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Nº 5822
Caderno B

Médicas já são maioria na profissão em Alagoas

Segundo o Cremal, até abril deste ano, Alagoas contava com 7.148 médicos e, desse total, 3.852 são mulheres

Por Carolina Sanches | Edição do dia 14/06/2024 - Matéria atualizada em 14/06/2024 às 18h43


Pediatra Ana Carolina Pires (de branco) diz que medicina sempre foi o caminho que quis percorrer
Pediatra Ana Carolina Pires (de branco) diz que medicina sempre foi o caminho que quis percorrer - Foto: Cortesia

Nise da Silveira, Lily Lages, Maria Thereza Pacheco. O que esses nomes têm em comum? Ao menos três coisas: são mulheres, alagoanas, e pioneiras em suas áreas de atuação na medicina. As três também se formaram como médicas na Faculdade de Medicina da Bahia, uma das poucas existentes à época no Nordeste, e fizeram história, quebrando tabus em uma profissão em que os homens dominavam.

As alagoanas abriram portas para que mais mulheres pudessem realizar o sonho de exercerem a medicina, profissão que cada vez mais é escolhida por mulheres. E em Alagoas, por exemplo, nem existia Faculdade de Medicina quando Nise, Lily e Thereza Pacheco entraram na universidade. Atualmente, o estado conta com duas universidades públicas que ofertam o curso e outras particulares

Segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremal), até abril deste ano, Alagoas contava com 7.148 médicos e, desse total, 3.852 são mulheres, uma representação de 53,8% dessas profissionais no Estado. Quando se fala em capital, o percentual é ainda maior, 56%. Isso porque, Maceió tem, segundo o conselho, 5.803 médicos e, dessa totalidade, 3.273 são mulheres.

Uma dessas médicas que trabalha na capital é a Ana Carolina Ruela Pires. Mineira, ela diz que foi “adotada por Alagoas”. Chegou ao Estado em 2011 e, de lá para cá, percorreu alguns municípios do interior como Santana do Ipanema, Junqueiro e Arapiraca. Atualmente, ela, que é pediátrica, trabalha como coordenadora de internação no setor de Enfermaria do Hospital Geral do Estado (HGE). Além disso, ela é auditora médica de um hospital particular, professora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) e ainda é responsável pela gestão do programa de residência médica em pediatria do HGE.

Ana Carolina, hoje com 45 anos, entrou na faculdade aos 20 e se formou aos 26 anos. Ela diz que a medicina sempre foi o caminho que quis percorrer. Embora, diante dos obstáculos ao longo do curso pensasse em desistir em diversas oportunidades, ela diz que sempre soube que essa profissão faria parte de sua vida. “Aprendi a ser resiliente e paciente. Nem imaginava que essa habilidade seria fundamental para minha vida profissional”, conta a médica.

Ela diz que escolheu a medicina, mas a pediatria a escolheu. “Eu e as crianças temos uma conexão especial. Hoje, com quase 20 anos de estrada, consigo ver quanto meu servir não é direcionado somente às crianças, mas às famílias que chegam – ou seriam enviadas? - para que eu possa exercer o meu cuidado, olhando para o todo, para inteireza e à dignidade deles nesse momento de grande sofrimento, que é o adoecer”, expõe.

A pediatra se diz apaixonada pelo que faz. Mãe de dois filhos, de 8 e 12 anos, também afirma que, por vezes, carrega o dilema entre ter que se dedicar um dia inteiro àqueles que precisam de seus cuidados na medicina e deixar os pequenos em casa.

“Por muitas vezes me culpei por sair para cuidar de outras crianças no fim de semana, enquanto eles ficam em casa. Hoje percebo que nelas ficou a marca da minha dedicação, do meu amor pelo que faço, e a consciência de que ser mulher na geração delas é usufruir da liberdade de poder ser feliz, porque minha geração cresceu com a síndrome da mulher maravilha. E, nos permitir merecer o melhor da vida para além do trabalho tem sido um aprendizado exercitado diariamente”, relata a médica.

Cursos

A primeira Faculdade de Medicina de Alagoas foi criada em 1950, tendo seu primeiro vestibular em 1951. A primeira turma, segundo site História de Alagoas, foi composta por 15 alunos, sendo seis mulheres. Mas, bem antes disso, quando quem quisesse se formar na profissão tinha que ir para Salvador, Recife ou Rio de Janeiro, outras alagoanas não encontraram empecilho para fazê-las desistir.

Nise da Silveira, por exemplo, foi a primeira mulher alagoana a se formar em medicina. Tornou-se médica mais de duas décadas antes de Alagoas ter sua primeira turma. Ela entrou no curso com apenas com 16 anos, em 1921, e foi em 1926 que se formou na Faculdade de Medicina da Bahia, sendo a alagoana a única mulher do curso.

Nise também foi expoente na psiquiatria, sendo pioneira no tratamento humanizado a pacientes mentais, lutando em prol da política antimanicomial.

Alagoas também teve outros nomes importantes de mulheres na área médica, se já não bastasse Nise da Silveira. Nomes como de Lily Lages fizeram história. Lily, por exemplo, formou-se médica na Bahia em 1931. Em 1936, a alagoana se tornou professora universitária, sendo a primeira mulher na livre-docência em curso de medicina no Brasil.

Lages não esqueceu suas origens e trabalhou também como otorrinolaringologista em um consultório no centro de Maceió, na Rua do Comércio, atendendo também de forma gratuita pessoas que não tinham condições financeiras para pagar as consultas.

Já a alagoana Maria Thereza Pacheco, que nasceu na cidade de Atalaia, mas foi criada em São Miguel dos Campos, no interior do Estado, também fez história se tornando a primeira mulher médica-legista do país após se formar na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1953. Sua especialidade inicial foi obstetrícia e ginecologia.

Número dobra em 11 anos

Dados do estudo Demografia Médica no Brasil, levantados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), apontam que o número de mulheres médicas dobrou no Brasil nos últimos 11 anos.

Em 2011, a categoria contava com 141 mil profissionais do sexo feminino, número que passou para 260 mil em 2022.

Em março de 2023, o conselho já projetava para 2024 que as mulheres seriam maioria entre os médicos em âmbito nacional, com um percentual de 50,2 % da categoria profissional.

Os números de 28 de maio deste ano apontam que o percentual (49,91%) de mulheres ainda é minoria no país. Ao todo, o Brasil tem 575.930 profissionais, sendo 287.457 mulheres e 288.473 homens.

A perspectiva é continuar nos próximos anos, com previsão, segundo o estudo, que entre 2023 e 2035 ocorra um crescimento previsto de 118% de mulheres médicas, enquanto, entre os homens, o aumento será de 62%.

Ao menos em Alagoas, essa projeção já se concretizou, indo na contramão do país. E elas estão em maior quantidade também no setor público.

Nas unidades de saúde de administração do governo estadual, por exemplo, a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau) informou que 50,35% dos profissionais de medicina são formados por mulheres. As profissionais estão distribuídas em mais de 50 especialidades, contando, aproximadamente, com 1.240 médicas.

Já em relação aos médicos vinculados à Secretaria Municipal de Saúde de Maceió, de um total de 704 profissionais, 463, ou seja, 67%, são médicas e 241 são médicos.


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