É TEMPO DE FORROZAR
Amantes do forró pé de serra defendem valorização do ritmo
Fazedores de cultura revelam expectativas para temporada junina de 2023 e afirmam que artistas locais precisam de mais atenção

Com a temporada junina de 2023 a todo vapor, não pode faltar na festança aquele forró pé de serra, que é, ou deveria ser, a grande estrela do mês mais nordestino do mundo. O compasso da zambumba, do triângulo e da sanfona invade os corações dos amantes do autêntico forró e também dos artistas, que esperam o ano inteiro a chegada o mês de junho, o que lhes dá a oportunidade de viver intensamente o forró e ver pulsar a força da nossa cultura.
O artista alagoano Anderson Fidellis é um dos que embarcam na rotina intensa de shows durante a época junina. Apaixonado pelo ritmo desde a época de escola, quando a praça localizada próxima a Escola Estadual Tavares Bastos se tornou seu primeiro palco, o artista revela que, mesmo com toda a valorização do ritmo durante o mês de junho, ainda é necessário mais atenção.
“Estamos vendo um desmonte dos signos juninos nos grandes festejos pelo Nordeste, apesar do forró já ser Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro desde 2022. O forró deveria (e deve) ser preservado, caso contrário daqui há uns 30 anos, correremos o risco de termos somente a lembrança do que um dia foi o São João e o forró”, disse ele.
Buscando inspiração em Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca e Jackson do Pandeiro, Anderson Fidellis acredita que o surgimento da bandas de forró eletrônico e a chegada das novas moda musicais podem ser uma forma de reaproximar o público do forró raiz, como por exemplo, os remix que trazem músicas de Luiz Gonzaga de volta as playlists.
“Hoje não há um só lugar que eu não ouça uma mocinha ou um rapazinho pedir: 'toca Carolina?', Então, eu vejo que há espaço para todos, mas sabemos que há uma estética preferida do mercado. O que nos salva são as políticas públicas de cultura, que fomentam essa aproximação daquilo que é raiz com as novas gerações e o grande público. As folhas mais jovens de um galho precisam da força da raiz para se manterem vistosas e verdes”, afirmou ele.
Mesmo com o auge dos forrós eletrônicos, o artista conta que a agenda está puxada, para ele aparentemente as pessoas estão com mais vontade de festejar mais após ficarem sem dois anos de festa devido a pandemia. O mesmo é percebido pela banda “Zé Paraíba e Os Companheiros do Forró”, que iniciou a temporada junina deste ano com o pé direito e com todo gás para fazer um 2023 muito melhor que o ano anterior.
De acordo com Luciano Feitosa, um dos integrantes da banda, cada vez mais novos contatos estão surgindo. “As vezes achamos que as pessoas não vão mais querer ouvir forró pé de serra, mas temos nos surpreendido. Graças a Deus a agenda está melhor que a do ano passado, estamos tocando muito Luiz Gonzaga por aí”.
Sendo um dos maiores defensores da classe forrozeira de Alagoas e da preservação da memória do forró, o presidente da Associação dos Forrozeiros de Alagoas - ASFORRAL, José Lessa Gama, afirma que o ritmo precisa de mais valorização dentro do estado. De acordo com ele, Alagoas é muito importante para a história do ritmo, podendo ser considerada inclusive como responsável pela criação do mesmo.
Amante do forró desde muito novo, por influência da família, foi pensando em valorizar mais e divulgar a história do ritmo dentro de Alagoas que José Lessa criou o site Forró Alagoano, que há alguns anos vem se dedicando a expor mais ainda cultura nordestina e alagoana, reunindo notícias, fatos históricos e muita música.
Para ele, um desmonte na cultura popular vem acontecendo devido a falta de interesse dos gestores no forró pé de serra. “Estamos na época junina, o forró deveria ser o protagonista, os trios deveriam estar em destaque, mas os gestores optam por pagar cachês caros a bandas nacionais e esconder em palcos minúsculos os artistas locais que carregam a essência do forró alagoano”.
REVERENCIANDO NOSSO FORRÓ
Com o amor pelo forró passando de geração para geração e buscando uma maior valorização do ritmo, a fotógrafa Karol Lessa está com uma exposição no Centro Cultural Arte Pajuçara que revela através das obras fotos as belezas do forró alagoano.
Karol Lessa, que descobriu o amor pela fotografia a partir dos eventos que acompanhou com a Associação dos Forrozeiros de Alagoas, tem o amor pelo forró correndo nas veias e decidiu mostrar isso através da exposição ‘Reverenciando Nosso Forró’. Essa é a terceira exposição da fotógrafa.
*Sob supervisão da editoria de Cultura