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MÚSICA

Sérgio Britto mira Rita Lee e o Brasil com estética 'bossa and roll' em disco solo

Cantor e compositor dos Titãs lança o sexto álbum longe da banda e amadurece sonoridade de bossa nova, MPB e pop

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Sérgio Britto chega ao seu oitavo álbum fora dos Titãs
Sérgio Britto chega ao seu oitavo álbum fora dos Titãs | Foto: Pedro Dimitrov/Divulgação

Um pouco de nostalgia, outro tanto de bossa nova e MPB, tudo feito com uma abordagem pop. É assim que Sérgio Britto, um dos três integrantes originais remanescentes na formação atual dos Titãs, chega ao seu oitavo álbum fora da banda, "Mango Dragon Fruit". Para ele, é a obra mais bem acabada de sua carreira solo.

"Recentemente saiu a coletânea ‘Best Of’. Ali tem as músicas dos meus discos pregressos que já apontam esse caminho. A música com a Rita Lee, ‘Purabossanova’, por exemplo, está lá", ele diz. "Agora, tive vontade de fazer um álbum com mais unidade. Sou muito associado a outras coisas, então resolvi deixar isso mais claro".

Cantor e autor de sucessos de várias eras dos Titãs, entre eles "Domingo" e "Epitáfio", Britto afirma que a mãe da sonoridade que ele busca na carreira solo é Rita Lee. A roqueira paulistana, morta há dois anos, cantou com ele a música "Purabossanova", a mais bem-sucedida canção solo do titã, lançada em 2013.

"Essa estética dela deu o caminho das pedras", ele afirma. "Ela tem um disco chamado ‘Bossa ‘N Roll’, gravou com o João Gilberto, mostrou que essa possibilidade existe. Não tenho intenção de fazer a ‘grande bossa nova’, com o peso que tem na cultura brasileira. Não é esse meu ponto. Quero me apropriar dela e fazer música dentro do meu vocabulário. Procuro minha maneira de fazer a bossa nova, de fazer essa mistura".

Britto inclusive gravou uma composição de Rita quase inédita em "Mango Dragon Fruit". Quase porque apesar de não ter sido gravada oficialmente, há um registro informal da cantora e seu marido, Roberto de Carvalho, ensaiando a música em estúdio. Carregada de saudades, "Eu Sou do Tempo" recorda com carinho um país da Rádio Nacional, das marchinhas de Carnaval, da Tropicália, da "bossa da Nara", dos "hippies comunistas", da "voz da Elis" e por aí vai.

A música também lamenta o cancelamento do Brasil enquanto país do futuro - ou, como diz a letra, o fim de um "Brasil da utopia". "Vivemos de utopias, e novas utopias podem ser criadas", diz Britto. "Mas a minha leitura da canção é essa. Tem muita gente decepcionada com o que vem acontecendo na política brasileira - seja qual lado você defenda. Perdemos o entusiasmo e a crença de que o Brasil estava no rumo certo. Acho que agora as coisas precisam ser reajustadas".

A bossa nova, diz Britto, tem sido deixada de lado. "Não se usa muito. Pode se fazer uma bossa nova solta ali no meio. Mas não conheço um artista jovem que se aproxime dessa linguagem, que tente desenvolvê-la. É algo que lamento, pois acho que é um patrimônio da cultura brasileira. Tem quem faça o repertório clássico, intocável. Mas usar para criar coisas novas, isso não vejo".

O Brasil é protagonista do disco nas percussões, todas relacionadas a ritmos nacionais, e mais explicitamente em faixas como "O Barquinho" - clássico da bossa nova que Britto reinterpreta com Roberto Menescal -, "Chequerê" - de autoria do músico Sinhô, um dos grandes compositores do país na década de 1920 - e "Tarsila". Esta última é uma criação instrumental do cantor dos Titãs tocada ao piano.

"Ela resgata umas coisas que remetem ao Ernesto Nazareth, àquelas valsas brasileiras", ele diz. "Quando comecei a estudar música, ao piano, eu tocava aquelas peças. Nunca fui um grande - e nem médio - instrumentista, mas tocava aquilo, e ficou em mim. Quis usar essas coisas, que são minhas, para criar uma identidade como artista solo".

Também participam de "Mango Dragon Fruit" gente como Ed Motta, em "Problemática, com Estilo", Fernanda Takai em "E Não se Fala Mais Nisso" e o Brothers of Brazil em "Bons Tempos Chatos". A música com os irmãos Supla e João Suplicy funciona também como uma resposta bem-humorada à nostalgia de Rita Lee em "Eu Sou do Tempo".

Nela, o lamento pela passagem do tempo feito pela cantora dá lugar à brincadeiras que remetem ao clichê roqueiro de sexo e drogas. "Foi tão bom, mas tão chato/ Muito pó, muito álcool/ Só faltou dar barato", diz a letra.

"É uma brincadeira com os dois sentidos que a chatice pode ter", diz Britto. "Muita gente da minha geração fala sobre os bons tempos de rock and roll, drogas e loucura, mas tem uma chatice grande também - o cara bêbado falando na sua orelha, você passar mal, não ter regra para nada. Não é só mar de rosa. E há também a chatice dos ‘bons tempos’ em que nada era possível, nada era permitido, nada acontecia. É tipo, ‘eu sou chato, mas você também é’".

Com "Mango Dragon Fruit", Britto vê amadurecida a estética que ele escolheu para se diferenciar do trabalho nos Titãs. "É o tipo de música de que gosto. Esse universo da bossa nova e MPB com pitadas de pop e até um pouquinho de jazz. Isso não tem espaço nos Titãs, uma banda de pop rock. Quando você faz uma carreira solo, acho importante se diferenciar, procurar uma linguagem própria. Não vejo sentido em você se repetir. A possibilidade de você fazer uma versão piorada da banda é grande".

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