Coração de Boi

O universo que cerca a cultura do bumba meu boi é tema de um curta-metragem que está sendo gravado em Maceió e que promete mostrar um pouco dessa cultura tão característica de Alagoas, em especial das áreas mais periféricas da capital. O filme ficcional Coração de Boi, além de tratar de um assunto tão relevante para a cultura local, também marca a estreia do ator maceioense Erom Cordeiro como diretor. As gravações já começaram e seguem até o dia 6 de maio, com locações nos bairros da Ponta da Terra e do Jaraguá.

A direção conta com a colaboração do alagoano Ricardo Oliveira, que é idealizador do projeto e assina o roteiro junto com o pernambucano Caio Macedo. Os dois também protagonizam a obra sob produção da Fuga Produções, acompanhados por Pedro Walisson, Wanderlândia Melo e Murillo Alves no elenco. A premiada diretora de fotografia Wilssa Esser também faz parte do time criativo do filme.

Coração de Boi mostra um dia de vida dos vaqueiros de bumba meu boi Zé (Ricardo Oliveira) e Duda (Caio Macedo), desde o fim do expediente dos seus respectivos trabalhos, passando por um cortejo na Ponta da Terra, até o concurso de bumba meu boi na Praça Dois Leões, no Jaraguá, onde eles disputarão um troféu. Um deles vai ganhar. Mas, no decorrer da história, percebe-se que, apesar de amigos de infância, por algum motivo eles alimentam uma rivalidade misteriosa que vai além dessa competição cultural. Segredo que é revelado no final do filme.

Ricardo conta que foi criado nos bairros da Ponta da Terra e Poço, em Maceió, e que é testemunha da riqueza cultural dessas localidades, que muitas vezes ficam invisibilizadas. O filme resgata um pouco dessa raiz e do quanto as pessoas envolvidas com essa manifestação cultural batalham para manter a tradição viva.

“Sou testemunha da riqueza cultural que ainda resiste nessa região e foi determinante para o meu entendimento identitário alagoano. Sou de uma época em que eu e meus primos saíamos em cortejo para arrecadarmos dinheiro de porta em porta para viabilizarmos a compra de materiais decorativos para o bumba meu boi da nossa rua. Era uma festa de autopromoção cultural, com muita magia, acompanhada de la ursas e jovens que tocavam percussão até mesmo improvisadamente com lata de tinta. Reviver isso é muito mais do que homenagear a minha infância, porque o folguedo é bem maior do que a minha experiência. Talvez seja uma forma de manifestar a existência cultural de um movimento que cresceu, enfrentou preconceitos e salva vidas de muitos jovens por meio da arte”, destaca o ator alagoano.

O contato dele com o universo do bumba meu boi muito se deve ao primo Durval Neto, o Dudu, que é fundador do Boi Anaconda, da Ponta da Terra. “Desde que idealizei o projeto, Dudu me ajudou a relembrar detalhes da cultura. Eu e Erom visitamos algumas sedes de bois que nos abriram as portas com o maior carinho, como a do próprio Anaconda, do Bumbá Alagoano, do Boi Safary, do Dragão e muitos outros. O Pedro Walison que interpreta a personagem Shakira – faz parte do boi Safary - e Murillo Alves apresenta o nosso concurso fictício e o da vida real em Maceió”, afirmou.

A preparação de Ricardo e Caio para interpretar os personagens também contou com a participação de vaqueiros de verdade, que ensinaram a dança característica de quem ocupa esse papel.

Estreando como diretor, o ator alagoano Erom Cordeiro, conhecido do público por seus papeis nas novelas ‘América’ e ‘Pantanal’ e nos filmes ‘A Divisão’ e ‘Doutor Gama’, entre outros, conta que já vinha alimentando o desejo de dirigir e de escrever. Apesar disso, fala que hesitou ao ser convidado para co-dirigir o curta, mas acabou sendo conquistado e até se “misturando” à história.

“Quando Ricardo me convidou para co-dirigir, hesitei, pois não era uma história minha, mas analisando com calma fui sendo conquistado e acabei me misturando a ela também. O universo do bumba meu boi povoou a minha infância em Maceió nos anos 80 e adolescência nos 90. Quando um boi aparecia perto de casa era uma comoção na garotada, uma mistura de medo e magnetismo. Daí vi que poderia contribuir com meu olhar e minhas lembranças também”, relata.

Ele cita a importância de promover o resgate da cultura popular e das tradições que às vezes ficam esquecidas, sem o devido reconhecimento. O filme traz isso e, apesar de ficcional, mostra o amor que as pessoas têm pelo boi e o envolvimento da comunidade com essa manifestação cultural.

“É muito inspirador o compromisso das pessoas que fazem parte dos bois em Maceió, que trabalham e suam para manter a tradição viva! As comunidades torcem e vibram e comparecem aos campeonatos. A paixão de cada grupo é bonita demais de se ver. E claro que a gente quer muito construir e captar a magia e a paixão que o boi desperta nas pessoas. Contamos a história de dois vaqueiros que dão o sangue por seus bois. Duda e Zé constroem e apresentam seus bois com muita gana e paixão pra fazer o melhor na rua e na arena”, fala Erom.

O ator e agora diretor diz esperar que o filme desperte a curiosidade das pessoas em relação a essa tradição tão rica em Alagoas.

Coração de Boi foi aprovado pela Lei Paulo Gustavo, através da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa do Município de Maceió.