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Nº 5882
Caderno B

No Dia Alagoano do Teatro, atores revelam desafios da profissão

Os profissionais também aproveitaram para falar sobre o atual momento das artes cênicas no Estado

Por Thauane Rodrigues* | Edição do dia 14/05/2023 - Matéria atualizada em 15/05/2023 às 16h08

Enaltecendo a memória da atriz alagoana Linda Mascarenhas e celebrando a resistência dos fazedores da arte teatral, o Dia Alagoano do Teatro, comemorado neste domingo (14), além de ser acompanhado de muita arte, vem também com reflexões sobre os avanços e desafios da classe teatral alagoana.


Das mais antigas à atual geração, o teatro de Alagoas vem se reinventando e se permitindo trilhar diferentes caminhos para manter acesa a chama dos espaços que acolhem a arte teatral. Com momentos de euforia e alguns de ressaca, desde a revolução de Linda Mascarenhas com a retomada do teatro amador até o impacto causado pelos dias quarentenados e pandêmicos, a vida dos atores e atrizes é um verdadeiro espetáculo de emoções.


O ator José Márcio é um dos alagoanos que embarcaram cedo no universo das artes e no turbilhão de emoções que a vida artística reserva. Apaixonado pelo teatro desde a adolescência, teve o prazer de conhecer e partilhar os palcos e vivências com Linda Mascarenhas. Já são 56 anos de resistência e paixão.


Sendo alguém que vivenciou os mais diversos momentos do teatro alagoano, o ator veterano afirma que na trajetória teatral os desafios são inúmeros, mas todos capazes de serem vencidos. Entre eles, estão os poucos recursos e a formação de profissionais.


“Basta boa vontade e seriedade para que o brilho chegue até o mundo das artes, as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, por exemplo, estão começando a dar conta do recado. Sobre a formação profissional, a Universidade Federal de Alagoas tem até um trabalho digno nesse sentido, mas é pouco. Sugiro um processo de troca de experiência entre profissionais da área, procurando o ir e vir de artistas que levem e tragam suas experiências para uma melhor preparação”, diz ele.


A falta de recursos para a classe teatral também é uma das queixas da atriz Wanderlândia Melo. Sendo um assunto complexo, a necessidade de um investimento maior na arte e na cultura é um dos pontos primordiais para que a arte alagoana siga avançando e evoluindo, de acordo com a artista.


“Tirando os editais emergenciais, que surgiram durante a pandemia da Covid-19, o último edital de incentivo municipal que tivemos para as artes cênicas foi em 2015. E esse é um desafio para os fazedores de arte, a falta do investimento no teatro impede que ele aconteça, que os espetáculos circulem além do que é proposto nos atuais editais”, contou ela.


Além da falta de investimento, outra questão que faz parte dos desafios das artes cênicas alagoana é a formação de plateia. Entre as nuances de promover a democratização da arte e de estimular a aproximação da nova geração, a Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (Diteal) tem trabalhado para incentivar a formação de plateia.


Um exemplo do trabalho realizado pela Diteal é a celebração do Dia Alagoano do Teatro, que durante a semana da data promoveu diversos espetáculos gratuitos e para alunos das escolas públicas. De acordo com o balanço da diretoria, após a flexibilização da pandemia e a volta das atividades presenciais, cerca de 50 mil pessoas já passaram pela plateia do equipamento cultural.


“Felizmente, percebemos que o atual momento do teatro de Alagoas é de grande potência. Na última semana abrimos as portas dos teatros para os diversos segmentos, um verdadeiro festival de arte, que proporciona que vários grupos estejam nos palcos e sejam também platéia dos colegas artistas”, diz Alexandre Holanda, gerente artístico-cultural da Diteal.


Com quase cinquenta anos de profissão, o ator veterano Chico de Assis revela que é um sonho, ainda não realizado, ver novos equipamentos culturais que abriguem as artes cênicas surgindo dentro da cidade, principalmente em bairros periféricos.


“Existem muitos bons e jovens profissionais surgindo dentro dos bairros mais esquecidos e que muitas vezes, reprimem o sonho de viver de arte por não ter um teatro perto de casa ou até mesmo uma escola de artes, temos a ETA, mas precisamos de muitas outras em diferentes bairros como o Benedito Bentes, o Vergel, o Tabuleiro”, disse ele.


Ainda para Chico, o cenário teatral alagoano vive um momento de bons frutos, onde cada vez mais os talentos de Alagoas traçam novos rumos e novos nomes surgem de uma forma brilhante.


Fazendo parte dessa nova geração de atores, Roberto Monttenegro ressalta a importância de desconstruir da mentalidade do público a limitação dos vídeos de 15 segundos para que a promoção da ideia de formação de plateia e do contato com a arte surjam também dentro de casa.


“Precisamos mostrar a necessidade da leitura, da visão de mundo longe das telas. Dessa forma será possível deixar toda a família em contato com a arte. São opções assim que podem estimular o surgimento de novos atores e, claro, de um novo público, que se deixe encantar com a magia do teatro. As crianças, sem sombra de dúvidas, são nossa porta de entrada para essa perpetuação”, afirma Roberto.


* Sob supervisão da editoria de Cultura.

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