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ENTREVISTA EXCLUSIVA

'Estou de tanque cheio': Djavan fala de amor, intuição e 50 anos de carreira em entrevista

Aos 76 anos, artista diz que não vai parar e anuncia turnê de 50 anos de carreira; Maceió recebe show em dezembro de 2026

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“Improviso” mostra o estado de espírito do artista alagoano e antecipa a turnê “Djavanear 50 anos”, que terá Maceió como última parada
“Improviso” mostra o estado de espírito do artista alagoano e antecipa a turnê “Djavanear 50 anos”, que terá Maceió como última parada | Foto: MAR+VIN

De acordo com o IBGE, há 101 Djavans em Alagoas. Mas só um deles transformou o próprio nome em verbo e a música brasileira em território de invenção. Djavan aprendeu a ler o mundo no rosto da mãe, a lavadeira que lhe ensinou a delicadeza e a resistência, e no céu estrelado de Maceió, que lhe soprou a primeira música. Meio século depois, ele lança Improviso, um disco de inéditas que devolve ao Brasil o Djavan que se move por intuição: aquele que faz da canção um território para o indomável, para o amor que não cabe num molde, para o sentimento que só existe quando escapa ao controle.

O lançamento do álbum coincidiu com uma rara maratona de entrevistas, em que o artista expôs feridas antigas e certezas de agora. Falou da mãe, Virgínia, por exemplo, dizendo: “Sinto muito não ter dado à minha mãe a vida que ela merecia”; revisitou episódios de racismo que marcaram sua trajetória e refletiu sobre o letramento racial que recebeu e o que transmitiu aos filhos. Não fugiu das sombras. Contou, por exemplo, a história absurda de quando foi preso ao tentar comprar um piano, questionou a contenção que a pessoa negra aprende para sobreviver, afirmou que a sociedade continua formatada para excluir.

E, ao mesmo tempo, reafirmou o que o move: a coragem de existir, de criar, de ocupar todos os lugares. Além disso, repetiu durante toda a semana: “o amor é a chave”.

Imagem ilustrativa da imagem 'Estou de tanque cheio': Djavan fala de amor, intuição e 50 anos de carreira em entrevista
| Foto: MAR+VIN

É desse homem, lúcido, inquieto, cheio de urgências, que vem Improviso, álbum produzido, arranjado e dirigido por ele, e que chega às plataformas digitais enquanto o país redescobre sua trajetória com Djavan — O Musical. Aos 76 anos, prestes a celebrar os 50 de carreira com a turnê Djavanear 50 anos. Só Sucessos, ele segue improvisando a própria vida, certo de que viver, amar e compor continuam sendo verbos inseparáveis. Em entrevista exclusiva à Gazeta de Alagoas, ele afirma: “Estou de tanque cheio”. E quem ouve o disco entende. Djavan ainda está só começando.

GAZETA DE ALAGOAS - "Improviso" sugere uma atitude de deixar fluir. Esse espírito se refletiu no processo de composição e gravação do álbum?

DJAVAN - Com certeza. E também é uma atitude que eu venho adotando na minha própria vida. A feitura de um álbum tem que ser uma coisa que flua, que transcorra de maneira espontânea e, principalmente, obedeça à intuição, entendeu? Fiz conforme foi caindo na minha mente. É aquela coisa do pão quente: saiu do forno, come. E é por isso que eu também não consigo fazer as músicas muito antes de gravar um disco, a não ser em um casos de uma regravação, como foi em “O Vento”. Mas as músicas foram todas compostas três meses antes de entrar em estúdio. A gente faz e grava, faz e grava.

A música que abre o álbum funciona também como uma chave desse seu disco tão apaixonado. Pode falar um pouco mais sobre “Um Affair”?

Eu quis abordar um amor libertário. Aquele amor cuja regra é o prazer. Você está feliz com o que tá rolando, então é ótimo, não é? Por isso que tem aquela frase “Num harém, o pecado é de ninguém. Tudo é de graça, nada se tem”. Estamos falando de um amor livre, libertário, como, eu penso, deve ser o amor.

“Um brinde”, a última música do disco, contou com uma ação, no TikTok, que pedia para os fãs improvisarem usando a melodia. Você chegou a ouvir essas improvisações? Como foi?

Eu não só ouvi, como fiquei muito feliz com o resultado. Eu descobri que o Brasil continua sendo um país repleto de talentos. Rapazes e moças com vozes bonitas, cantando bem, escrevendo bem. Para mim, o grande prêmio desse evento foi exatamente essa descoberta. Descobri que as pessoas estão aí, só precisam de uma oportunidade.

