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‘Invasion’ mergulha na alma humana em meio ao caos alienígena

Na 3ª temporada, série da Apple TV+ promete unir personagens em jornada que revela que o maior invasor pode estar dentro de nós

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Imagem ilustrativa da imagem ‘Invasion’ mergulha na alma humana em meio ao caos alienígena
| Foto: DIVULGAÇÃO/APPLE TV

Humanos olhando para o céu e descobrindo o abismo dentro de si. Invasion é menos sobre naves e mais sobre o ruído que nos habita, essa língua estrangeira que falamos sem perceber. O mundo racha, e o que escorre não é sangue verde: é a nossa solidão.

O primeiro choque da série não é um clarão no horizonte, mas a revelação íntima de vidas já em colapso antes da primeira queda do sinal. Uma médica descobre a infidelidade do marido e precisa proteger os filhos em um país que deixa de reconhecer. Um soldado sobrevive à guerra e retorna para uma casa que já não o acolhe. Um garoto de crises e visões pressente um padrão que ninguém mais quer enxergar. Uma engenheira perde o amor na órbita e tenta conversar com o silêncio. Cada núcleo se move como placa tectônica: lento, inevitável, gerando fricção, calor e ressentimento. O apocalipse chega como um sussurro que expõe rachaduras antigas. A palavra alien resiste a aparecer porque o inimigo não pousa de imediato. Ele nos imita. Ele nos traduz.

Há quem chame esse início de demora. Prefiro pensar nele como respiração. Porque Invasion acerta ao assumir que o medo real não cabe em cenas grandiloquentes. O medo vive nas escolhas pequenas que nos condenam: na mão que treme ao esconder o único artefato que poderia salvar outros, no impulso de proteger os nossos mesmo que o mundo inteiro arda. O drama não é desvio: é a tese. Não há heróis prontos, só pessoas atravessadas por uma pergunta que ninguém consegue formular sem gaguejar: quem éramos antes de eles chegarem, e o que restou de nós agora?

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| Foto: DIVULGAÇÃO/APPLE TV

A segunda temporada acelera como quem abre a janela para que a fumaça escape. Há destroços, perseguições, paisagens de guerra. O espetáculo finalmente aparece, mas o que o sustenta continua sendo a intimidade do desespero. A engenheira japonesa, agora obcecada, tenta acender um fósforo no escuro da colmeia que tomou o céu. O soldado carrega no peito um país em estilhaços e um casamento em suspensão. A família errante aprende a negociar com a culpa. O garoto, entre convulsões e vislumbres, vira fio condutor — uma antena humana, frágil e necessária. A série costura seus fios com mais pressa, tropeça aqui e ali, mas encontra um pulso que não trai a essência: somos criaturas de ligação. Até quando lutamos, queremos ouvir uma resposta.

O desenho dos invasores, entre orgânico e mineral, sem rosto, sem monólogo de vilão, é menos enigma biológico e mais espelho brutal. Se não entendemos o que eles querem, é porque raramente entendemos o que nós mesmos queremos. Eles operam por objetivos, como formigas imensas, e essa ausência de identidade nos devolve a pergunta proibida: o que chamamos de humano quando a luz acaba? O que resta quando tudo que definia a esperança se torna ruído? Invasion insiste com teimosia: a invasão maior não é a dos céus, mas a que reconfigura nossa gramática emocional.

Imagem ilustrativa da imagem ‘Invasion’ mergulha na alma humana em meio ao caos alienígena
| Foto: DIVULGAÇÃO/APPLE TV

Visualmente, a série exibe ambição. A câmera é paciente, quase meditativa, e de repente se lança em corridas que sujam a lente. Os efeitos não querem convencer da grandiosidade do universo, mas do peso do ar. O som vibra como um coração fora do ritmo. Quando funciona, a experiência é hipnótica. Quando falha, a acusação é de frieza. Entendo ambas as leituras. Invasion não quer agradar, quer incomodar. Propõe que cada episódio seja uma sala onde entramos acompanhados e saímos sozinhos.

Há um paradoxo belo no centro de tudo. Um acontecimento planetário deveria nos unir. Em Invasion, ele nos desorganiza até que sejamos obrigados a olhar uns nos olhos e admitir o que negamos por anos. O planeta treme e a pergunta vira oração: ainda é possível criar um “nós”? A série responde com cenas de quietude, pequenas lealdades improvisadas, traições que doem porque poderiam ser nossas. A humanidade aqui não é romântica: é trêmula, teimosa, mas capaz de acender uma lanterna na hora mais dura.

Chegamos à terceira temporada com a promessa de convergência. Personagens que orbitavam como satélites finalmente se aproximam de uma missão compartilhada, uma infiltração que pede menos bravata e mais escuta. A estreia, em 22 de agosto, não é só data na agenda. É a oportunidade de a série cumprir sua intenção primeira: fazer da ficção científica um espelho de inquietações íntimas, tornar palpável a sensação de que não pertencemos nem à Terra que lembramos nem ao futuro que desejamos. Se Invasion resistir ao conforto de resolver tudo com barulho, pode nos entregar algo raro: a experiência de habitar o intervalo entre o que fomos e o que poderíamos ser.

O que esperar: silêncio que pesa e gritos que não aliviam. Uma nave que é menos fortaleza e mais labirinto mental. Encontros sem garantias, separações que abrem espaço para decisões devastadoras. Não busque catarse. Busque vestígios de humanidade nas frestas. É ali que a série vive, arrisca e cresce. No gesto de nos fazer estrangeiros de nós mesmos, Invasion encontra seu coração — e talvez a sua grandeza.

A terceira temporada de Invasion (Invasão) estreia amanhã, 22 de agosto, na Apple TV+.

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