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Curta alagoano é selecionado no Festival de Cinema de Gramado

Primeiro filme dirigido por Luciano Pedro Jr., obra foi rodada em super-8 e inspirada em história real

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Imagem ilustrativa da imagem Curta alagoano é selecionado no Festival de Cinema de Gramado
| Foto: Divulgação

O curta-metragem alagoano O Mapa em que Estão os Meus Pés, dirigido por Luciano Pedro Jr., foi selecionado para a 53ª edição do Festival de Cinema de Gramado, um dos mais tradicionais e prestigiados eventos do audiovisual latino-americano. O filme fará sua estreia nacional entre os dias 13 e 23 de agosto, na serra gaúcha, concorrendo na mostra competitiva de curtas.

Escolhido entre mais de mil inscritos de todo o País, o curta é uma das 12 produções que integram a seleção oficial da categoria. A notícia foi recebida com entusiasmo por Luciano, que estreia na direção com uma obra autoral e intimista.

“Foi uma surpresa e uma felicidade muito grande. É o meu primeiro filme como diretor, e ter essa obra tão pessoal exibida em uma janela como Gramado é algo que me deu um aceso no coração”, conta. “Significa que esse projeto, por ser tão especial, encontrou um lugar à altura para ser compartilhado com o público”.

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| Foto: Divulgação

Rodado inteiramente em película super-8, o curta foi filmado em locações de Maceió, Barra de Santo Antônio e Porto de Pedras. A escolha estética está diretamente ligada à relação do diretor com a fotografia analógica.

“Sempre fui apaixonado por película. Já fotografava em 35 mm. Pensar que os grãos se movem para formar a imagem sempre me fascinou. A película tem um brilho próprio — na água, no espelho — algo que remete à memória, à fantasia, e que eu queria imprimir no filme”, explica.

Além de assinar a direção e o roteiro, Luciano também é o responsável pela direção de fotografia da obra. “Fotografia é algo que exerço no meu dia a dia. E quando conversamos sobre filmar em super-8, ficou claro que fazia sentido eu mesmo compor os quadros. Foi uma liberdade criativa total”.

A história do curta tem como ponto de partida uma experiência real vivida pelo bisavô do diretor, Sebastião, pescador e agricultor do litoral alagoano. Aos 84 anos, ele desapareceu em Maceió por seis dias e foi encontrado em Porto de Pedras, sua cidade natal — um percurso de mais de 120 km, feito sem explicações.

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| Foto: Divulgação

“Acho que o que mais me emocionava era perceber que, mesmo com 84 anos, meu bisavô tinha esse desejo de retornar ao lugar onde nasceu. Ele falava muito da praia, do roçado, da forma como vivia lá... E, depois de tanto pedir para voltar, e a família negar por não haver quem cuidasse dele, ele simplesmente foi. Esse desejo pulsante sempre me instigou a contar essa história”, revela o diretor.

No curta, Sebastião é interpretado pelo ator alagoano Igor de Araújo, cuja voz conduz a narrativa. “Essa é a essência do filme: revisitar paisagens internas, lugares que moram dentro da gente. E permitir que esse desejo nos coloque em movimento”, resume Luciano.

Transformar a memória em cinema também foi, para ele, uma forma de preencher um vazio familiar. “Cada pessoa tinha uma versão da história. Uns diziam que ele foi andando, outros que pegou carona. E ele nunca contou. Isso ficou como um silêncio. Cresci ouvindo essas versões e decidi fazer a minha própria, a minha perversão da história, através do cinema”.

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| Foto: Divulgação

Essa fabulação encontrou na película um meio ideal de expressão. “Sempre imaginei que, se eu encontrasse uma caixa com rolos de filme gravados por ele, veria as paisagens que viu. Por isso criei esse universo mágico com o super-8. A ficção e a poesia são formas de dar imagem a esse trajeto misterioso”.

CINEMA ALAGOANO

A realização do curta também reflete o amadurecimento do setor audiovisual em Alagoas. “Esse movimento se deu com organização. As pessoas passaram a buscar fundos, formação, profissionalização. A gente amadureceu com o tempo e passou a contar nossas histórias com mais técnica. Os frutos estão aí: já ganhamos o Festival de Berlim, a Mostra de Tiradentes, o Janela Internacional do Cinema. Estamos só começando, mas já mostramos a que viemos”, afirma.

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