loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
sábado, 06/09/2025 | Ano | Nº 6049
Maceió, AL
28° Tempo
Home > Caderno B

FAROESTE MODERNO

Curta alagoano 'Ajude os Menor' representa Alagoas no festival de cinema de Brasília

Único filme do Estado na competição, obra busca o épico no cotidiano de um canteiro de obras em um western moderno que se passa em Maceió

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp
Imagem ilustrativa da imagem Curta alagoano 'Ajude os Menor' representa Alagoas no festival de cinema de Brasília
| Foto: Divulgação

É em uma Maceió recusada pelos cartões-postais, cercado por tijolos, andaimes e vãos sem parede, que um entregador de aplicativo observa o embate entre um engenheiro e um mestre de obras durante a pausa para o almoço. A cena, aparentemente cotidiana, ganha contornos épicos em “Ajude os Menor”, curta-metragem alagoano que será o único representante do Estado na mostra competitiva da 58ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que ocorre entre 12 e 20 de setembro. A sessão do filme está marcada para o dia 18, no Cine Brasília.

Dirigido e roteirizado por Lucas Litrento e Janderson Felipe, o curta é um desdobramento visual do conto homônimo presente no livro TXOW (Edipucrs, 2020), de Litrento. A transposição da literatura para o audiovisual intensificou a tensão original. “O conto já trazia uma tensão muito forte. O que fizemos foi aumentá-la a partir dos recursos do cinema”, explica Litrento. O projeto marca a segunda colaboração da dupla, que já havia dividido a direção em “Samuel Foi Trabalhar”, selecionado e premiado em diversos festivais nacionais.

Filme foi dirigido e roteirizado por Lucas Litrento e Janderson Felipe
Filme foi dirigido e roteirizado por Lucas Litrento e Janderson Felipe | Foto: Divulgação

O faroeste, gênero cinematográfico muitas vezes associado à fundação de nações, ao surgimento do banditismo e a disputas de território, serve aqui como lente para reencenar, em pleno canteiro de obras, o velho conflito de poder e classe. “Usar o faroeste como uma base para contar essa história, que nasce como um conto de suspense, é posicionar a nossa narrativa dentro de uma tradição contraditória e autoconsciente, como os filmes de John Ford, Glauber Rocha e Clint Eastwood”, afirma Litrento.

TIJOLOS E GATILHOS

Gravado em outubro de 2024, em um único andar de um prédio em construção na capital alagoana, “Ajude os Menor” tem 15 minutos de duração e foi filmado em preto e branco. A escolha estética não é apenas uma homenagem aos clássicos, mas uma estratégia narrativa. “O curta se passa quase inteiramente num andar de um prédio em construção. A escolha do preto e branco uniformiza ainda mais os elementos de dureza: tijolos e blocos, pás, tábuas de madeira, vãos, corredores sem paredes nem divisórias. O ambiente só reforça a violência e o contraste entre personagens que têm muito mais em comum do que pensam”, continua Lucas Litrento.

Imagem ilustrativa da imagem Curta alagoano 'Ajude os Menor' representa Alagoas no festival de cinema de Brasília
| Foto: MIK MOREIRA

Essa dureza das imagens encontra eco na estrutura da narrativa, que se vale de closes, silêncio e ritmo para ampliar a tensão. A ideia, segundo Janderson Felipe, era justamente utilizar a tradição do western como investigação estética e social. “Contar essa história como um faroeste é também uma forma de pensar um gênero que fala sobre fundação de cidades, identidade de um país, o início do banditismo urbano... É algo muito antigo e, ao mesmo tempo, muito presente nos dias de hoje”, observa.

Essa tensão atravessa também os temas escolhidos. Relações de trabalho, racialidade, masculinidades e especulação imobiliária, assuntos que já estavam em “Samuel Foi Trabalhar” e reaparecem aqui com novos matizes. “Acredito que em relação ao ‘Samuel’, a gente continua com os mesmos temas, mas agora tem menos inocência nos personagens, e a tensão perpassa por eles de forma muito contínua. Fazer um novo filme sempre parece querer acertar os erros do anterior e lidar com novos problemas”, reflete Janderson.

Imagem ilustrativa da imagem Curta alagoano 'Ajude os Menor' representa Alagoas no festival de cinema de Brasília
| Foto: MIK MOREIRA

Lucas complementa: “Chego até a dizer que, tematicamente, é o mesmo filme. Mas o que vemos na tela é algo completamente diferente. Aprendemos com os erros do filme passado, mas também com seus acertos. É como se fosse um movimento duplo: ser o mesmo e outro filme”.

O elenco mescla atores experientes, como Eron Villar e Luciano Pedro Jr., com novos nomes: Alaylson Emanuel, Caetano Vinicius Kedinha, Jiray e Phelipe Ribeiro. A produção é da Céu Vermelho Fogo Filmes, com apoio da Estranha Força, e marca a estreia da Neblina Indiscreta, produtora criada pelos próprios diretores. “É um passo natural. A Neblina Indiscreta nasce desse processo de assinar nossos filmes com nossa identidade e também como reconhecimento de profissionalização. Temos vários projetos para sair com esse selo, que continua em parceria com a Céu Vermelho”, diz Janderson.

Imagem ilustrativa da imagem Curta alagoano 'Ajude os Menor' representa Alagoas no festival de cinema de Brasília
| Foto: Divulgação

O filme foi realizado com recursos do Fundo de Desenvolvimento de Ações Culturais (FDAC), via IV Edital de Incentivo à Produção Audiovisual de Alagoas (2021), da Secretaria de Estado da Cultura de Alagoas (Secult), e da Lei Paulo Gustavo, através da Secretaria Municipal de Cultura de Maceió (Semce) e também da Secult estadual.

A dupla diz que a exibição em Brasília é uma conquista simbólica para o filme, mas principalmente um reflexo do momento do audiovisual alagoano. “Ter a possibilidade de estrear no Festival de Brasília é muito especial. É um festival que particularmente tenho muito carinho e marca um momento feliz do cinema alagoano, que está presente nos principais festivais do Brasil e do mundo”, afirma Janderson.

A equipe do filme "Ajude os Menor", gravado em Maceió
A equipe do filme "Ajude os Menor", gravado em Maceió | Foto: Divulgação

Para Lucas, é também a chance de provocar debates mais amplos sobre as formas de se fazer cinema no Brasil atual. “Fazer cinema negro (e cinema brasileiro) vai muito além de exibir denúncias. Existem várias formas de denunciar dentro de um filme de ficção. Acredito em obras que não se limitam às receitas do momento. Que possamos conversar tanto sobre o desejo genuíno de fazer filmes que gostamos quanto sobre o que se entende como cinema negro produzido no país”.

Relacionadas