ALAGOAS NA EUROPA
Cinema alagoano: ‘Filhas do Mangue’ vence prêmio em Portugal
Longa-metragem de Stella Carneiro é premiado por estúdio britânico e amplia a presença do cinema nordestino no mercado internacional


O cinema alagoano celebra mais uma conquista: o projeto de longa-metragem Filhas do Mangue, da diretora e roteirista Stella Carneiro, recebeu seu primeiro prêmio internacional no FEST - Pitching Forum 2025, em Espinho, Portugal. A obra, ainda em desenvolvimento, foi contemplada com um prêmio de pós-produção oferecido pelo estúdio britânico Bleat, com sede em Londres.
A premiação permitirá que parte fundamental do processo de finalização do filme, como edição, colorização ou mixagem de som, seja realizada fora do Brasil, em um dos estúdios mais respeitados da Europa.
“Foi muito bom ganhar esse prêmio, assim, é uma coisa que valoriza o cinema alagoano”, celebrou Stella, diretamente de Portugal. “Durante a apresentação, eu botei o mapa do Brasil e destaquei Alagoas. Estou, de fato, tentando representar a minha terrinha”, expressou.
Filhas do Mangue é uma obra de ficção com cem minutos de duração. O enredo gira em torno de Itamar, 46 anos, pai solo de quatro filhas: Clementina (13), Luma (16), Eurídice (20) e Simone (23).

Quando Simone, a mais velha, conquista uma bolsa de estudos no exterior, a já precária situação financeira da família se agrava. A ausência da irmã mais velha, no entanto, abre espaço para que as outras três jovens desafiem a rigidez do pai e busquem caminhos próprios — mesmo que isso signifique enfrentar as profundezas, simbólicas e reais, do manguezal que cerca suas vidas.
Segundo Stella, o filme “fala sobre resistência, liberdade e os limites entre cuidado e opressão”, temas universais abordados a partir de um território pouco explorado pelo cinema brasileiro: os mangues de Alagoas.
RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
Apesar de este ser o primeiro prêmio internacional do longa, Filhas do Mangue já vem trilhando um sólido caminho nos principais laboratórios e mercados do cinema autoral. O projeto foi selecionado pelo Lab Franco-Brasileiro de Roteiros Varilux, no Rio de Janeiro (2024), e participou do Laboratório CineMundi no Festival de Tiradentes (2025). Mais recentemente, representou o Nordeste brasileiro no programa Factory Cannes-Ceará, dentro do 78º Festival de Cannes, em 2025.
No FEST, Stella já era conhecida: em 2024, ela havia participado do evento com seu curta-metragem anterior. Este ano, retornou com o projeto do longa e integrou o programa de treinamento de pitching com o especialista Guilhermo — preparação que resultou na bem-sucedida apresentação do projeto no fórum internacional.
“Foi uma experiência incrível. A gente apresentou o projeto num cinema bem grande. É um festival que eu gosto muito”, contou a diretora.
Com a vitória no FEST e a possibilidade de pós-produção em Londres, Filhas do Mangue dá mais um passo firme rumo à sua realização, diz Carneiro, que tem defendido o projeto em diferentes plataformas e festivais.
A equipe do filme agora se prepara para as próximas etapas da produção, com os olhos voltados para a estreia em festivais e mostras ao redor do mundo. Enquanto isso, o mangue alagoano, com sua lama fértil e suas raízes profundas, já ecoa internacionalmente através do olhar potente de suas filhas — na tela e fora dela.
Em seu discurso de agradecimento, Stella citou Gilberto Gil, quando ministro da Cultura entre 2003 e 2005:
“Espero que todos aqui saibam o quão importante é a cultura. Muitos anos atrás, o ministro da Cultura no Brasil tinha uma frase que ficou muito conhecida: ‘A cultura deveria ser ordinária. Deveria ser servida como arroz e feijão que você almoça todos os dias. A cultura deve ser apreciada por todos, como uma necessidade básica’. E também digo isso”, pontuou Stella.