DE ALAGOAS PARA O MUNDO
Renda singeleza de Alagoas brilha em evento internacional na Argentina
Mestra Sônia Lucena representa o Brasil e promove intercâmbio cultural com artesãs latino-americanas


A renda singeleza, uma das expressões mais delicadas e tradicionais do artesanato alagoano, ultrapassou fronteiras e ganhou destaque em um dos mais importantes eventos internacionais de artesanato da América Latina. A mestra artesã Sônia Maria de Lucena, reconhecida como Patrimônio Vivo de Alagoas, foi convidada para representar o Brasil no “Encuentro de Tejedoras y la Asamblea Mismear”, realizado entre os dias 23 e 31 de julho, nos Vales Calchaquíes, na província de Tucumán, Argentina.

Com mais de cinco décadas dedicadas à arte da renda, Sônia aprendeu os primeiros pontos ainda criança, com Dona Filó, em Marechal Deodoro.
“Nunca imaginei que aqueles pontinhos que aprendi com Dona Filó, onde eu fosse dar oficinas, ensinaria tantas mulheres e chegaria a ser Patrimônio Vivo de Alagoas”, recorda, emocionada.
Sua trajetória é marcada não apenas pela preservação da técnica, mas também pelo compromisso em repassar o saber tradicional às novas gerações.

Durante o evento internacional, Sônia participou da mesa “Materialidades, tecnologias e transmissão de saberes comuns”, ao lado de outras artesãs latino-americanas como Fernanda Villagra Serra, Angela Balderrama e Miriam Lera, com mediação de Ale Mizrahi. O encontro promoveu um intercâmbio profundo de técnicas e vivências entre mestres rendeiras de diversos países, fortalecendo a identidade artesanal e o vínculo cultural entre os povos.
A mestra alagoana também ministrou um workshop de renda singeleza na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nacional de Tucumán (FAU-UNT), promovido pelo Grupo de Investigação e Desenvolvimento em Têxteis (GDIT). A oficina, que reuniu cerca de 50 participantes entre estudantes e docentes, foi um sucesso.

“Na faculdade foi fantástico, tiveram muita facilidade de aprender. Muitos agradecimentos no término da oficina”, relatou Sônia, com alegria.
Além das atividades acadêmicas e artísticas, a imersão cultural na comunidade indígena das montanhas marcou profundamente a artesã.
“Me identifiquei muito com o povo indígena da montanha, energias fortes e positivas”, disse. Para ela, a experiência reforça o valor da renda singeleza como ferramenta de preservação e diálogo entre culturas.

Sônia leva consigo não apenas as linhas e agulhas, mas uma história de dedicação à arte. Desde os tempos em que acompanhava sua mãe, Marinete, à casa de Dona Filó, passando por projetos como Redobrando o Bico Singeleza e a Universidade Solidária, até a construção de polos de produção em municípios como Marechal Deodoro, Paripueira e Maceió, sua missão é clara: manter viva a arte que carrega no coração e nas mãos.
Atualmente residindo na Barra de Santo Antônio, ela sonha em implantar um novo polo de renda na Ilha da Croa.
“Gostaria muito de construir um polo aqui, com espaço para expor as peças nos hotéis Jangada e Lontra”, planeja.
Seu compromisso com o legado da cultura popular é também uma homenagem a mestres que marcaram Alagoas, como o folclorista Ranilson França.

“A partida de Ranilson foi muito sofrida para todos”, lamenta.
Para Sônia, a renda singeleza vai além da estética: é um elo entre gerações, um saber que precisa ser passado adiante.
“Enquanto eu tiver disposição, enquanto eu tiver a vista boa, enquanto eu tiver os movimentos nas mãos, eu vou tentar repassar o saber da renda singeleza”, afirma com firmeza.
Seu trabalho pode ser acompanhado pelo Instagram @singelezaalagoas, onde divulga as peças que produz e os projetos que integra. Com agulha, linha e memória, Sônia tece não só rendas, mas a continuidade de um patrimônio vivo do povo alagoano.