NOVO CORDEL ALAGOANO
‘Cordel dos Jangadeiros’ revive epopeia alagoana de 1922
Novo livro de Guilherme Ramos recria, em versos, a travessia histórica dos jangadeiros alagoanos, unindo memória, poesia e tradição popular


O professor e escritor alagoano Guilherme Ramos joga nova luz sobre uma história marcada por coragem e memória coletiva com seu mais novo lançamento, o livro Cordel dos Jangadeiros. A obra será apresentada ao público nesta quinta-feira (21), a partir das 18h30, no Villa Farol, na Avenida Dom Antônio Brandão, no bairro do Farol. Publicado pela SM Editora, o título integra a coleção nacional Brasil e Suas Vozes. A iniciativa reúne livros que dialogam com narrativas e tradições de diferentes partes do País, unindo literatura, história e educação para difundir, de forma acessível, o patrimônio cultural brasileiro.
A magia do cordel se encontra com a epopeia alagoana, narrando a história de quatro pescadores, condecorados heróis pela ousadia, resiliência e amor à pátria. Sem instrução formal como marinheiros, enfrentaram tempestades e turbulências no Atlântico em nome de seu Estado. Por mais de 100 dias, partiram de Alagoas no que ficaria marcado como uma verdadeira odisseia dos jangadeiros. O livro, voltado ao público infantojuvenil, recria a viagem real dos alagoanos, em 1922, que saíram de jangada rumo ao Rio de Janeiro em comemoração ao centenário da Independência do Brasil.
Ramos conta mais sobre seu processo de escrita e suas percepções acerca da jornada dos pescadores: “O que nos impressiona é a ousadia: homens comuns, com uma jangada frágil, encarando o oceano. E o detalhe é que tudo isso aconteceu no Centenário da Independência, ou seja, o Brasil estava tentando afirmar a sua grandeza e, de repente, Alagoas manda um gesto simbólico para a capital: ‘estamos aqui, fazemos parte dessa história, viu?’”.
POR TRÁS DO CORDEL
Além de escritor, Guilherme Ramos é professor e começou a escrever ainda na adolescência. Para ele, contar histórias é mais que profissão: é um exercício de preservar memórias e transformar vivências em arte. “Da adolescência para cá, escrevi sobre tudo. Nesse caso, foi uma evolução estética. Havia escrito dois livros (cheios de rimas) e queria me desafiar. E foi em 2019 que aconteceu. Com o objetivo de participar de um edital local de publicação para uma coleção infantil, escrevi e inscrevi o texto em um mês. Eu já tinha livros que possuíam sintonia com os elementos terra (Mateu Errante, Mateu Brincante) e ar (Estrela Raivosa) — só faltavam o fogo e a água; então esse novo livro deveria ter o elemento água como premissa. Aí, lembrei: ‘os jangadeiros alagoanos!’ e comecei a escrever”, diz o autor.
A escolha do cordel como linguagem vem da visão de um escritor que também é professor e se interessa pelo apreço das rianças à literatura e às histórias populares. Ramos ressalta que a narrativa rimada facilita a assimilação, especialmente por crianças. Essa estratégia já foi utilizada, conta, em outras obras infantis do autor.

“O cordel é um dos mais potentes instrumentos da nossa tradição oral e escrita. No fundo, acho que estou devolvendo essa história ao seu lugar de nascimento: o povo. Porque o cordel tem essa capacidade de circular de mão em mão, de boca em boca. Ele democratiza a memória, faz com que a epopeia dos jangadeiros não fique apenas em arquivos ou pesquisas acadêmicas, mas que possa ser contada para crianças, jovens, qualquer leitor que se encante com a cadência dos versos. E claro, também há um gesto de continuidade. Meu livro dialoga com uma tradição centenária, mas ao mesmo tempo a renova, a traz para o presente”.
HOJE TEM LIVE
Além do lançamento presencial na quinta-feira, o projeto prevê uma live nesta terça-feira, 19 de agosto, reunindo o autor, o ilustrador da obra, Eduardo Ver, e o gerente da coleção, Carlos Eduardo Braga, para apresentar os bastidores da obra e discutir o papel da literatura como veículo de memória e identidade cultural. É preciso preencher um formulário para participar, por meio do site smbrasil.com.br.
A história que inspira o livro é parte marcante do imaginário popular do Estado. Em 27 de agosto de 1922, os pescadores Umbelino José dos Santos, Joaquim Faustilino de Sant’Ana, Eugênio Antônio de Oliveira e Pedro Ganhado da Silva deixaram o porto de Jaraguá, em Maceió, a bordo de uma frágil jangada batizada Independência. O destino era a então capital federal, Rio de Janeiro, onde participariam das comemorações do centenário da Independência do Brasil. A viagem durou 98 dias e percorreu mais de mil milhas náuticas. Durante a travessia, os jangadeiros enfrentaram tempestades, mar agitado e dias de incerteza. A chegada ao Rio, em 2 de dezembro de 1922, foi celebrada como um feito de coragem e resistência, reforçando a imagem de Alagoas como terra de inventividade e bravura.

Para o autor, ver uma história tão ligada a Alagoas circular nacionalmente é uma forma de projetar a produção literária do Estado e inspirar outros escritores. “Mesmo quem nunca pisou em Alagoas vai sentir o cheiro do mar, vai ouvir o estalar das velas e a fúria das tempestades. O cordel é democrático, abre a porta da cultura nordestina e convida todo mundo pra entrar”.
*Sob supervisão da Editoria