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'IMPROVISO'

Djavan faz jazz com a vida e brinda o amor em álbum que celebra seus 50 anos de carreira

Em "Improviso", artista alagoano transforma o amor, o erro e o tempo em matéria-prima sonora; show em Maceió ficou para o final de 2026

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“Improviso” mostra o estado de espírito do artista alagoano e antecipa a turnê “Djavanear 50 anos”, que terá Maceió como última parada
“Improviso” mostra o estado de espírito do artista alagoano e antecipa a turnê “Djavanear 50 anos”, que terá Maceió como última parada | Foto: MAR+VIN

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 101 Djavans em Alagoas. Mas, até onde se sabe, apenas um é capaz de transformar o amor em experimento sonoro. No Brasil, há 2.086 pessoas registradas com esse nome, no entanto, só um que faz dele verbo, e, do acaso, faz arte. É ele, o primeiro de seu nome, que chega hoje às plataformas digitais com Improviso, álbum de inéditas em que volta a brincar com as fronteiras entre o sentimento e o som.

Produzido, arranjado e dirigido por ele mesmo, Improviso é um disco sobre o que escapa ao controle, o amor que não se deixa domesticar, o verso que se escreve sozinho, o acorde que nasce do erro. “Ir atrás do amor é um jazz”, canta em “Um Brinde”, faixa que encerra o álbum e resume o espírito de suas 12 canções. Djavan continua perseguindo o indizível, nota por nota, palavra por palavra, improvisando a vida porque, do alto dos seus 76 anos e quase 50 de carreira, já entendeu: isso é que é viver.

Álbum já está disponível em todas as plataformas digitais e ganhou versão especial em vinil
Álbum já está disponível em todas as plataformas digitais e ganhou versão especial em vinil | Foto: MAR+VIN

O disco chega após o Brasil revisitar e até descobrir a história do alagoano, um dos mais importantes nomes da música popular brasileira de todos os tempos, por meio de Djavan O Musical, que recentemente passou por Maceió e segue lotando teatros país afora. O que o público encontra ali é a trajetória do menino que, nos braços de dona Virgínia, sua mãe, descobriu a natureza, a beleza de contemplar o céu estrelado da capital alagoana, e a musicalidade.

E chega também quando Djavan está prestes a celebrar 50 anos de carreira. Em 1976, um jovem de Maceió lançava A Voz, o Violão, a Música de Djavan sem imaginar que, meio século depois, o país inteiro ainda o chamaria apenas pelo primeiro nome. Agora, o artista prepara o retorno aos grandes palcos com a turnê comemorativa Djavanear 50 anos. Só Sucessos, que estreia em 9 de maio de 2026, no Allianz Parque, em São Paulo. O espetáculo passará por ao menos dez capitais. Em Maceió, o show será no dia 5 de dezembro do ano que vem, encerrando essa celebração de cinco décadas de carreira, com cerca de 25 canções que atravessam toda a sua discografia. “É óbvio que Maceió não poderia ficar de fora. Nós planejamos fazer algo tão especial quanto foi o show de D. Na outra turnê nós começamos aí, agora vamos terminar a turnê em Maceió. Será um encontro muito especial”, garante o mestre.

OUVIMOS

Imagem ilustrativa da imagem Djavan faz jazz com a vida e brinda o amor em álbum que celebra seus 50 anos de carreira
| Foto: MAR+VIN

Definir o que é djavanear é um desafio complexo desde que esse verbo surgiu. Mas fica mais fácil de entender quando Improviso começa. “Um Affair” abre o álbum com o impacto de um Djavan que canta um amor libertário enquanto convida, aos poucos, para dançar. O melhor da faixa é perceber que ele conseguiu de novo, criou algo tão seu e ainda assim tão fresco. “Um affair, do jeitinho que se quer / Não é pra todo mundo, não / Num harém, o pecado é de ninguém / Tudo é de graça / Nada se tem”, diz a letra.

Na sequência, “O Vento” é a única regravação do álbum. A canção foi feita em parceria com Ronaldo Bastos em 1987 e enviada para Gal Costa, que lançou a composição no disco Lua de Mel Como o Diabo Gosta. O triste fato de termos perdido Gal recentemente, em 2022, moveu o autor a trazer esta canção de volta, agora em gravação inédita na voz do cantor.

