Música e memória às margens do São Francisco

De 23 a 25 de outubro, Penedo se transforma novamente em palco, escola e altar durante o Festival de Música de Penedo (Femupe), que chega à 16ª edição com uma homenagem especial ao alagoano Hermeto Pascoal, que morreu em setembro, aos 89 anos. O multi-instrumentista, nascido em Lagoa da Canoa, receberá da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) o título de Doutor Honoris Causa in memoriam, entregue ao filho, Fábio Pascoal, durante a cerimônia de encerramento, no dia 25, no Centro de Convenções e Eventos Comendador Zeca Peixoto.

Durante três dias, a cidade ribeirinha será tomada por concertos, oficinas, recitais e encontros acadêmicos que entrelaçam pesquisa, formação e celebração artística. Organizado pela Ufal, por meio do Centro de Musicologia de Penedo (Cemupe) e da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc), o Femupe se firmou como um dos mais relevantes festivais do Nordeste. A cada edição, reafirma a vocação de Penedo como um território de produção intensa e de grandes eventos, como é o caso do Femupe e do Circuito Penedo de Cinema.

““Esse Festival é resultado do esforço conjunto da Universidade Federal de Alagoas, da Prefeitura de Penedo, do Sesc-AL, do Sebrae, do deputado Paulão e muitos outros parceiros. Estamos com uma programação bem diversa e concentrada em três dias de atividades, com a participação de acadêmicos e artistas nacionais e internacionais”, explica Marcos Moreira, coordenador-geral do evento e professor da Ufal.

A organização reforça que homenagear Hermeto Pascoal é celebrar um dos maiores símbolos da liberdade criativa nordestina, alguém que nos ensinou a não ter medo de experimentar o som e o silêncio. A programação reflete essa amplitude.

A abertura oficial, no dia 23, às 19h, no Theatro Sete de Setembro, reúne o Septeto da Lira Carlos Gomes, de Sergipe, a Banda Alphaville, de Penedo, e o Laboratório de Performance Musical da Ufal, em uma noite que combina tradição e juventude. A partir daí, a cidade se converte em uma partitura viva: igrejas, praças, casarões e largos abrigam recitais e apresentações gratuitas, abertas ao público.

No dia 24, haverá quatro momentos com atividades distintas. As atrações artísticas vão acontecer a partir das 16h, no Palco Sebrae, montado no Largo São Gonçalo Garcia, se apresentam o Grupo Barlavento, da Bahia; e Música Além do Som, de São Paulo.

Às 17h, será a vez do recital de violão, com Alessandro Penezzi, de São Paulo, na Igreja Santa Maria dos Anjos (Convento). Às 18h começa o Música nas Igrejas, um tributo a Arthur Moreira Lima, com recital de piano e participação de Leandro Cabral (SP), Saulo Gama (BA), Antônio Eduardo(SP); seguido do Imperial Coro de Penedo, com regência de Patrícia Albuquerque. Ambos na Igreja Santa Mariados Anjos.

A partir das 19h, no Teatro Sete de Setembro, começa a 4ª Mostra de Música Autoral do Velho Chico, com o Grupo de Saxofones da Ufal e abertura da cantora Érica Kaya, de Penedo. A mostra terá a apresentação dos cinco artistas classificados: Caio Rocha, Sherlly Moreno, Rasputin, Lito Di Santi e Joseph Lima.

Também no dia 24 acontecem as atividades científicas, das 14h às 17h, na Casa da Aposentadoria. Será o 10º Encontro Cemupe de Musicologia e o 8º Fórum de Educação Musical, com o tema Pesquisa musicológica entre o Rio Paraíba e o São Francisco. Haverá lançamento de livros, com selo Cemupe e Pimenta Cultural. Os convidados são a professora Karina Gomes e o professor Adler Tatagiba (UENF/RJ), com mediação da professora Ziliane Teixeira, coordenadora do curso de licenciatura em Música da Ufal, e do professor Marcos Moreira (Cemupe).

No mesmo local, também à tarde, haverá a conferência especial com o professor David Cranmer, do grupo de pesquisa Caravelas, da Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Ele vai abordar o tema O Caravelas e o Cemupe – Pontes transatlânticas, ano 3.

Ainda no dia 24, a partir das 16h, acontecem dois eventos on-line, transmitidos pelo canal do Youtube Cemupe TV: conferência com professor Rui Magno Pinto, do Grupo Caravelas, Universidade Nova de Lisboa, e o pianista Alexandre Dias, do Instituto do Piano Brasileiro, do Distrito Federal. Logo em seguida, será a vez do 4º Fórum Afro-brasileiro do Velho Chico, que terá conferência especial com o professor Joaquim Borges Gove, de Moçambique.

Além das apresentações, o festival também aposta na formação musical como eixo central. Serão 17 oficinas gratuitas, que abrangem desde instrumentos como violão, tuba, clarineta e percussão até temas como educação musical e cultura popular. As atividades acontecem nos dias 24 e 25, em diferentes espaços da cidade, e as inscrições seguem abertas no site do Femupe.

No sábado (25), a cidade acorda em compasso de festa. Logo cedo, o Septeto da Lira Carlos Gomes se apresenta no Theatro Sete de Setembro, seguido do tradicional Desfile de Filarmônicas, que percorre as ruas do Centro Histórico. À tarde, o Cortejo Afro-brasileiro, com os grupos Baque Alagoano, Timbodé e a Orquestra de Tambores de Alagoas, atravessa o coração de Penedo, em um dos momentos mais vibrantes do festival.

No fim do dia, o Palco Sebrae recebe o Trio Instrumental Penedo, enquanto o projeto “Portugal em Cena” ocupa a Igreja de São Gonçalo com o Iberian Ensemble e os músicos Sabino Martemucci e Jairo Brandão.

O encerramento, à noite, reúne emoção e memória: a entrega do título honorífico a Hermeto Pascoal, seguida do show de Nando Cordel, às 20h, no Centro de Convenções. O cantor e compositor pernambucano, conhecido por sucessos como “De Volta pro Aconchego” e “Isso Aqui Tá Bom Demais”, encerra o festival com um repertório de clássicos e canções dedicadas à paz. A entrada é gratuita mediante doação de 1 kg de alimento não perecível, que será revertido ao programa Mesa Brasil, do Sesc.