ARTE E CULTURA
Ao som dos tambores
Maracatu Baque Alagoano completa 18 anos de história, espalhando cultura por todos os lugares


Completar um ano de luta é sempre motivo de comemoração, mas ultrapassar a maioridade de um movimento que batalhou assiduamente para se firmar na cena cultural de Alagoas, como o Maracatu Baque Alagoano, é algo digno de registro na história. O movimento foi fundado em 2007, por meio de uma oficina ofertada pelo Cenarte, com o mestre Wilson. Desde então, vem se empenhando em difundir essa expressão da cultura afro-brasileira em Alagoas.
Tornando pública uma cultura que esteve quase perdida na história de Alagoas, o grupo afirma ter enfrentado diversas dificuldades, desde questões financeiras para custear e manter as apresentações, até obstáculos para se firmar como um movimento artístico afro-alagoano.
“No início, o grupo enfrentou algumas dificuldades para se consolidar no cenário cultural alagoano e também para ser reconhecido no segmento das expressões artísticas afro-alagoanas. Por se tratar da retomada de uma expressividade forte, há muito tempo silenciada no estado, o grupo foi conquistando, aos poucos, a adesão das pessoas e a aproximação do público”, conta Hélton Walner, coordenador do movimento, que ressalta a participação de figuras importantes que colaboraram com o grupo.

“Além da aproximação do público, tivemos, em especial, o apoio das casas de axé do estado, como Pai Márcio e Mãe Vera, que foram figuras muito importantes nesse início do movimento”, lembra Hélton.
O coordenador acredita, também, que a chegada à maioridade é uma confirmação de que o movimento está colhendo os frutos de um trabalho árduo, contribuindo para a divulgação da cultura afro-brasileira em Alagoas.
“Acredito que ter chegado aos 18 anos com uma atividade sólida e crescente em Alagoas já é uma grande vitória. Quem faz cultura popular em nosso estado sabe das dificuldades que enfrentamos. Mas posso dizer que ver vários grupos de maracatu surgirem após o trabalho do Baque Alagoano também é sinal de que nossos esforços valem a pena a cada dia”, pontua.
Fundado por meio de uma oficina, o Maracatu Baque Alagoano manteve a tradição e, anualmente, realiza uma oficina gratuita, normalmente após o Carnaval, para captar novos membros para o movimento. O treinamento é aberto a todo o público e completamente gratuito. “Este ano já finalizamos a oficina, mas os ensaios são sempre abertos ao público, todos os sábados, a partir das 14h, na Praça Marcílio Dias, no Jaraguá”, conta Hélton.

O maracatu é uma expressão comum não apenas no estado de Alagoas, mas também em Pernambuco. Um dos motivos disso é a história que essas duas regiões compartilham, quando ainda formavam uma única capitania. Com o passar do tempo e a emancipação política de Alagoas, os costumes também se diferenciaram, surgindo o baque virado e o baque solto, como explica Hélton.
“Os maracatus de baque virado possuem uma cadência musical mais compassada, com marcações fortes dos tambores e um balanço mais dançante dos demais instrumentos”, explica, mostrando a diferença para o outro estilo: “Já os maracatus de baque solto apresentam uma cadência mais constante e um ritmo mais reto. Em sua origem, o maracatu é uma expressão afro-brasileira presente tanto em Pernambuco quanto em Alagoas, se considerarmos o período anterior à emancipação política do nosso estado”, finaliza.
Para a museóloga Cármen Lúcia, o movimento do maracatu no estado reforça a presença da cultura afro-brasileira no território, principalmente após episódios de preconceito ocorridos no passado.

“O papel do maracatu no processo de valorização da cultura afro-brasileira em Alagoas tem uma relevância especial, pelo fato de representar uma retomada, uma apropriação e um sentimento de pertencimento a uma manifestação que foi abafada por décadas, após a abominável Quebra de Xangô, ocorrida em 1912”, diz a museóloga.
Cármen Lúcia cita o valor de manter o Baque vivo no estado como uma expressão de um povo. A museóloga destaca, ainda, que o movimento, outrora enfraquecido, voltou de forma completamente revigorada.
“Sua importância ressoa nos quatro cantos de Alagoas, como um baque de resistência, entoado, sobretudo, pelos jovens, conscientes da importância política de salvaguardar a cultura afro — forma legítima da expressão cultural do povo brasileiro. E a força com que o maracatu voltou, neste século, entre nós, é uma prova da construção da permanência identitária da memória afro, com a representatividade que tem em nossa formação étnica e histórica”, diz.
O aniversário do Baque Alagoano não passou em branco e, em sua comemoração, a seriedade do movimento não foi deixada de lado. O grupo celebrou a data com uma oficina para receber novos batuqueiros e batuqueiras, além de realizar uma comemoração interna. Também foram iniciados os preparativos para a apresentação no Festival de Cultura Popular, que acontecerá em agosto.