A canção seguinte, “Pra Sempre”, também é de 1987. O lendário produtor Quincy Jones pediu ao alagoano uma faixa para o álbum Bad, de Michael Jackson. Pop como só Djavan consegue ser, a melodia saiu rapidinho. No entanto, ele teve receio de enviar ao americano e só o fez oito meses após o prazo. Quase 40 anos depois, a música ganhou uma letra que homenageia o rei do pop.

Imagem ilustrativa da imagem Djavan faz jazz com a vida e brinda o amor em álbum que celebra seus 50 anos de carreira
| Foto: MAR+VIN

As notas incertas / Só falam de amor”, canta Djavan em “Improviso”, faixa que dá nome ao disco. Nela, o alagoano abre uma fresta para dentro de si. É confessional e rara. A canção costura dor e criação como se fossem a mesma coisa. O amor vira método para criar. E ele canta o que vai escapando de quem se permite sentir, o que não se ensaia. É o mestre alagoano se deixando ouvir por dentro. Vale parar para ouvir.

“Levei a Noite” é pura sofrência. Elegante, claro, é uma das canções mais bonitas do disco. O jornalista Marcus Preto, inclusive, definiu bem quando lembrou que “O gênero balada, aliás, é irmão da sofrência, filho da fossa e neto do samba-canção – ambiente em que Djavan tanto (e tão bem) cantou no começo da carreira, quando ainda era crooner em boates cariocas. Talvez por isso ele domine com tanta destreza esse território estético, que transforma tristeza em redenção”.

"Improviso" é o amor em seu último gole — e Djavan, o artista que ainda acredita no erro

Improviso oferece duas pérolas sobre amores que vingam. “Cetim” é o samba à moda de Djavan, mas de luz acesa, canta o início, não a perda. Já “Para Nunca Mais Esquecer” tem o tom de um amor recém-descoberto, leve e culto, que passeia por Paris. “Quando te vi celebrei / Oh, adorei, ouro em pó / O apocalipse que se instalou / Em meu ser”.

Em “O Grande Bem” e “O Escolhido”, Djavan se encontra como um devoto do amor sublime. Refém de sentir completamente. Ele sabe como criar esse clima. Na segunda, inclusive, há vocalizes que remetem ao sucesso “Fato Consumado”. Nessas faixas, Djavan lembra que, quando há amor, “eu quero ver você mandar na razão”.

Em “Falta Ralar!”, Djavan troca de corpo. É uma menina de quinze que fala, apaixonada por um rapaz marrento e que não sabe beijar. Ingenuidade e pressa se misturam. O compositor observa de fora e traduz o velho drama de crescer.

Já em “Sonhar”, a ternura cede lugar ao desalento. O sonho vira pesadelo. Djavan encara o mundo, o tempo da guerra e do medo, e ainda assim oferece um consolo: sonhar é insistir que a manhã virá. A faixa expõe o lado político do artista. No álbum D, esse mesmo olhar apareceu em “Num mundo de paz”.

“Um Brinde” fecha o disco de forma leve, mas diz muito. Foi a primeira a chegar ao público. Nela, Djavan parece brindar ao que viveu, ao que ainda busca. A canção é um retrato do seu estado de espírito atual, segundo ele mesmo, calmo, atento e entregue como nunca. É o amor em seu último gole.

Ouça aqui o álbum 'Improviso', de Djavan

Improviso foi gravado no estúdio Em Casa, do próprio Djavan, e conta com músicos fiéis que fazem o som do artista há décadas. Torcuato Mariano está nas guitarras e Marcelo Mariano, no baixo. Paulo Calasans e Renato Fonseca se complementam nos pianos e teclados. Na bateria, Felipe Alves. Marcos Suzano reforça o time, tocando percussão em “Um Affair”, “O Vento”, “Pra Sempre”, “Falta Ralar!” e “Cetim”. Esta última tem os “de casa” João Viana e Max Viana na bateria e na guitarra, respectivamente. João Castilho toca guitarra em “Um Brinde”. O trio de metais que abrilhanta “Pra Sempre”, “Falta Ralar!”, “O Grande Bem” e “Um Brinde” tem Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Marcelo Martins (sax tenor) e Rafael Rocha (trombone).

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Alagoas álbum Improviso amor e música Djavan história da música maceió música popular brasileira turnê Djavanear

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