A poesia em Raul
Recital revisita obra de Raul Seixas em noite de música e poesia
Evento ocorre nesta sexta-feira (22), no Clube de Engenharia de Maceió, a partir das 20h


Trinta e seis anos após a morte do ícone do rock brasileiro Raul Seixas, sua obra é revisitada com uma nova perspectiva, no recital “A Poesia em Raul”. O evento, que ocorre nesta sexta-feira (22), às 20h, será realizado no Clube de Engenharia de Alagoas, na Rua Capitão Samuel Lins, no bairro do Farol. O evento é uma imersão nas canções do “Maluco Beleza”, transformadas em poesia declamada pelo curador, roteirista e diretor do projeto, o poeta e professor Ricardo Cabús. A atmosfera musical de Raul, que mistura rock, baião, misticismo e anarquia, será recriada ao vivo por Phillipe Seixas, um de seus intérpretes no Nordeste, acompanhado de Dinho Zampier e Victor Lyra.
“Raul foi um desses artistas que não coube no seu tempo, e talvez nem coubesse em tempo algum. Sua obra questiona padrões, provoca a ordem estabelecida e, ao mesmo tempo, abre espaço para que cada um se reconheça nas próprias inquietações. A irreverência dele é sempre um convite à transformação: de valores, de costumes, de modos de pensar a vida e a liberdade.” aponta Cabús.

O que mantém vivo um artista 36 anos após sua morte? O criador argumenta que não é a saudade, mas a potência de sua provocação. Para Cabús, a obra de Raul Seixas escapa do arquivo da música e se torna um instrumento de leitura do agora, onde suas críticas às estruturas de poder soam não como registro de uma época, mas como um questionamento permanente.
UM BREVE OLHAR SOBRE RAUL
Raul Santos Seixas (28 de junho 1945 - 21 de agosto de 1989) nasceu em Salvador, Bahia. Conhecido como Raulzito por seus amigos, foi um cantor, compositor, produtor e pioneiro do rock nacional, conhecido como o “Pai do Rock Brasileiro”. Foi um dos nomes em ascensão nos anos 1970, tornando-se um dos maiores artistas de sua geração. Sua música era a mistura do rock e dos ritmos nordestinos, como baião e forró, carregada de letras filosóficas, anárquicas, esoterismo e ficção científica.
O fenômeno Raul Seixas atravessou décadas. Sua obra não habita um único gênero; funde rock, baião, forró e filosofia, transformando-se em um artefato de questionamento, é um diálogo que interroga cada nova geração de ouvintes e contamina outras formas da produção artística.
“O Brasil continua sendo esse lugar de contradições, e Raul soube captá-las com ironia e coragem. A crítica dele ao sistema, à alienação, às hipocrisias sociais e políticas permanece absolutamente pertinente. É impressionante como canções escritas há décadas poderiam ter sido compostas ontem. Ao mesmo tempo, há em Raul uma dimensão de busca existencial que nunca envelhece: a pergunta pelo sentido da vida, pela liberdade, pela verdade de si mesmo. Talvez seja isso que o mantém tão vivo, ele fala tanto do mundo fora quanto do mundo dentro de nós”.
Ricardo Cabús argumenta que a obra de Raul Seixas opera em uma dupla dimensão: a de compositor de rádio e a de autor de uma poesia complexa, estruturada em camadas de significado. Para Cabús, a música de Raul dialoga abertamente com tradições literárias, do romantismo ao modernismo. “É possível identificar temas líricos clássicos, como a melancolia, a desilusão e a idealização do amor. Ao mesmo tempo, há uma apropriação de procedimentos modernistas: a linguagem coloquial, o humor, a fragmentação e a elevação do cotidiano à categoria de arte”, detalha.
De acordo com o professor, a dimensão poética na escrita de Raul é essencial para compreensão de sua obra. “Sua escrita não é mero adorno. É uma arquitetura de sentidos que exige um olhar atento. A poesia em Raul não está apenas nas palavras bonitas; está na provocação intelectual, na crítica social afiada e na construção de um universo simbólico próprio. É uma poesia para ser decifrada, não apenas ouvida”, conclui o curador.
A execução musical fica a cargo de Phillipe Seixas. Com trajetória que inclui ser a voz da banda Cachorro Urubu e, atualmente, os vocais no Som de Vinil, Phillipe se dedica há mais de quinze anos à desvendar e reivindicar o legado musical de Raul. A ele juntam-se Victor Lyra, músico, com apresentações constantes há mais de 20 anos, no cenário musical alagoano, e Dinho Zampier, tecladista e arranjador com raízes na Orquestra de Sanfonas de Alagoas.
A escolha do elenco não foi por acaso. Ricardo Cabús, idealizador do projeto, enfatiza: “O recital tinha que ser com o Phillipe Seixas. Phillipe é nosso Raul Seixas, há mais de um ano que estávamos tentando e agora deu certo”, conta. “Nosso foco principal é unir entretenimento e arte de qualidade. Contamos com músicos excepcionais, e meu papel é garantir que o público saia do recital com um sentimento de alegria genuína. Se cada espectador levar consigo um fragmento de felicidade, todo o esforço terá valido a pena”, afirma Cabús.
Os ingressos disponíveis a partir de R$ 20,00 pelo WhatsApp (82) 99986-7620 e (82) 98213-1705 e pela plataforma Sympla.
*Sob supervisão da editoria de Cultura