e roupa colorida que vai de fato tirar umas risadas. Mas sim um tempo de estudo, observação, criação, fala, ritmo, tempo. Cada ano que passa, a luta é grande, mas pelo menos a classe artística, aos poucos, vem mudando essa realidade e vem melhorando essa comunicação”, disse ele.
“EU ACREDITO QUE A COMÉDIA QUE NÃO DIVIDE O PÚBLICO É A MELHOR”, DIZ MARLON ROSSY

Fazer as pessoas rirem sempre foi a habilidade mais proeminente de Marlon Rossy, que dedicou boa parte da carreira à comédia. Nome de maior destaque do humor alagoano no Brasil, o artista já viajou o país com suas imitações e números humorísticos.
A carreira consagrada, de mais de 25 anos, já rendeu ao comediante participações nos maiores programas de auditório da TV e o título de maior imitador do Brasil. Foi no palco do Domingão do Faustão, inclusive, que Rossy alcançou o país com o que ele consideram uma missão: fazer as pessoas felizes, nem que seja por um instante.
“A comédia na minha vida foi uma construção de muitos trabalhos que eu fui tendo. Sempre fui muito descontraído, brincalhão entre os amigos, gostava de imitar, satirizar meus colegas, e isso foi fundamental pra que eu desenvolvesse essa veia cômica do meu trabalho”, conta Marlon, que também é ator, cantor e instrumentista.
“Ser comediante em Alagoas é um pouco diferenciado. Nós temos muitos atores que fazem comédia, mas ser comediante é um desafio maior. Afinal, temos que encontrar a verdadeira identidade do sorriso, das pessoas, estudar pra ver se o que criamos tem efeito, que tipo de abordagem é necessária. É um desafio prazeroso!”, enfatiza o comediante.
No dia que reconhece a arte de fazer rir, Marlon ressalta que sua comédia não é arma para machucar e conta que ainda acredita que rir é o melhor remédio.
“Quando você sorri de algo que deixa aquele sorriso leve, que deixa a sensação da endorfina, é maravilhoso. Quando você sorri movimenta até os músculos, rejuvenesce, sorrir é uma das melhores sensações que o ser humano pode ter, além de ser uma das primeiras formas de comunicação”, defende.
Para o artista, a comédia precisa acolher, a todos e a todas.
“Eu acredito que a comédia que não divide o público é a melhor. Tenho o método de não falar de política, não falar de religião, não falar de esportes, palavrões, nada pejorativo. Eu falo da plateia, de coisas do cotidiano, condição social, falo como se eu estivesse falando de mim. Minha missão enquanto comediante é fazer o público esquecer dos problemas”, ressalta o artista.
“Aos comediantes, aqueles que vivem da arte do riso, desejo que continuem sorridentes e que consigam sorrir de si próprios”, finaliza Marlon Rossy.
*Sob supervisão da editoria de Cultura