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CINEMA

Wes Anderson revê relação de pai e filha em filme que desafia as tarifas de Trump

Em 'O Esquema Fenício', que chega aos cinemas nesta quinta-feira (28), Benicio Del Toro vive um empresário megalomaníaco

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Filme com Benicio Del Toro é uma das estreias desta quinta-feira
Filme com Benicio Del Toro é uma das estreias desta quinta-feira | Foto: Divulgação

Benicio Del Toro já foi policial, traficante, agente da CIA, lobisomem, Pablo Escobar e o revolucionário Che Guevara. Não é estranho que o ator tenha ficado surpreso ao receber o convite de Wes Anderson para protagonizar o novo filme do diretor, conhecido pela ironia e pelos cenários precisamente decorados, como casas de bonecas.

"O Esquema Fenício" é o 12º longa de Anderson, e o quarto a concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes, onde o filme fez sua estreia mundial na semana passada. Nele, Del Toro dá vida a Zsa-zsa Korda, um empresário do leste-europeu que sofre multiplas tentativas de assassinato, mas sempre sobrevive.

As explosões e envenenamentos podem não matá-lo, mas geram uma grande crise existencial. Korda, então, procura por sua única filha, Liesl — entre nove meninos — para ajudá-lo a tirar do papel uma construção megalomaníaca no meio do deserto. Liesl é uma freira na véspera de completar seus votos, interpretada por Mia Threapleton, filha de Kate Winslet. A pinta sobre o lábio superior da boca a denuncia.

"O que muda o jeito de pensar dessa pessoa, que nunca mudaria, é a morte", diz Anderson, sobre o seu personagem de poucos amigos e, ainda assim, cativante. Korda construiu sua riqueza por meios duvidosos —corrupção, trapaças e até trabalho escravo, em exageros morais típicos do humor ácido do diretor. Ao mesmo tempo, é expansivo e excêntrico.

A inspiração para o personagem, além de megaempresários europeus fanfarrões como Aristóteles Onassis, foi o sogro de Anderson, um patriarca libanês afetuoso e, em suas palavras, assustador.

Com o terno e a gravata um pouco frouxos e um topete bem arrebitado, Del Toro parece ele próprio um personagem. "Korda é como um animal venenoso no começo do filme. Mas eu acredito que as pessoas podem mudar. Algumas não mudam, mas é possível", diz o ator, em entrevista. A afirmação diz um pouco também sobre seu arco como artista. Lembrado por ser o valentão ou o herói em filmes de ação, essa é a primeira vez que ele tem tantos diálogos em um longa.

O jeito de Anderson de filmar, ele diz, é como uma coreografia. Do movimento de câmera entre os atores ao cenário e figurinos milimetricamente detalhados, tudo acontece de forma cronometrada. "Wes não procura por risadas, mas por honestidade. Eu sei onde sento, o que falo e o que faço, mas ainda preciso reagir honestamente à cena", diz Del Toro, referindo-se aos diálogos absurdos.

Relação entre pai e filha é destaque no longa
Relação entre pai e filha é destaque no longa | Foto: Divulgação

Quando saem em busca dos investidores para o projeto de Korda, a jornada entre o empresário e Liesl acaba revelando mais sobre heranças familiares e a própria relação disfuncional entre pai e filha. Apesar de emocional, a trama também referencia, de forma sutil, o cenário político americano.

"Comecei a escrever esse filme esperando que fosse algo obscuro. Sobre um personagem que não está preocupado em como seu poder de tomar grandes decisões afeta populações, trabalhadores e paisagens", disse Anderson.

O triunfo do conservadorismo no berço de Hollywood deu o que falar no Festival de Cannes, onde "O Esquema Fenício" foi apresentado. "No passado, era obrigatório ir ao cinema para assistir a um filme novo. Todos compartilhávamos a mesma experiência, ainda que não tivéssemos a mesma perspectiva sobre ela", diz, em entrevista, Jeffrey Wright, que interpreta um dos investidores esquisitos de Korda.

O ator caminhou pelo tapete vermelho também para apresentar "Highest 2 Lowest", filme de Spike Lee que faz uma releitura da obra homônima de Akira Kurosawa.

"A tecnologia nos fraturou, e as implicações disso estão se revelando na forma que a política está caminhando. Como americanos, estamos fraturados, e isso tem sido intencional por uma tecnologia que não é impulsionada pelo desejo do bem-comum, mas pelo lucro".

Apesar de ter saído de mãos vazias da Riviera Francesa, o longa elucidou um mal-estar que assombrava os corredores do Palácio dos Festivais —as novas tarifas que Donald Trump quer colocar sobre filmes produzidos fora dos Estados Unidos. "O Esquema Fenício" foi gravado no Babelsberg, na Alemanha, reconhecido como o estúdio de cinema mais antigo do mundo e que já foi fábrica de grandes títulos da cinematografia mundial, como "Metrópolis", de Fritz Lang.

Procurar locações na Europa se tornou uma regra para Anderson, que é do Texas. "O Grande Hotel Budapeste", vencedor de quatro estatuetas do Oscar, foi gravado na pitoresca cidade de Gorlitz, entre a fronteira alemã e polonesa, e "A Crônica Francesa", em Angoulême, na França. Os panoramas específicos combinam com a minuciosa caracterização de seus filmes, entre planos simétricos e paletas de cores pastéis ou saturadas, que dão um tom fantasioso a suas narrativas.

"Não sou um especialista, mas 100% de tarifas faz parecer que ele quer ficar com tudo. O que sobra para nós? Ele pode prender um filme na alfândega? Não me parece que eles são transportados dessa forma", ironizou o diretor.

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