MÚSICA
Disco eterniza dimensão histórica da turnê de Caetano e Bethânia pelo Brasil
Com 33 músicas, álbum ao vivo faz resumo do encontro dos irmãos baianos que lotaram arenas de futebol pelo país


De 2023 para cá, o cenário da música brasileira foi sacudido por três turnês de shows em grandes arenas de futebol. Antes um circuito que parecia reservado a nomes como Ivete Sangalo e os Amigos do sertanejo, o caminho se abriu para Titãs, Caetano Veloso e Maria Bethânia e Gilberto Gil, este ainda viajando com sua turnê de despedida. E o primeiro registro dessas iniciativas sai agora, com o álbum "Caetano e Bethânia".
Ao selecionar o encontro dos irmãos baianos para um modo apenas de audição, é possível dar atenção completa às vozes e aos instrumentos, sem que o ouvinte tenha que dividir isso com a imagem emocionante de ver seus grandes ídolos no palco, com performances vigorosas.
São 33 músicas no pacote. Caetano tem mais tempo no palco do que a irmã. E Bethânia canta um repertório majoritariamente escrito por Caetano, com poucas exceções. A distribuição das músicas no show vai além disso. Estão ali canções que fazem conexões entre as carreiras dos dois.
O disco abre com "Alegria Alegria", sucesso de Caetano no festival da Record de 1967, servindo como ponto de partida, e em seguida vem "Os Mais Doces Bárbaros", remetendo à mítica turnê que eles fizeram ao lado de Gilberto Gil e Gal Costa nos anos 1970. E a próxima é "Gente", um exemplo perfeito dessa proposta de mostrar suas intersecções musicais.
Já "Tudo de Novo", cantada na turnê na parte final do show, faz uma ponte direta com o álbum de 1978 "Maria Bethânia e Caetano Veloso Ao Vivo", precursor de um registro sonoro de apresentação da dupla.
Grandes hits pontuam o repertório. Caetano canta "Um Índio", "Sozinho" (canção de Peninha que ele elevou a outro nível de popularidade), "O Leãozinho" e "Você É Linda", aqui um dos momentos catárticos dos shows. Bethânia ganha o coral das plateias em canções como as dramáticas "Explode Coração" e "Negue".
Outra música empolgante dela é "Brincar de Viver", escrita por Guilherme Arantes para o especial infantil da TV Globo de 1983, "Plunct, Plact, Zuuum". Bethânia cantou essa música no programa e depois lançou em seu álbum "Romance", de 1985. Caetano apresenta uma faixa com histórico mais ou menos parecido: "Milagres do Povo", feita para a série global "Tenda dos Milagres", em 1985, mas que não aparece em seus discos.
Ainda falando sobre os hits, "Baby" é cantada pelos dois depois de uma fala emocionada de Caetano a respeito de Gal Costa, que eternizou a música. Ele diz que Gal foi "um eco da bossa nova e ao mesmo tempo o que a tropicália tinha de rock and roll".
E rock bate firme no cover mais inusitado da turnê: "Gita", o manifesto hippie humanista de Raul Seixas e Paulo Coelho. Com ela, Caetano e Bethânia brincam de "Toca Raul!" com a plateia. E eles seguram o pique roqueiro acelerado emendando essa música com "Vaca Profana". Bethânia tem um grande momento vocal em "Fé", sucesso da cantora Iza.
Além de outros sucessos, como "Tropicália", "Cajuína" e a empolgante "Reconvexo", o show tem a inédita, "Um Baiana", que Caetano escreveu durante a turnê e faz referência e reverência ao explosivo grupo BaianaSystem.
É a faixa que encerra o álbum, que reúne gravações de vários shows diferentes e contempla 33 das 42 músicas apresentadas durante toda a turnê. É o bastante para mostrar um retrato glorioso de dois irmãos responsáveis por uma boa parte da glória da MPB.