LITERATURA
Ana Maria Gonçalves prepara três novos livros para 2026 e celebra raízes na Bienal de Alagoas
Autora de Um defeito de cor destaca papel da literatura na reconstrução de narrativas e alerta para riscos do uso da inteligência artificial na criação literária


Com o brilho sereno de quem ocupa seu tempo entre palavras e silêncios, a escritora Ana Maria Gonçalves confirmou que três novos livros chegarão às prateleiras em 2026. O anúncio foi feito durante entrevista à Rádio Bienal, em sua participação na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
Autora de Um defeito de cor, romance que se tornou um marco da literatura brasileira, Ana Maria revelou que os novos títulos já estão prontos e aguardam apenas o tempo certo de florescer. “Sou uma escritora lenta; eu sou alguém que gosta muito de pesquisa. De burilar o texto, de deixá-lo descansar e depois volto a mexer nele. […] Acredito que, no próximo ano, saiam três livros de uma vez”, afirmou.
A escritora — que será, na próxima semana, a primeira mulher negra a tomar posse na Academia Brasileira de Letras — destacou o simbolismo de estar em Alagoas, terra onde as matrizes africanas seguem vivas na linguagem, na arte e na memória. “Como mulher do Axé, estou me sentindo em casa. Sinto uma energia maravilhosa. Viva a Bienal de Alagoas!”, declarou.
Ao longo da conversa, falou ainda sobre os desafios que cercam a criação literária no Brasil. “A literatura é uma das artes mais elitistas”, pontuou. Ela recordou o histórico controle dos grandes meios editoriais por homens brancos do eixo Rio-São Paulo, e defendeu a ampliação de vozes e perspectivas. “O que eu escrevo está dialogando com uma parcela muito expressiva da população brasileira”.
Sobre a presença da inteligência artificial no processo criativo, foi taxativa: “É um momento desafiador para os autores humanos, que envolve questões éticas e de autoria que nunca tinham sido imaginadas antes do surgimento da inteligência artificial”. Ana revelou que firmou contrato com cláusula que a impede de utilizar IA na elaboração de seu próximo livro.
Por fim, a autora também defendeu que a literatura fale a língua de quem lê hoje. “A língua é viva e patrimônio do povo. […] O importante é assegurar espaços para todos esses falares e formas de se expressar”.
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas. O evento segue até o dia 9 de novembro, no Centro de Convenções de Maceió.
