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Quadrilhas juninas

Amanhecer no Sertão é grande campeã do Nordeste

Quadrilha junina alagoana emociona o País, vence festival da TV Globo com espetáculo potente e recebe elogio da ministra Margareth Menezes

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| Foto: Divulgação

Há na manhã sertaneja, quando o sol realça a força e a beleza daquelas paisagens, uma espécie de encantamento único. Faz 23 anos que a quadrilha junina Amanhecer no Sertão, de Maceió, reproduz essa singularidade mágica nos palhoções, produzindo espetáculos com alma nordestina — inclusive na capacidade de se reinventar. Agora, o grupo do bairro Benedito Bentes, além de pentacampeão do Forró & Folia, celebra a vitória inédita no Festival de Quadrilhas Juninas da TV Globo. A final aconteceu no último domingo, 29 de junho, em Pernambuco, reunindo dez equipes de todos os estados do Nordeste.

O título veio com um tema improvável, desenvolvido com coragem, sensibilidade e apuro cênico: a violência contra a mulher. Com o espetáculo “Até que a morte nos separe”, a Amanhecer do Sertão conquistou o primeiro lugar na disputa, superando a piauiense Luar do São João (2º lugar) e a pernambucana Lumiar (3º). O enredo acompanha a trajetória de uma mulher vítima de violência doméstica que, amparada pela sororidade das suas iguais, rompe o ciclo de sofrimento e reencontra o direito à liberdade e à vida.

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| Foto: Divulgação

A proposta partiu do projetista David Perdigão e foi acolhida pela direção com entusiasmo e responsabilidade. “A gente já buscava um tema com cunho social, com essa pegada de impacto. Quando ele trouxe a ideia, a gente abraçou e apostou”, conta Diogo Santos, presidente e fundador da quadrilha.

Criada em 12 de abril de 2002, a Amanhecer nasceu do desejo de animar o bairro. “A ideia era juntar o pessoal da comunidade para fazer uma quadrilha e manter vivo o São João de rua. Meu pai sempre fez quadrilha, e a gente meio que herdou isso”, relembra Diogo. O que era para ser um gesto de continuidade cultural se transformou, aos poucos, num projeto de arte com potência transformadora. E, agora, num símbolo nacional.

A NOIVA CAMPEÃ

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| Foto: Divulgação

Interpretada por Michaelly Vieira, a noiva Maria das Dores foi o coração da narrativa. “Ela sofre violência verbal, física e sexual ao longo do arraial. É um papel de uma importância gigantesca. Eu não esperava que teria tanto alcance. Foi uma emoção intensa desde o início”, conta a quadrilheira.

A história tocou fundo porque também era espelho. Darlly Santos, que interpretou Maria Vitória, viveu na pele o que encenava. “Ela fala muito sobre mim. Vivi exatamente o mesmo que minha personagem. Mostrar que existe saída, que é possível pedir ajuda e recomeçar... isso não tem preço. Tenho recebido muitos relatos, e isso me emociona demais”, compartilha.

Para a noiva, a apresentação da quadrilha em Pernambuco foi um clamor coletivo. Michaelly recorda que o ginásio inteiro reagiu como se participasse das cenas, o que resultou em uma energia que ela define como única. “Na primeira música, o público já levantou. Quando houve a prisão do agressor, a plateia gritou ‘campeã’. Dali para frente, era só emoção. Choravam os dançarinos, a plateia, os bombeiros civis, os comentaristas... foi uma noite surreal”.

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| Foto: Divulgação

A conquista histórica emocionou o país e também chegou ao Ministério da Cultura. Em comentário no perfil oficial da quadrilha, a ministra Margareth Menezes celebrou:

“Parabéns a todos e todas que trabalham para a conquista de mais um título. VIVA OS QUADRILHEIROS E QUADRILHAS DO BRASIL! Viva o São João!”

De acordo com o grupo, a mensagem é a validação de que o caminho trilhado com amor pela tradição junina, mesmo com seus obstáculos, vale a pena.

Produzir um espetáculo com o porte do apresentado pela Amanhecer no Sertão exigiu um investimento alto. Somente neste ano, cerca de R$ 50 mil foram aplicados na construção de cenário, adereços, figurinos e equipe técnica. “O sentimento agora é de dever cumprido. Saber que o que a gente propôs funcionou é gratificante demais. Todo o trabalho, todas as abstenções, o sacrifício... tudo valeu a pena”, resume Diogo.

A quadrilha conta com cerca de 100 dançarinos e uma equipe robusta de bastidores. Todos partilham da mesma missão: fazer arte com propósito. “A gente costuma dizer que não faz só um espetáculo de São João. A gente transmite uma mensagem que pode salvar vidas. Entendemos essa responsabilidade”, finaliza o presidente.

FORRÓ & FOLIA: A JANELA ALAGOANA PARA O BRASIL

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| Foto: Divulgação

O sonho de ser a maior do Nordeste começou no dia 21 de junho, quando a Amanhecer no Sertão se tornou a pentacampeã do Forró & Folia, o mais tradicional festival de quadrilhas juninas do Estado e janela de Alagoas para o Brasil. Quem vence o Forró & Folia, que é promovido pela Organização Arnon de Mello (OAM) em parceria com a Liga de Quadrilhas Juninas de Alagoas (Liqal), se classifica para a disputa regional.

A vencedora Amanhecer no Sertão obteve 149,4 pontos, enquanto a quadrilha Santa Fé conquistou o segundo lugar com 149,1 pontos. A Dona Dadá ficou em terceiro lugar, com 148,0 pontos, seguida pela quadrilha Carnarraiá, que ficou em quarto lugar com 148,0 pontos. Na quinta posição, a quadrilha Fazendinha obteve 147,6 pontos.

O gerente de programação da TV Gazeta, Eduardo Carvalho, diz que a vitória da Amanhecer no Sertão representa a consagração do movimento junino alagoano e um reforço acerca da seriedade do Forró & Folia e de sua importância para a cultura de Alagoas. “Eles saem para representar Alagoas em Pernambuco e retornam com esse título. É um orgulho para toda nossa gente e, sem dúvidas, para a TV Gazeta e o evento Forró & Folia”, afirma.

“Em tempos em que as festas populares disputam espaço com outras formas de consumo cultural, a vitória da quadrilha é também um lembrete de que o São João pulsa, emociona e transforma. E, do Benedito Bentes para o Brasil, a voz que ecoa agora é de resistência, beleza e mudança. A conquista da Amanhecer no Sertão, hoje, é de todas as juninas de Alagoas e de todos os alagoanos. Vamos nos fortalecer e celebrar”, finaliza.

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