Álbum já está disponível em todas as plataformas digitais e ganhou versão especial em vinil
Álbum já está disponível em todas as plataformas digitais e ganhou versão especial em vinil | Foto: MAR+VIN

Esse movimento no TikTok me levou a pensar em como você vê as mudanças no mercado musical. Essa cultura da música curtinha te incomoda? Você já chegou a pensar em mudar alguma coisa na sua música para se adaptar?

Não, nunca. Absolutamente. Porque o que rege a minha música, o que rege o meu trabalho, a composição e tudo mais é a necessidade de fazer. Isso é muito claro para mim. É um processo orgânico até. Porque eu, quando acabo uma turnê, e não diria que isso é um mérito, estou num estado de exaustão tão grande que só uma música nova me salva, me tira daquele estado. Então, eu tenho que fazer. É uma urgência. Fazer música não é apenas um lazer e não é apenas um trabalho. O lazer é o ato de fazer, mas eu preciso fazer. Então, sento ali e faço. Ah, você não não tem que esperar a inspiração? Não. A inspiração não virá se você não precisar muito dela, se você não forçar uma barra para que ela venha. Por isso que dizem que a inspiração consiste em 10% apenas. Os outros 90% é de transpiração. E é isso mesmo, porque você tem que trabalhar, você tem que sentar num lugar, ter coragem, disposição. Fazer.

O seu público atravessa gerações e, hoje, tem muitos adolescentes descobrindo Djavan. Como você vê isso? Já chegou a ter uma troca com esse público mais jovem?

Isso é uma coisa que alegra qualquer cidadão, viu? Eu me sinto muito feliz. Cinquenta anos não são cinquenta dias. Eu sempre tive um público muito diverso do ponto de vista etário. Isso durante toda a minha vida. Sempre havia muito jovens buscando. Eu penso que isso tem mais a ver com a música do que comigo. A música é muito diversa, tem elementos para todos. Mas, sempre que eu paro para observar minha plateia, tem carinhas novas. O que eu percebo agora é que a idade está até diminuindo, tem até crianças. E muita gente de 16, 17 anos. Ontem, por exemplo, quando eu estava vindo de São Paulo pra cá, fui muito abordado por crianças, adolescentes, foi uma coisa de louco.

E falando em turnê, que você mencionou há pouco, teremos Maceió no roteiro da turnê de 50 anos? Como será?

Não tenha a menor dúvida. Na verdade, a gente tinha planejado encerrar a turnê em Maceió, porque a turnê do disco passado começou em Maceió, foi o primeiro show. Aquele momento inesquecível no Jaraguá, foi uma coisa muito bonita. E agora a gente queria inverter, queria encerrar.

Imagem ilustrativa da imagem 'Estou de tanque cheio': Djavan fala de amor, intuição e 50 anos de carreira em entrevista
| Foto: MAR+VIN

Pode adiantar alguma coisa? Local ou detalhes desse show?

Ainda não. Estamos trabalhando nisso e será um momento muito especial. Pode apostar. É claro que Maceió sempre estará no meu roteiro.

Voltando ao disco, se você pudesse apontar uma faixa pra gente começar a ouvir “Improviso” e que sintetiza o momento que você está vivendo hoje, qual seria?

Olha, eu diria “Um brinde”. Porque além de ser uma uma música que eu gosto muito, é uma música feliz, alegre. Brindar a vida, brindar a busca pela felicidade e tal. Eu acho que é uma bela música para simbolizar este momento e também tudo que a gente vive. A gente precisa brindar mais.

Em outras entrevistas, você já me falou que não pretende parar de trabalhar. Essa posição continua? Qual o seu combustível?

Eu tô de tanque cheio. Lhe garanto. Tô de tanque cheio. Não tem esse negócio de parar. Parar significa o quê? O fim. Eu não vou ter fim, entendeu? Eu quero continuar. Eu vou continuar, sem dúvida.

Imagem ilustrativa da imagem 'Estou de tanque cheio': Djavan fala de amor, intuição e 50 anos de carreira em entrevista
| Foto: MAR+VIN

O que você diria ao Djavan de 1976?

Eu diria o seguinte: Ô, cara, você tá segurando bem essa onda, hein? É preciso muita fé, é preciso muita alegria de viver. É preciso muita vontade de se expor a um desafio tão constantemente difícil que é uma carreira artística. Mas, depois, é isso que a gente vê, é uma carreira que eu considero bem-sucedida. Então, isso é uma alegria. Maravilha. Eu diria vá em frente. Coragem. Tudo vai valer.

Confira o visualizer da música "Um Affair"

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CulturaAlagoana Djavan djavanear50anos entrevista Improviso música brasileira

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