Zé Lessa do Forró
Adeus a José Lessa Gama é marcado pelo som das sanfonas
Pesquisador, agitador cultural e articulador dos forrozeiros de Alagoas faleceu no último domingo (30)


De alma festeira e uma incansável força para lutar pelo forró alagoano, José Lessa Gama, ou apenas Zé Lessa para aqueles que aproveitaram os dias ao seu lado, deixou as terras alagoanas para realizar um grande forró no plano espiritual. Responsável por salvaguardar e compartilhar as belezas e histórias do ritmo nordestino, Zé Lessa dedicou sua vida a promover o forró de Alagoas e enaltecer os forrozeiros da terra.
Fundador e presidente da Associação dos Forrozeiros de Alagoas (Asforral), Zé Lessa cessou a batida da zabumba, o puxado da sanfona e o som do triângulo após sofrer um infarto fatal no domingo (30). Para consolar os corações e trazer música para o momento de tristeza, durante a segunda-feira (31), o agitador cultural recebeu as homenagens daqueles que o acompanharam e teve sua ida para o outro lado da vida ao som do ritmo que tanto amava.
Pesquisador e historiador do forró, o presidente da Asforral além de deixar boas memórias para aqueles que partilharam de sua companhia, também deixou um vasto legado com suas ações em prol dos forrozeiros, como o palco móvel, o bloco carnavalesco da Asforral e o maior acervo conhecido do forró de Alagoas. Durante anos, Zé Lessa compartilhou informações no site Forró Alagoano, onde proporcionou para os internautas momentos de conhecimento e muita música.
Sempre falando com extremo orgulho e amor do ritmo nordestino, Zé Lessa sempre contou com o apoio incansável da família nos dias de luta para incentivar a manutenção das tradições forrozeiras. Sua esposa, Rosiane, e a filha caçula, Karol, eram suas fiéis companheiras e, agora, responsáveis pela continuidade do legado do agitador cultural.
Para Ivan Basan, presidente da Asfopal, José Lessa foi o maior forrozeiro de Alagoas, mesmo sem saber tocar um apito. “Sua paixão pela cultura popular fez dele seu grande embaixador. Apaixonado, perseverante, fiel às tradições culturais de Alagoas, foi sempre uma voz firme e poderosa em defesa dos seus leais músicos, artistas forrozeiros, os quais liderou com muita energia e competência. A Cultura alagoana ficou órfã de seu incansável guerreiro Zé Lessa”.
Parceiros de luta, o forrozeiro Giseldo Romeiro afirma que o amigo respirava o forró alagoano e, mesmo com todas as adversidades de saúde, nunca deixou o projeto de lado. Para ele, o presidente da Asforral representou com todas as forças e do jeito mais sincero e apaixonado os forrozeiros alagoanos.
“Vi nestes últimos anos o forró florir com muita força e graça, devido ao trabalho árduo deste guerreiro e solidário amigo José Lessa, ele respirava e exalava o forró. Para José Lessa, o forró não era para ser tocado apenas no São João e sim o ano todo, pois é a cultura pura do nordeste”, disse ele.
Para o forrozeiro Anderson Fidellis, será difícil ver o forró sem Zé Lessa. De acordo com ele, a luta será ainda maior para que seu legado seja mantido, através da união dos forrozeiros.
“Conheci Zé Lessa há exatos 10 anos, e, de lá pra cá, eu tive a sorte de acompanhar não somente o trabalho do historiador Zé (que buscava entender a história do forró a partir das Alagoas) como também do Zé líder, à frente da Associação dos Forrozeiros, lutando por mais justiça nas políticas públicas de cultura e por mais visibilidade dos artistas nos projetos que desenvolvia, como o palco móvel. Que nós tenhamos força!”.
O jornalista Keyler Simões relembrou a chegada de Zé Lessa ao cenário cultural. “Em 2013 Zé Lessa percebeu que era o momento dos forrozeiros terem um CNPJ e a importância disso, então passou a organizar os artistas em reuniões e no ano seguinte, em 2014, fundou e foi eleito Presidente da Associação dos Forrozeiros de Alagoas, uma instituição que logo se tornou referência nacional, unindo os forrozeiros e amantes do ritmo, servindo como um porto seguro para todos, dos iniciantes aos mais experientes”, contou.
“José Lessa teve que sair deste salão, para dançar (como sempre), agora em companhia de seu ‘Lua’, nosso eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga, e de Dominguinhos, dentre tantos outros. Ficamos tristes com a sua partida, mas em respeito à sua dedicação ao forró, sabemos que o céu está em festa num rala bucho arretado e que sua despedida será ao som de muito forró, com os amigos Xameguinho, Messias Lima, Xexeú, Zé de Princesa, Abanos do Forró, Irineu Nicácio, Rogério Nicácio, Minhocão do Forró... e tantos e tantos queridos amigos e parceiros”, finalizou.